Topo

"Fico feliz por tocar para pessoas da nossa idade", diz líder do Mudhoney

Da esq. para a dir., Mark Arm, Guy Maddison, Dan Peters e Steve Turner formam o Mudhoney - Divulgação
Da esq. para a dir., Mark Arm, Guy Maddison, Dan Peters e Steve Turner formam o Mudhoney Imagem: Divulgação

Marco de Castro

Do UOL, em São Paulo

15/05/2014 05h00

Pode-se dizer que Seattle, cidade norte-americana do Estado de Washington, começou a entrar para a história do rock and roll em 1988, quando dois sujeitos, Bruce Pavitt e Jonathan Poneman, fundaram uma gravadora independente chamada Sub Pop.

Com o objetivo de explorar e divulgar a cena roqueira da cidade, que reunia bandas de garagem com influências do punk rock e do heavy metal e, principalmente, tinham como característica guitarras barulhentas e sujas, a Sub Pop, aliada ao produtor musical Jack Endino, foi responsável por lançar no mercado grupos como Nirvana, Soundgarden e Mudhoney. Todos formados por jovens de visual largado que tocavam um tipo de rock que depois ficaria mundialmente conhecido como grunge.

A palavra, que também acabou definindo o modo de se vestir e de se comportar de toda uma geração,  vem do adjetivo "grungy", que, em português, pode ser traduzido como seboso ou imundo. "Diziam que nossas bandas tinham um som 'grungy', que nossas guitarras eram 'grungy'. Sujas, distorcidas e bagunçadas. Alguém, de alguma maneira, fez com que isso deixasse de ser apenas um adjetivo para se tornar a palavra que definia o jeito de tocar guitarra das bandas de Seattle", explicou ao UOL, por telefone, Mark Arm, vocalista de uma das primeiras bandas lançadas pela Sub Pop, o Mudhoney. Nesta quinta-feira (15), o  grupo se apresenta em São Paulo no clube Audio como principal atração do Sub Pop Festival.

Iniciativa de duas produtoras brasileiras --a paulistana Inker e a goianense Construtora de Música-- o festival traz, além do Mudhoney, duas outras bandas que entraram mais recentemente para o catálogo da Sub Pop, a canadense Metz, de Toronto, e a novaiorquina Obits. 

"A Construtora nos procurou com a ideia de fazer um festival com bandas da Sub Pop, pois já havíamos trazido o Mudhoney para tocar no Brasil três vezes e já tínhamos uma relação de amizade e confiança com a gravadora. Quando falamos com a Sub Pop, eles adoraram a ideia", disse Fabiana Batistela, fundadora da Inker. "O Mudhoney era a banda que mais fazia sentido tocar no festival, pois está no selo desde o início. E foi o Mudhoney quem sugeriu o Metz como outra atração. O Obits já estava querendo vir tocar aqui".

A volta do rock anos 90

Com o surgimento de bandas como a novaiorquina Strokes e a escocesa Franz Ferdinand  nos anos 2000, que estouraram com um rock mais dançante, influenciado pelo pop da década de 1980, o som sujo de Seattle parece ter sido deixado um pouco de lado pelo público.

Nos últimos anos, porém, o grunge parece ter voltado a despertar o interesse das pessoas. Um exemplo disso foi o grande clamor em torno da entrada do Nirvana, em abril deste ano, no Rock and Roll Hall of Fame.

Banda de Seattle que mais vendeu discos ao redor do mundo e foi a grande responsável pela explosão do grunge com o álbum "Nevermind", em 1991, o Nirvana foi quem mais atraiu os holofotes na cerimônia, apesar de estar sendo homenageado ao lado de outros grandes astros do rock, como os veteranos do Kiss e Cat Stevens. Sua apresentação no evento contou com a participação da ex-baixista e vocalista do Sonic Youth Kim Gordon, e das cantoras St. Vincent, Lorde e Joan Jett, assumindo os vocais no lugar de Kurt Cobain, que cometeu suicídio em 1994. 

Além disso, grupos da era de ouro do rock de Seattle têm lançado material novo e feito turnês com shows lotados. É o caso do Soundgarden. Separada em 1997, a banda se reuniu em 2010 e foi uma das  principais atrações da última edição do festival Lollapalooza São Paulo, em abril deste ano. Já  a edição do ano anterior do mesmo festival teve entre seus headliners outra famosa banda de Seattle, o  Pearl Jam. Nas duas ocasiões, os nomes das bandas estavam estampados nas camisetas de grande parte de quem foi ao festival.

