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Inspirados em coreanos, brasileiros formam primeiros grupos de B-pop

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

20/06/2014 05h00

No dia 7 de junho deste ano, o Rio de Janeiro foi invadido por milhares de adolescentes de cabelos e unhas coloridos, que queriam ver de perto os shows da diva Ailee e dos meninos dos grupos MBLAQ, SHINee e outros. Você pode nunca ter ouvido falar deles, mas esses artistas, que são representantes do K-pop, o pop coreano, colecionam milhões de fãs pelo mundo todo.

O que aconteceu no Rio indica o sucesso que o gênero, que mistura vários estilos, vem fazendo no Brasil há alguns anos. De olho nisso, jovens brasileiros se preparam para se lançar no mercado como os primeiros grupos de B-pop.

Um deles é o Champs, formado por Kenji, Diego, Shi, Ricky e Iago, que têm entre 18 e 22 anos. Os entendidos de K-pop logo identificam que os meninos, apesar de cantarem em português e em inglês, estão se inspirando nos astros coreanos, que em sua maioria são jovens, estilosos e exibem penteados impecáveis.

Todos esses grupos podem ser comparados a boybands americanas, como o One Direction, e até ao extinto grupo brasileiro Br'oz, mas, no caso do Champs, a inspiração também está na cultura coreana. Isso porque a forma como esses grupos são formados na Coreia do Sul é diferente. Depois de selecionados, geralmente por concursos, os candidatos passam por um rigoroso treinamento de até dois anos, antes de serem lançados no mercado. O mesmo aconteceu com o Champs, gerenciado pela empresa JS Entertainment, que escolheu os meninos em concursos realizados no início de 2013. 

Para que pudessem realizar seu sonho, os cinco jovens integrantes deixaram as suas cidades para morar juntos em uma casa em São Paulo. Vindos de diversas partes do Brasil, onde trabalhavam e faziam faculdade, eles deixaram tudo para trás e começaram a treinar canto, dança e teatro de segunda a sábado, das 8h às 22h30. Morador de Santos, Diego teve de pedir demissão da empresa do tio e desistir da faculdade para buscar o sucesso como cantor e dançarino. "Foi difícil deixar o emprego e, no começo, nossas famílias ficaram um pouco desconfiadas da empresa. Brincavam que seríamos sequestrados como em 'Salve Jorge'", contou ao UOL, referindo-se à novela global que tinha entre os seus temas o tráfico de pessoas.

Responsável pela formação do grupo e dono da empresa JS Entertainment, Alex JS Lee também contou à reportagem que deixar família, emprego e faculdade foi difícil para todos, "mas temos um objetivo em comum: mostrar o melhor trabalho e ter sucesso. Estamos correndo atrás disso", explicou Lee. Os meninos também decidiram não namorar nessa fase pré-lançamento, mas eles garantem que a decisão foi voluntária "para não tirar o foco".

Segundo Diego, a moradia, a alimentação e as aulas de canto, dança e teatro são pagas pela empresa, que investe pesado para que os garotos cheguem ao nível dos coreanos. O grupo passou dois meses em Seul e teve aulas com o coreógrafo do hit "Gangnam Style", Ju Sun Lee. Foi também em Seul que eles gravaram o clipe do primeiro single, "Dynamite", que contabiliza ainda modestas 150 mil visualizações no YouTube. Além da música do videoclipe, o grupo tem outra, "We are Champs", que fez especialmente para a Copa do Mundo. Um EP deve ser lançado em breve, e uma turnê é planejada para agosto deste ano. 

Queens - Divulgação - Divulgação
Hyunji, Gabi, Camila e Bia fazem parte do grupo Queens, inspirado em K-pop
Imagem: Divulgação

Rainhas independentes
Sem uma empresa por trás, mas com a mesma vontade de fazer sucesso, o grupo Queens, liderado pela cantora Camila do Ó, também tem planos de se lançar no mercado até o final deste ano.

Elas ainda não têm composições próprias gravadas, mas participam de concursos de K-pop com o cover de "Hush", do grupo coreano Miss A. Na música, elas se arriscam no idioma coreano. Para isso, Camila, Bia e Gabi contam com a ajuda de Hyunji, a única coreana do grupo.  Ainda neste ano, elas representarão o Brasil em uma competição na Argentina. 

Independentes, as quatro integrantes do grupo não moram juntas. Gabi, por exemplo, mora em Recife e vem para São Paulo periodicamente para ensaiar as músicas e coreografias. "Claro que ser independente é muito mais difícil, mas, como temos vontade, queremos juntas chegar ao mesmo lugar", disse Camila, que também explicou que Gabi se mudará para São Paulo no fim do ano, o que facilitará os encontros.

Diferentemente dos meninos do Champs, elas continuam nos seus empregos e faculdade, pois o sucesso não é garantido. "Queremos viver disso, mas não deixamos nosso projetos porque não sabermos como será o futuro", contou ela.

Em comum, Champs e Queens dizem que ainda não foram lançados no mercado por querer fazer tudo direito. "Alguns pedem para a gente se lançar logo, mas não queremos deixar as coisas pela metade", disse Camila. Diego tem um discurso parecido. "A gente ainda não sabe quantas músicas o álbum terá porque não queremos deixar nada faltando."