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Álbum ao vivo de 1974 redescobre fase "heavy metal" do Queen

John Deacon, Freddie Mercury, Roger Taylor e Brian May em show no Rainbow Theatre, em Londres, em março de 1974 - Reprodução
John Deacon, Freddie Mercury, Roger Taylor e Brian May em show no Rainbow Theatre, em Londres, em março de 1974 Imagem: Reprodução

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

24/09/2014 06h00

Quando foi formado em Londres, em 1970, o Queen parecia feito para provocar. Com nome de conotação homossexual e um líder andrógino, dono de um registro vocal poderoso, o grupo empreendeu em seus primeiros anos uma petulante —e original— mistura de ópera e Led Zeppelin, com certa pitada de rock progressivo.

A fase, esquecida por parte dos fãs, é resgatada pela primeira vez com a devida atenção no álbum “Live at Rainbow´ 74”. Recém-lançado no Brasil em CD e DVD, traz o registro de duas apresentações em Londres em março e novembro, conhecidas anteriormente apenas por bootlegs de qualidade questionável. As turnês faziam parte, respectivamente, da divulgação dos discos “Queen II” e “Sheer Heart Attack”, lançados no mesmo ano.

Muito antes dos shows grandiloquentes da década seguinte, com repertórios de sabor mais pop, o Queen de 1974 causava furor em pequenos teatros da Inglaterra, com capacidade para 3.000 pessoas, quase sempre esgotada. Na receita, mínimas pirotecnias —apenas gelo seco— e peso. Muito peso.

Capa do álbum "Queen: Live at the Rainbow '74" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Músicas da primeira fase da banda como “Liar”, “Son and Daughter” e “Ogre Battle” ganham dose extra de testosterona ao vivo, servindo de prévias do heavy metal britânico do final da década, difundido mundialmente pelo Judas Priest e, posteriomente, pelo Iron Maiden. Mesmo faixas com menos guitarras soam especialmente intensas, entre elas “Father to Son”, “Killer Queen” e a balada "White Queen (As It Began)". Performances impecáveis em áudio e imagem restaurados.

Esbanjando carisma, embora um pouco mais “tímido” —para seus padrões—, Mercury já insinuava seu lado mais performático e operístico, em uma época em que a banda dispensava músicos auxiliares e parecia fazer questão de reproduzir ao vivo as harmonias vocais de estúdio.

Como uma diva glam e persa, Freddie aparece vestido todo de branco na primeira parte do show de novembro —o de março conta apenas com trechos no DVD—, em referência ao lado A de “Queen II”, o da Rainha Branca. No trecho final, de preto, ele encarna a majestade negra e diabólica do lado B do álbum.

É sob esse alterego que Freddie se mostra mais Mercury. "Minha luva..gostaram dela? São diamantes verdadeiros. Presente do diabo em pessoa”, provoca para, em seguida, emendar a pesadíssima “Stone Cold Crazy”, anos mais tarde coverizada pelo Metallica.

Em meio aos esporros sonoros, "Live at Rainbow´ 74” ainda guarda sutilezas que só justificam ainda mais o lançamento. Mimos para os fãs: "The Fairy Feller's Master-Stroke", em seu único registro ao vivo, “Bring Back That Leroy Brown”, em versão instrumental na íntegra, e “Modern Times Rock 'n' Roll", com os vocais de Freddie Mercury, que substitui os do baterista Roger Taylor da original.