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Com chuva, erros e clima de ensaio, Jesus and Mary Chain conquista SP

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

25/05/2014 23h02

Com um set curto e debaixo de chuva, o Jesus and Mary Chain fez um show nostálgico e impactante, com direito a clássicos dos anos 1980, clima de ensaio entre os integrantes e até alguns erros, que não chegaram a comprometer o espetáculo no Memorial da América Latina, em São Paulo.

A apresentação gratuita, que marcou o encerramento do Festival Cultura Inglesa, durou cerca de uma hora e 10 minutos e exibiu a força pop do repertório da banda escocesa liderada pelos irmãos Jim (vocal) e William Reid (guitarra), que renovou o pós-punk britânico misturando guitarras distorcidas e melodias assobiáveis.

Trajando blazer e uma camiseta do álbum “Loaded”, do Velvet Underground –talvez a maior influência do grupo--, Jim mostrou carisma e entrega, o que em parte contradiz o rótulo que ele e e sua banda ajudaram a criar: o “shoegazer” (“olhador de sapatos”, alusão às performances sem interação com o público no início de carreira).

Sempre sério, ele agradeceu, conversou com a banda e até mandou beijinhos para o público, após os gritos um tanto contidos de “Jesus”. Carisma à moda inglesa, suficiente para conquistar os fãs que lotaram as dependências do Memorial.

Em algumas músicas, no entanto, a banda deu indícios de desentrosamento, já adiantado pelo próprio vocalista em entrevistas. Antes de vir à América do Sul em sua "Reunion Tour", os integrantes ficaram seis meses sem tocar. Em São Paulo, “Sidewalking”, “Halfway to Crazy” e “Just Like Honey”, precisaram ser repetidas após erros do vocalista e do grupo. Nada que provocasse vaias ou manchasse uma performance hipnótica e distorcida.

O selist foi democrático. Incluiu músicas de quase todos os discos de estúdio, exceção feita ao bom “Stoned & Dethroned” (1994), ignorado.

Embora abuse nos pedais distorcidos e na microfonia deliberada --menos do que nos discos, diga-se--, é em seus sons de apelo mais pop que o quarteto consegue engrenar ao vivo.

As clássicas “Head On”, “Between Planets”, “Just Like Honey” e a propícia “Happy When It Rains” emocionaram e arrancaram os mais efusivos aplausos da noite, de um público basicamente composto por trintões e/ou alternativos.

Outros destaques ficaram para “The Hardest Walk” e “Taste of Cindy”, ambas do influente “Pychocandy” (1985), que inauguraram uma espécie de bis meramente formal, já que a banda praticamente não saiu de cena. O encerramento ficou com a noise “Reverence”, talvez a música que melhor sintetize o rock britânico do início dos anos 1990, dançante e pré-britpop.

Após seis anos, debaixo d’água, com erros e tocando apenas 16 faixas curtas, o Jesus and Mary Chain fez um dos melhores shows de 2014. Que voltem agora “entrosados” e com a bênção de São Pedro.

Estreia galesa
Mais cedo, o grupo Los Campesinos! serviu como uma competente atração de abertura, mesmo sem conseguir despertar a plateia. Pela primeira vez no Brasil, os galeses apresentaram seu competente --mas não muito original-- indie, com influências de Jesus and Mary Chain e, principalmente, The Cure.

Veja o setlist do show do Jesus and Mary Chain:

1. Snakedriver
2. Head On
3. Far Gone and Out
4. Between Planets
5. Blues From a Gun
6. Teenage Lust
7. Sidewalking
8. Cracking Up
9. All Things Must Pass
10. Some Candy Talking
11. Happy When It Rains
12. Halfway to Crazy
13. Just Like Honey

Bis
14. The Hardest Walk
15. Taste of Cindy
16. Reverence