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"É uma música feita com amor", diz Jairzinho sobre o trabalho do pai

Carlos Minuano

Do UOL, em São Paulo

08/05/2014 19h20Atualizada em 08/05/2014 23h46

Durante o velório do cantor Jair Rodrigues, morto nesta quinta-feira (8) após um infarto agudo do miocárdio, seu filho, o também cantor Jair de Oliveira, falou ao UOL sobre o último encontro com o pai. "Estivemos juntos pela última vez na semana passada. Tínhamos uma relação incrível". Jairzinho também comentou o trabalho do pai: "É difícil definir a música do meu pai, é um trabalho muito extenso, é uma música muito digna, feita com amor. Ele tinha um sorriso sempre estampadão no rosto. Em 39 anos, só vi meu pai bravo duas vezes. Seu legado é esse, sua música alegre".

Jair Rodrigues era conhecido por sucessos como "Deixa Isso Pra Lá" e por suas parcerias com Elis Regina e outros artistas.

O corpo de Jair chegou às 19h20 à Assembleia Legislativa de São Paulo, onde é realizado o velório do cantor. Jairzinho e o cantor Wilson Simoninha, que era muito próximo da família, ajudaram a carregar o caixão.

Inicialmente, o velório ficou restrito apenas a familiares e amigos, mas o espaço foi aberto para a entrada de fãs pouco antes das 20h. Por volta das 21h30, a viúva de Jair, Clodine, que havia sido medicada, teve uma indisposição e se retirou, acompanhada da filha, a cantora Luciana Mello. Segundo a assessoria da família, Clodine e Luciana só retornam ao velório pela manhã, por volta das 5h, para acompanhar o fim do velório e o cortejo, marcado para deixar a Assembleia por volta das 8h.

O enterro está marcado para as 11h de sexta-feira no cemitério Gethsemani, no Morumbi.

Durante o velório, o cantor Wilson Simoninha disse ao UOL que está arrasado e que lembra de Jair desde sua infância. "Ele e meu pai foram muito amigos. Lembro dele desde a minha infância. Ele é padrinho de um dos meus filhos, o Gabriel. Estou arrasado, além de amigo, era fã dele. Me lembro de uma ocasião muito especial com ele no Rock in Rio 2001. Só tinha uma garotada, que começou a gritar o nome dele. Ele desceu e foi ao encontro da plateia, e foi uma catarse".

O rapper Rappin' Hood também lembrou o amigo, que considerava o "pai do rap". "Nos conhecemos na Trama, em 1999, no mesmo dia em que estava acontecendo um ensaio lá do Jairzão. Ele me ouviu falar e veio falar comigo. Me perguntou se eu cantava rap. Disse que sim. Ele respondeu: 'Então você vai cantar agora'. Eu comecei a cantar e terminamos cantando juntos. Ficamos muito amigos. A última vez que estivemos juntos foi na gravação do 'Vem Aí', da Globo. Jair é o precursor querido do rap, mas participou de todos os estilos".

A cantora Simony, que nos anos 1980 integrou o Balão Mágico junto com Jairzinho, lembrou o bom humor de Jair, a quem chamava de "tio". "Sempre chamei ele de tio. Difícil acreditar que ele está ali. É uma perda muito grande, musicalmente deixou coisas lindas. E sempre tão alegre. Só lembro dele dando aqueles pulos. Era um palhaço. Esse ano está muito estranho. Estamos perdendo muito gente boa. E acho que esse é o ensino que ele deixa, que a vida é muito rápida e que por isso temos que fazer o bem e fazer as pessoas sorrirem".

Chorando, o cantor Supla relembrou o primeiro encontro com Jair: "Eu conheci ele em um dos primeiros programas que toquei, no Raul Gil, em 1986. Cresci ouvindo minha vó cantarolando a música 'Disparada'. Tenho muito respeito por ele, foi um inovador da música".

O apresentador Otávio Mesquita, que conhecia Jair desde os anos 1980, disse que está "triste e preocupado, porque está morrendo muita gente boa", mas também brincou: "Hoje, no programa 'Hebe no Céu', ela deve estar recebendo o Jair no seu sofá. E na plateia devem estar o Luciano do Valle, o José Wilker e o Eduardo Coutinho".

Raul Gil também esteve presente no velório. "O Jair foi um eterno moleque. Tem pessoas que não deveriam morrer.
Jair era um deles. Mas todos vamos, inclusive vocês que estão aqui nos entrevistando".

Ari Toledo, ao lado de Raul, perguntou: "E agora, o que vamos fazer sem ele?". "Nossos amigos que se foram ficaram alegres com ele no céu", respondeu Raul. E completou: "Quem quiser saber o que é viver feliz, que procure saber sobre a vida de Jair Rodrigues".

O apresentador Serginho Groisman contou que fará uma homenagem a Jair em seu programa, o "Altas Horas". "É uma pequena homenagem diante da grandiosidade dele", afirmou.

A morte

O assessor de imprensa do artista, Giuliano Spadari, afirmou ao UOL que o corpo de Jair foi encontrado por funcionários da família, por volta das 10h, na sauna de sua casa.

De acordo com o produtor e cunhado do cantor, Pedro Melo, Jair Rodrigues fez um check up no hospital Oswaldo Cruz há três meses, e não apresentava problemas de saúde. Ele cumpria normalmente a agenda de shows e sua última apresentação foi na terça (6), em Minas Gerais. Indiretamente, o músico também estava "em cartaz" em São Paulo, interpretado pelo ator Ícaro Silva, em "Elis, A Musical". O elenco prepara uma homenagem a ele na apresentação desta noite.

Melo contou ao UOL que o velório, que será aberto ao público mais tarde, tinha mesmo que dar chance para os fãs se despedirem, pois Jair era "um cara do povo". "Não seria agora que afastaríamos o público dele. Jair nunca se negou a dar um autógrafo ou abraço nos fãs. Ele adorava o que fazia e, se pudesse, faria shows todos os dias".

A notícia da morte do cantor repercutiu imediatamente nas redes sociais entre os colegas do samba, do rap e até da música sertaneja, à qual Rodrigues também se associou ao cantar "Disparada", na TV nos anos 60. "Foram muitos anos que a gente se relacionou em eventos. Ele irradiava alegria", comentou Chitãozinho à TV Globo nesta manhã.

Trajetória

Natural de Igarapava, interior de São Paulo, Jair Rodrigues iniciou a carreira musical nos anos 1950. Na década seguinte, alcançou o sucesso em programas de calouros na TV. Em 1964 gravou seu disco de estreia, "Vou de Samba com Você", que já apresentava um de seus maiores sucessos, "Deixa Isso pra Lá", considerado precursor do rap. 

Ao lado de Elis Regina, o cantor ficou conhecido no país inteiro. Seus duetos com a "Pimentinha" renderam três discos: "Dois na Bossa" volumes 1, 2 e 3, gravados ao vivo. 

O último trabalho do cantor, o disco duplo "Samba Mesmo", é uma homenagem ao samba e à seresta e foi lançado em fevereiro.