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"Não sou rico, mas não tenho do que reclamar", diz ex-vocalista do AC/DC

O ex-vocalista do AC/DC Dave Evans - Divulgação
O ex-vocalista do AC/DC Dave Evans Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

27/09/2014 06h00

Dave Evans tinha tudo para ser um dos maiores milionários da música. Em vez disso, ele se apresenta hoje em bares, para um público que dificilmente passa de 200 pessoas. Primeiro vocalista do AC/DC, o galês de 61 anos é a voz do single de estreia da banda, que trazia as faixas "Can I Sit Next to You, Girl” e “Rockin' in the Parlour”. Insatisfeito com os perrengues do início de carreira, ele decidiu sair do grupo após um ano, em outubro de 1974, quando foi substituído pelo escocês Bon Scott.

Arrependimento? Sem chance. O músico se apresenta neste sábado (27) no Gillans' Inn English Rock Bar, em São Paulo, onde encerra sua primeira turnê no Brasil.

“Talvez eu não seja tão rico quanto os outros caras, mas não tenho do que reclamar. Tive uma carreira maravilhosa”, diz ao UOL Evans, que após deixar o grupo do guitarrista Angus Young ainda encabeçou os projetos Rabbit e Thunder Down Under, sem repetir o sucesso dos ex-colegas. Desde 2001, ele se dedica à carreira solo.

“Acho que nós nunca podemos nos arrepender de fazer as coisas que amamos. O pobre Bon Scott, por exemplo, ficou na banda por seis anos, morreu aos 33 e também não pôde ter retorno financeiro”, relativiza.

Polêmica, a saída de Dave Evans ainda hoje é motivo de controvérsia entre os seguidores do AC/DC —ao menos entre os que se lembram dele. A história oficial diz que o vocalista, com fama de vaidoso, simplesmente se recusou a subir no palco em um show, sem nenhuma razão aparente. Questionado, Evans alega que tudo não passou de uma questão prática, de ordem financeira.

“É uma longa história. Há vários fatores que contribuíram. Estávamos no meio da turnê, fazendo três shows por dia, mas não éramos pagos. Eu tinha minha casa em Sidney, e iria perdê-la se não pagasse o aluguel. Tivemos uma briga com nosso empresário da época. Marcamos uma reunião no final da turnê, mas a situação não foi resolvida, e eu saí”, explica.

Demonstrando simpatia, Dave é pródigo em risadas e não se irrita ao falar do passado. Parece não guardar ressentimentos. E nem poderia. Metade de seu repertório ao vivo é composto por faixas do AC/DC. A maioria delas, inclusive, nem sequer foram gravadas por ele, como “Highway to Hell”, “Let There Be Rock” e " Whole Lotta Rosie".

Embora ressalte a proximidade artística, o vocalista não tem mais contato com a banda, exceção feita ao filho do guitarrista Malcolm Young, que este ano deixou o grupo sofrendo de demência. Um baque para os fãs.

“Fiquei muito triste quando soube da história, pelo comunicado do Brian Johnson [atual vocalista]. Eu sou muito amigo do filho dele [de Malcolm]. Ross, que cuida dele. Ross já me disse muitas vezes que ele tem um grande respeito por mim. O que é legal de ouvir. É triste para todos, mas tenho certeza que a banda não vai acabar.”

Cenário (bem) hipotético: e se, em vez de encerrar as as atividades, Angus Young viesse com um convite para reunir a formação original, 40 anos depois? “Seria fantástico, e eu toparia na hora. Mas isso nunca vai acontecer (risos). Mas poderíamos chamar o Colin Burgess, o baterista original. Continua um grande cara. Falei com ele alguns meses atrás. Seria legal chamar talvez o Larry Van Kriedt, o baixista original. O AC/DC é uma lenda, os fãs iriam adorar.”