Topo

Miley Cyrus diz que é uma "aberração" e defende apelo sexual de seu show

Eduardo Graça

Do UOL, em Chicago*

27/08/2014 06h00

Quem avisa é o agente de Miley Cyrus. Dois assuntos não serão discutidos no bate-papo do UOL com a cantora: o rompimento do romance com o ator australiano Liam Hemsworth, com quem ela contracenou há quatro anos em "A Última Música", e drogas. "É como perguntar sobre maconha ao Snoop Dogg. Já sabe as respostas todas de antemão, né?". A conversa começa em uma sala localizada imediatamente abaixo do palco principal do United Center, em Chicago, onde ela encerrou no dia 14 de agosto a turnê do disco "Bangerz" pelos Estados Unidos.

Miley vestia uma capa grossa de chuva. Em pouco mais de dez minutos de conversa, ela se mostra de corpo e alma como poucas estrelas pop de sua geração. "Se as pessoas me conhecessem bem, elas veriam que eu sou super normal", ela diz, voltando atrás imediatamente: "Bem, não normal, porque sou meio que uma aberração, mas no aspecto artístico da coisa, mas sou um ser humano muito normal". 

Ela manda mensagens para os fãs brasileiros --"Adoro como eles gritam e cantam todas as músicas. Eles fazem o espetáculo também, não ficam apenas me vendo"--, se traveste de operária do showbizz com anos de experiência e abre o jogo sobre o alto teor sexual do espetáculo que trará ao Brasil a partir do dia 24 de setembro em Brasília (Ginásio Nilson Nelson), com passagens por São Paulo (Arena Anhembi), no dia 26, e Rio de Janeiro (Praça da Apoteose), no dia 28.

O melhor espetáculo de Miley

Desde fevereiro, quando abriu a turnê em Vancouver, no Canadá, críticos e fãs concordam que "Bangerz", o show, é o melhor espetáculo produzido por Miley. E é o reflexo de um disco mais feliz do que o regular "Can't Be Tamed", mote de sua passagem pelos palcos brasileiros em 2012. E a Miley da "Bangerz Tour" está a léguas de distância da sapeca Hannah Montana do seriado adolescente da Disney.

O espetáculo começa com a protagonista descendo de uma enorme língua mostrada para o público --uma de suas marcas registradas-- tal qual um tobogã. O jogo já começa ganho com a autoironia e a capacidade de rir de si mesma. A plateia, majoritariamente formada por adolescentes, gargalha com gosto. Alegria do povo, Miley sai de cena voando em um hot-dog, antes do bis, para uma plateia boquiaberta.

Não importa que o show seja exatamente o mesmo desde fevereiro, cronometrado com perfeição espantosa. Todos esperam pela "hora do cachorro-quente", a "sequência do carro hip-hop", "o momento do anel-câmera". Este último é o primeiro dos cinco momentos de histeria coletiva em um show de Miley Cyrus.

O primeiro é em "Adore You", quando ela faz um discurso em defesa do direito de se amar quem você queira, independentemente do gênero do amado, e convoca meninos e meninas a se beijarem enquanto o telão mostra os apaixonados se acarinhando em meio a um enorme anel. O segundo vem na versão de "Lucy in the Sky with Diamonds", dos Beatles, um cover pensado a duas cabeças, com o auxílio do mago psicodélico do The Flaming Lips, Wayne Coyne.

Depois, na arrasadora interpretação do clássico "Jolene", de Dolly Parton, entoado pela estrela de 22 anos incompletos. Para cantar o petardo country de 1973 --em que diz "Jolene, eu te imploro: não roube meu homem apenas pelo prazer de saber que você pode fazê-lo"--, Miley se instala em uma das muretas de proteção da arquibancada, olho no olho de seu público, e ousa incluir um "sua vagabunda estúpida" no final da música. Pobre Jolene. Mas a apoteose mesmo se dá no fim, na sequência do bis com "Wrecking Ball", "We Can't Stop" e "Party in the USA".

Mesmo antes de se transformar definitivamente em um bailão, o show jamais deixa o espectador parado ou de olhos fechados. Os fãs são convidados a comprar balões e bananas infláveis antes do espetáculo começar, e a usá-los durante a performance. Miley recebe no palco presentes dos mais variados. Boa parte das oferendas são roupas íntimas, bandeiras de arco-íris e símbolos relacionados à cannabis sativa. Ela se vira para usar tudo ao mesmo tempo agora.

Vocal poderoso e uma viagem colorida

No show de Miley, só não sonha quem não quer: o palco tem dimensões gigantescas, com direito a passarela em direção a quem está na pista, a um animal gigantesco com quem ela dança em inusitada parceria, a um clipe em preto e branco com imagens para lá de sensuais da jovem diva. Em determinado momento, Miley joga cédulas de dólar para o público; em outro, figuras representando símbolos americanos, como o Mount Rushmore, Abraham Lincoln, Tio Sam e até um gigantesco cigarro de maconha, rebolam juntos, abilolados.

É no palco que se observam também muitas sugestões de posições e possibilidades sexuais. Miley quase sempre está no centro das fantasias sugeridas. "Eu queria muito tratar deste tema neste momento, que é caro aos meus fãs. Participar de alguma forma da revolução sexual das meninas que me seguem, da libertação de preconceitos em relação a gênero, da abertura de cabeça deles para novas emoções, foi, em suma, o que mais me motivou a fazer 'Bangerz'", ela diz.

Uma síntese bem-humorada, crítica e assumidamente vulgar da América Profunda --com doses cavalares de burlesco, Carnaval, kitsch e campy--, o show de "Bangerz" tem como maior destaque o vozeirão poderoso de Miley Cyrus. Ela canta tudo no gogó, ao lado de um grupo de backing vocals e banda afiadíssimos. Não há lip synch. Não há firulas. E a garotada sai tão impressionada com a precisão vocal da popstar quanto com a coloridíssima viagem visual e sonora com cheiro de pipoca e maconha a que se entregaram felizes numa noite de show de Miley Cyrus.

* O repórter viajou a convite da Time For Fun