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Mais madura, Pitty mantém energia adolescente em show de "Sete Vidas"

Tiago Agostini

Do UOL, em São Paulo

10/08/2014 08h40

Sete é um dos números cercados de maior mística no imaginário popular. As maravilhas do mundo, as cores do arco-íris, os mares, os pecados capitais, são todos sete, tal qual as vidas de um gato, que Pitty tomou emprestadas para batizar seu último disco, o primeiro de rock em cinco anos - período em que, ao lado do guitarrista Martin, ela se aventurou por ares mais calmos e lúdicos com o projeto Agridoce. No show de lançamento de "Sete Vidas", neste sábado (9), no Áudio, em São Paulo, a cantora, no entanto, mostrou que, apesar dos iminentes 37 anos e do tempo longe dos palcos, manteve intactas a disposição e energia ao vivo.

A fila de quadras que se formava na avenida Francisco Mattarazzo, na zona oeste da cidade, onde se encontra o Áudio, já dava noção da importância da noite. Pitty é um dos últimos grandes ídolos do rock brasileiro a estourar nacionalmente, o que garante casa lotada e acompanhamento quase integral do público cantando a letra durante uma hora e meia de show. O comportamento, no entanto, já não é o mesmo: se há cinco anos o público recebia a cantora aos gritos de "Pitty, eu te amo", o que transformava o espetáculo em uma espécie de show da Xuxa para adolescentes, agora os gritos se resumem a entoar o nome da cantora. Pitty amadureceu no tempo em que ficou longe dos holofotes com sua faceta roqueira, e seu público cresceu junto.

Passavam-se quase três horas da abertura dos portões quando o telão mostrou imagens de uma robótica Pitty explicando a simbologia do número sete. Bastaram os primeiros acordes de Sete Vidas, músicas que dá nome ao álbum, para toda a impaciência do público evaporar. Tal qual fazia há cinco anos, na turnê de Chiaroscuro, a cantora escolhe o hit de seu novo álbum para abrir o show, mostrando, com a força do coro da plateia, o tamanho de sua adoração. Na sequência, Anacrônico, Admirável Chip Novo - com a casa quase vindo abaixo - e Semana que Vem surgem, para delírio coletivo.

"Sete Vidas", o disco, representa uma evolução clara na carreira da baiana. Mais coeso e denso que seus antecessores, o álbum traz uma sonoridade que Pitty buscava desde Chiaroscuro. Mais soturno, ele também reflete as turbulências da vida pessoal da cantora, que perdeu o ex-guitarrista Peu, que cometeu suicídio em maio de 2013, enfrentou uma ida à UTI devido a uma disfunção hormonal, e viu seu antigo baixista, Joe Gomes, abrir um processo judicial contra ela. Por tudo isso, o disco parece ter um impacto grande na cantora. "Eu ainda estou naquela fase de começo de namoro, amando tudo nele", brinca ela, ao se referir a "Sete Vidas", que aparece quase completo no setlist - apenas "Lado de Lá" fica de fora.

Mas, se os cinco anos foram de amadurecimento fora dos palcos, em cima dele Pitty mantém a mesma postura e energia de antes, inclusive empunhando uma guitarra em Teto de Vidro - "não achava que ia tocá-la de novo, e olha ela no repertório", brincou, antes da música. Aos poucos, ela vai apresentando as músicas novas como se fossem filhos. "Por volta de 2013 eu tava me sentindo mais ou menos assim", diz ela antes de introduzir "Pouco", um dos destaques do álbum com os versos "dor exposta é para doer, tão mais fácil se entorpecer".

Em seguida veio "Me Adora", com seu ritmo irresistível à anos 60, e um refrão poderoso que foi entoado em uníssono pelo público durante uma parada da banda, e que marca o começo do auge do show. "Pequena Morte", outra nova, mostra uma das forças do disco novo, as projeções bem elaboradas no telão - no caso da música, várias referências sexy, do logo da lanchonete Hooters até menções a sex shops. O jogo de luz, abusando das sombras no palco ao jogar a luz branca forte na plateia, colaboram com o clima intimista do espetáculo.

Então, antes do melhor momento do show, o baterista Duda puxa um samba e Pitty brinca com a letra de "Xote das Meninas", de Luiz Gonzaga, antes de puxar "Equalize", que vem seguida da cortante "Na Sua Estante". Mais uma nova, "Um Leão", é executada, antes que Pitty cante a música que marcou seu estouro e que explica boa parte do sucesso da cantora. "Eu era uma menina, pós-adolescente, que saiu de Salvador para viver de música. Foi quando escrevi isso aqui." "Máscara", dos versos de auto-ajuda "o importante é ser você, mesmo que seja estranho, bizarro", transformou a baiana em uma espécie de Lady Gaga do rock nacional. Sem bis, ela se despediu com Serpente, acompanhada por um coro do público. Cinco anos se passaram e Pitty voltou, em plena forma.

Veja o setlist do show:

Sete Vidas
Anacrônico
Admirável Chip Novo
Semana que Vem
A Massa
Deixa Ela Entrar
Teto de Vidro
Memórias
Boca Aberta
Olho Calmo
Pouco
Me Adora
Pulsos
Pequena Morte
Equalize
Na sua Estante
Um Leão
Máscara
Serpente