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Danzig nos Misfits de novo só com máquina no tempo, diz baixista Jerry Only

O baixista e vocalista do Misfits Jerry Only - Divulgação
O baixista e vocalista do Misfits Jerry Only Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, de São Paulo

26/04/2014 06h00

Quem vê Jerry Only em cima do palco, jaqueta de espetos, penteado exótico e o baixo adornado com uma caveira, dificilmente imagina o homem bonachão e bem humorado que se esconde por trás da carranca.

“Como está o tempo aí no Brasil? Confesso que não gosto de ficar muito tempo no sol hoje em dia. Gostava mais de ir praia na sua idade”, brinca por telefone com a reportagem do UOL o capitão do Misfits, que encerra neste domingo, em São Paulo, sua mais recente turnê brasileira.

“Vou passar meu aniversário no Brasil. Faço 55 anos. Já está convidado.” Longa, com mais de 40 números, a festa terá ares pouco saudosistas. A base do repertório da banda, completada por Dez Cadena (guitarra) e Eric "Chupacabra" Arce (bateria), pertence à fase mais recente, incluindo várias faixas do álbum “The Devil's Rain”, o último trabalho de estúdio. Clássicos como “Die, Die My Darling” e “Attitude” vêm apenas a conta gotas.

“Não me importo com quem pensa que o Misfits é hoje minha banda solo. Isso faz parte de ser o único membro original a permanecer. Acho que nossa música está melhor hoje”, diz Only.

Simpático, o vampiro/zumbi que comanda o Misfits muda o tom apenas para falar dos fantasmas do passado. Fantasmas que têm nome e sobrenome: Glenn Danzig. À revelia do ex-vocalista, Jerry remontou o grupo em 1995, após um hiato de doze anos. De brinde, ganhou a desconfiança de parte dos fãs, além de um novo capítulo na batalha judicial pelo uso do nome do grupo.

“Eu não tenho problemas com Danzig. Só acho temos responsabilidades com o mundo e com os fãs, de fazer as coisas certas para os garotos tomarem de exemplo”, diz Only, antes de rebater mais uma vez os cíclicos rumores de reunião. “Quem quiser ver o Glenn Danzig de volta vai ter que usar uma máquina no tempo. Se você tem 30 anos de idade, este é o Misfits que existe para você.”

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Ídolos Cult

Um dos grupos mais cultuados do punk americano, o Misfits é um raro exemplo de banda que extrapola os limites de gênero. Suas músicas já receberam versões de nomes tão dispares quanto Guns N´ Roses, Lemonheads e Superchunk. Apesar da inegável influência, o sucesso comercial nunca apareceu. E isso não parece tirar o sono de Jerry Only.

“Acho que sempre mantivemos nosso apelo. Esse sempre foi o nosso projeto. Nunca quis ter essa comodidade de tocar o que faz sucesso ou o que a maioria das pessoas quer ouvir. Quando compomos música do coração, ela sairá como o coração quer”, filosofa.

Embora tenha DNA punk, o Misfits passeou por vários estilos durante a carreira, do heavy metal ao rockabilly, mas sempre com letras e estética inspiradas em clássicos do cinema B e da cultura trash. Toda essa essência de horror, no entanto, contrasta com a fé e a própria postura de Jerry Only. Católico desde a infância, em New Jersey, ele não usa drogas, bebe pouco e não esconde ser o que pode ser chamado de "sujeito de família".

“Mas eu não fico empurrando minha fé para as pessoas. Não acredito nisso. Acho que você têm que encontrar algo que funciona com você. O que te faça sentir bem sobre si mesmo e na relação com os outros. Acho que isso é o que Deus significa.”

Sid Vicious

Além da fé, Jerry também é conhecido pela amizade com Sid Vicious, ex-baixista dos Sex Pistols. Ao lado do guitarrista Doyle Wolfgang, o trio quase formou uma banda em 1979, fatídico ano em que Vicious morreu, após sofrer uma overdose de heroína.

“Ele estava na cadeia. E a mãe dele estava cuidado dele, ajudando a conseguir um advogado.  Ele assinou os papeis para o Sid sair da cadeia e fomos embora todos juntos. Jantamos. Conversei com ele. E depois ele começou a receber uns amigos, entre eles o Jerry Nolan, do New York Dolls. Todos ficaram chapados e eu fui embora. Na manhã seguinte, descobri que ele tinha morrido. É uma história triste.”