Questionado se notou essa volta do interesse pelo som grunge, o vocalista do Mudhoney desconversa. "Não tenho ideia. Não leio as mentes das pessoas (risos)", diverte-se Arm. Mas ele admite que, nas últimas turnês da banda, tem notado a presença de gente mais jovem na plateia.  "Nos nossos shows vai muita gente da nossa idade, que já curtia nosso som nos anos 90. Mas também vai gente mais jovem. Aliás, notamos que os jovens têm aparecido mais, o que é maravilhoso. Sabe, fico feliz por tocar para pessoas da nossa idade, mas é ótimo também tocar para gente muito mais jovem, que nos dias de hoje se identifica com a música que nós fazemos. Isso é bom."

Veteranos da barulheira

Com 26 anos de estrada, o Mudhoney tem até hoje três integrantes originais: o vocalista e guitarrista Mark Arm, o guitarrista Steve Turner e o baterista Dan Peters. Só o baixista, Guy Maddison, entrou depois, substituindo Matt Lukin em 1999. A banda nunca chegou a vender a mesma quantidade de discos que seus conterrâneos do Nirvana, do Soundgarden e do Pearl Jam. No entanto, ao contrário da maior parte dos grupos de sua geração e de sua cidade, jamais se separou ou sequer "deu um tempo". E, talvez, o motivo disso seja o Mudhoney nunca ter priorizado o sucesso comercial e, sim, a diversão. "Esse é o ponto. Se você não fizer música para se divertir, por que fazer, então?", resume Arm.

Sobre a longevidade da banda, que lançou o seu nono álbum de estúdio, "Vanishing Point", no ano passado, o vocalista diz não saber ao certo como eles têm conseguido durar tanto. "Não sei, eu acho que é o jeito como fazemos as coisas. Nós continuamos a fazer o que queremos e curtimos a companhia uns dos outros", disse, afirmando ainda que, durante toda a carreira, a banda nunca pensou em fazer algo diferente do que fazia quando surgiu, em 1988. "A música que fazemos é algo que surge naturalmente para a gente. É o que acontece quando nós quatro nos juntamos em uma sala."

O vocalista também não vê problema em, aos 52 anos de idade, continuar enlouquecendo e berrando no palco da mesma forma que fazia quando tinha 20 e poucos. Mas admite que já não usa mais drogas e hoje não bebe tanto quanto quando era mais jovem. "Eu bebo bem menos do que costumava. Hoje em dia não bebo mais para ficar chapado, só para apreciar a bebida (risos). Tenho bebido mais vinho e, às vezes, um pouco de cerveja."

Quanto à importância histórica do selo Sub Pop, pelo qual o Mudhoney lançou seis de seus discos --apenas três saíram pela Reprise Records, entre 1992 e 1998, durante a corrida de grandes gravadoras para assinar com bandas de Seattle--, o vocalista foge do assunto, talvez porque até hoje seja funcionário da gravadora. "É difícil para mim falar da importância de qualquer banda ou selo para o rock. Tem muita coisa envolvida nisso. A Sub Pop foi responsável pelo lançamento de alguns grandes álbuns de rock, outros nem tanto e outros que nem são de rock".

Já sobre a banda ser apontada como uma das pioneiras do grunge, Arm não nega. "Nós sempre fomos barulhentos e largados. E também somos uma banda que surgiu em Seattle nos anos 90 (risos). Quando começamos, queríamos fazer som punk. Mas, você sabe, o grunge também define isso."

Turnê sul-americana

Antes dos shows desta quinta, em São Paulo, o Sub Pop Festival passou por Santiago, no Chile, no último sábado (10), e por Buenos Aires, na Argentina, no domingo (11). Depois de tocarem na capital paulista, as bandas seguem para Goiânia, onde se apresentam no festival Bananada nesta sexta, com outras atrações. Fabiana Batistela, da produtora Inker, ressalta que, em São Paulo, haverá no clube Audio, além dos shows, venda de álbuns de vinil importados da Sub Pop. 

Mark Arm, que vem pela sexta vez com o Mudhoney ao país, conclui dizendo que acha sempre empolgante tocar por aqui. "Sempre tivemos experiências muito boas no Brasil. A plateia é incrível, muito divertida e entusiasmada."    

Sub Pop Festival: com shows de Obits, Metz e Mudhoney

Quando: 15/5, às 21h

Onde: Audio Club (Avenida Francisco Matarazzo, 694 - Água Branca São Paulo - SP. Tel. (11) 3862-8279 ou 3862-8224)

Quanto: de R$ 80 (meia entrada) a R$ 160