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Marky e Patife dizem que drum'n'bass vive boa fase no underground

Marky e Patife: referências do drum"n"bass no Brasil, continuam se dedicando ao gênero da eletrônica - Reprodução
Marky e Patife: referências do drum'n'bass no Brasil, continuam se dedicando ao gênero da eletrônica Imagem: Reprodução

Patrícia Colombo

Do UOL, em São Paulo

03/09/2014 06h00

Na virada dos anos de 1990 para 2000, as pistas de dança ferviam e nomes como Anderson Noise, Mau Mau e Renato Cohen despontavam como os principais DJs do house e do techno. Na mesma época chegava ao mainstream o periférico drum'n'bass, que teve em Marky e Patife seus maiores representantes no cenário nacional. Depois de experienciar da glória do sucesso ao declínio na preferência do público no Brasil, a dupla segue em carreira sólida, no que caracterizam como uma boa fase para o gênero. "O verdadeiro DJ está longe dos holofotes", diz Patife ao UOL.

Nascido de uma junção de elementos e batidas nos guetos de Londres, o drum'n'bass --ou apenas DnB-- começou a se formatar no Brasil também na segunda metade dos anos 90. Patife, que atuava como office-boy durante o dia para ajudar a sustentar sua família, conseguia descolar uns trocados para comprar discos e fazia segunda jornada de trabalho em uma casa noturna no bairro de Interlagos, em São Paulo, onde assumiu as pick-ups em 1995.

Já amigo de Marky na época, ambos sempre se mantiveram antenados com os lançamentos relacionados principalmente ao jungle, uma mistura de dub com acid house e ragga, com alterações no BPM de cada uma das vertentes. Marky, que tocava em uma casa no bairro paulistano Penha, colocava esse tipo de som nas pistas. Com a atuação de nomes como britânico Roni Size (líder e fundador do coletivo Reprazent), que em 1997 lançou o disco "New Forms", o DnB  se estruturou como é conhecido hoje.

Patife e Marky levantaram a bandeira e passaram a lutar para conseguir espaço na programação das casas noturnas como forma de inserir a sonoridade nas pistas e ganhar o público. Fizeram suas primeiras viagens à Londres e vivenciaram a febre do drum'n'bass por lá, estabelecendo contatos com gente importante do cenário, e passaram a produzir suas próprias faixas --boa parte delas misturando elementos do gênero eletrônico com música brasileira.

Foi aí que vieram a parceria de Patife com Fernanda Porto e faixas como "Sambassim" e "Só Tinha de Ser com Você" (esta também produzida por Marky junto à dupla), além de "LK", de Marky com o também brasileiro DJ Xerxes (sob o nome de XRS Land) em 2002, que trazia sample de "Carolina Carol Bela", de Jorge Ben Jor e Toquinho. O DnB, então, virou o hype daquele momento no Brasil, e as batidas aceleradas e quebradas dominaram as FMs e as pistas.

Vida longa ao DnB

Como quase todo boom musical, o sucesso do DnB se sustentou por pouco tempo e, já em 2005, o cenário no Brasil demonstrava abafado por novas preferências. Ainda assim, o gênero seguiu caminhando. "Nunca morreu e há gente nova se relacionando com o som, tanto produtores e DJs quanto em termos de público", diz  Marky ao UOL. "É nítido que antes tinha mais espaço, estávamos em todo lugar. Hoje voltamos para o underground, o público mudou, a música em geral mudou".

Patife ainda argumenta que prefere a realidade atual. "Assim temos vida longa e é muito mais saudável", ele diz. "As pessoas cansaram de ouvir essas músicas em todo lugar, a todo momento, como era naquela época. O lado bom foi o reconhecimento que tivemos, a oportunidade de conhecer e trabalhar com músicos, viajar o mundo, viver coisas que jamais sonhei".

De Portugal, Patife contou que já realizou 24 apresentações no exterior desde o início do ano e no Brasil, na alta temporada do verão, faz cerca de 15 sets por mês. Marky, por sua vez, estava em Londres para tocar na casa Fabric Club, onde é residente. Nesta semana, ele ainda se apresenta na Croácia, na França e no Japão. "Fora do Brasil, minha agenda é sempre lotada. Não tenho do que reclamar, me apresento pelos quatro cantos do mundo há muito tempo".

"Acredito que, por aqui, vivi uma certa calmaria anos atrás, mas as coisas estão voltando a melhorar e isso é muito bom, afinal sou brasileiro e gosto de me apresentar no meu país", afirma Marky. "Hoje, junto com outros núcleos, como [as festas] Forbass e Flavour, estamos fazendo a diferença. Sinto que as pessoas estão cansadas da mesmice de sempre e tudo gira, são ciclos". Marky ainda prepara um novo álbum com a participação de produtores gringos e nacionais com lançamento previsto para 2015.

Patife também revela que a expansão dos projetos vai além das apresentações e produções de faixas. Ele prevê a criação de um selo próprio em breve, pelo qual a princípio lançará seus próprios trabalhos para posteriormente investir em novos nomes. "Vai ser a casa para que eu possa lançar o que gosto", diz. "Continuo com meu tempero brazuca e hoje não tenho mais a pressão que tinha antes. Ando no meu tempo e não busco holofotes nem ser top 10 de revista alguma".