No VMA 2014, todos artistas pareciam bandas de abertura de Beyoncé
James Cimino
Do UOL, em Los Angeles
25/08/2014 08h35
Visto de perto, ao lado dos artistas do momento, o VMA (Video Music Awards) não é nada daquilo que se imagina --ou que se vê na televisão. Sinal dos tempos. O videoclipe não é mais uma forma de arte inovadora. A MTV não é mais a principal plataforma de divulgação desse tipo de mídia. E os artistas chamam mais a atenção pelo que fazem fora do palco.
É o caso de Beyoncé, a principal atração da noite e a única dentre os que se apresentaram a ter o status de estrela. Como sempre, fez um show impecável. A novidade foi mostrar um remix de todas as faixas de seu último álbum, "Beyoncé", que foi lançado no fim de 2013 em versão áudio e visual, com clipes para todas as canções.
Tamanha "inovação" não passou despercebida pela MTV, que faz de tudo para se manter relevante, mesmo tendo descapitalizado seu principal produto desde o advento da música digital e do vídeo on demand. A tática agora, portanto, foi premiar a cantora com o Prêmio Vanguarda Michael Jackson, destinado aos artistas que inovaram na arte do clipe.
O Daft Punk já havia feito algo semelhante com o álbum "Discovery", de 2001, mas à prestação e em uma época em que eles eram alternativos demais e o videoclipe era irrelevante de menos. Uma executiva da MTV chegou, inclusive, a dizer que a apresentação de Beyoncé deste ano seria histórica. E quando alguém diz que algo vai ser histórico, desconfie.
Pode ser que a edição das imagens para quem viu na TV tenha parecido histórica, mas lá de dentro do Fórum de Inglewood, na Califórnia, onde ocorreu o evento, o que havia era uma arquibancada que só reagia quando estimulada diretamente por Beyoncé (não apenas influenciada pela música), um grande espaço vazio na plateia que circundava o palco e um remix que parece ter sido pensado para suprimir todos os refrães de músicas excelentes como "Blow" e "Rocket". Quando o público parecia que ia esquentar, surgia uma mixagem estranha e aquela parte da música que você estava esperando para levantar da cadeira e rebolar até o chão, sumia. Beyoncé já fez melhor.
O clímax foi mesmo o momento de entrega do prêmio Michael Jackson à cantora. E quem levou o troféu ao palco foi Mr. Carter, o marido de Beyoncé, mais conhecido pelo apelido de Jay Z. Em seu colo, a filha deles, Blue Ivy. Os dois se emocionam e, assim, soterraram o boato de que a nova família real do pop estaria em crise, prestes a se separar.
Shows de abertura
E se o show da principal estrela da noite não foi "histórico", o que dizer dos que vieram antes? A entrada de Ariana Grande acabou ficando, com o perdão do trocadilho infame, pequena perante à "Anaconda" de Nicki Minaj. Este, aliás, foi um dos poucos momentos em que o público foi ao delírio. Hoje em dia, pop é quase uma abreviação de popozuda.
Depois veio Taylor Swift, que cantou "Shake it Off", sua nova música de trabalho, também tentando parecer popozuda. A certa altura, em uma cena que lembra o filme "Chicago", ela subiu em um palco em formato do número 1989, que é o título de seu novo álbum e também o ano de seu nascimento. Fez lembrar o VMA do mesmo ano, em que Madonna cantava "Express Yourself"; Jon Bon Jovi e Richie Sambora, "Livin' on a Prayer"; The Cure, "Just Like Heaven"; Cher, "If I Could Turn Back Time"; os Stones, "Mixed Emotions".
Também vimos Usher e Maroon 5, mas nenhuma apresentação digna de nota. Nenhuma Miley Cyrus se esfregando em Robin Thicke, nenhuma Lady Gaga sangrando. Todos pareceram, no fundo, as bandas de abertura da Beyoncé.