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Fazer música feliz é uma das coisas mais difíceis, diz líder do Afghan

Greg Valli, segundo da direita para a esquerda, se apresenta em SP e Porto Alegre com o Afghan Whigs  - Divulgação
Greg Valli, segundo da direita para a esquerda, se apresenta em SP e Porto Alegre com o Afghan Whigs Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

22/05/2014 07h56

O caso do Afghan Whigs parecia daqueles perdidos. Segundo entrevistas do vocalista e líder Greg Dulli, a cultuada banda alternativa de Ohio, que forneceu bases para o grunge, jamais voltaria após oficializar seu término, há 13 anos. O tempo, sábio, se encarregou de mudar os planos, e, após se reunir em 2011, o grupo enfim se apresenta nesta quinta-feira (22) em São Paulo, no Audio Club. É a primeira vez no Brasil.

“Fiz uma turnê acústica com o Mark Lanegan, com o The Gutter Twins, em 2009, e nos apresentamos em São Paulo. E eu tocava seis ou sete músicas do Afghan Whigs nesse show. Nos divertimos muito fazendo isso. E o John [Curley, o baixista] se juntou a nós em alguns shows. Foi uma experiência muito boa e natural. Não combinamos nada”, conta ao UOL, por telefone, Dulli.

“Não foi nada muito de caso pensado. Quando decidimos voltar, eram apenas dois shows, que viraram 70 e que acabaram se transformando em um disco novo de estúdio ['Do to the Beast', de 2012].”

Nesse hiato de uma década, Valli diversificou. Tocou com Mark Lanegan no Gutter Twins, se lançou solo, produziu outras bandas e até encabeçou uma turnê com o grupo italiano Afterhours, quando aprendeu a solfejar no idioma de Alighieri, sem saber exatamente o que estava cantando. "Acho que a música é universal, não importa o idioma. Veja o Sigur Rós, por exemplo. Eles criam a própria língua e são incríveis."

Em que pese, suas muitas incursões, a alma de Valli sempre esteve ligada à banda de origem. Prova disso é o setlist que levará aos brasileiros, praticamente só com faixas do Afghan, principalmente as dos clássicos “Congregation” (1992), “Gentlemen” (1993) e “Black Love” (1996) alicerces do rock alternativo. Além dos hinos “Turn On the Water”, “Fountain and Fairfax” e “Summer's Kiss”, haverá espaço também para o medley “I Am Fire/Tusk”, pinçada do repertório do Fleetwood Mac.

Outras surpresas, Greg? “Bem, não posso te contar, porque aí elas deixarão de ser surpresas”, brinca. “Como já toquei no Brasil, sei que haverá uma plateia muito apaixonada, que sabe as músicas, sabe as letras. E nós curtimos muito tocar assim.”

Conhecido pelas letras sombrias, que passeiam por temas como vício e suicídio, o músico não se vê como um homem depressivo, mas apenas como meio entre sua “luz” e sua “sombra”.

“Acho que todos somos a combinação de luz e escuridão. Você não consegue conhecer a luz antes de conhecer o escuro. E vice versa. Eu sou fascinado por historias de pessoas que não vivem na luz. E houve um momento da minha vida em que eu realmente não estava vivendo nela. Essa observação e a experiência em primeira pessoa sempre me inspiraram. Acho que uma das coisas mais difíceis como compositor é escrever músicas felizes.”

Elogiados pela apresentação no festival Coachella e pelo recém-lançado “Do to the Beast”, primeiro álbum em 16 anos, o Afghan Whigs voltou. E, para boa sorte dos fãs, é pra valer. “Nós definitivamente temos material para um novo trabalho. Não temos nada pronto ainda, mas temos um novo disco “acontecendo”. Após finalizarmos a turnê, imagino que haverá um processo de uns dois anos. Mas haverá, sim, outro disco.”