Topo

Com CD solo, Xande de Pilares diz que estresse motivou saída do Revelação

Thays Almendra

Do UOL, em São Paulo

23/10/2014 21h53

Depois de 20 anos nos vocais do grupo de samba Revelação, Xande de Pilares resolveu seguir carreira solo e lançou nesta quinta-feira (23) o seu novo CD “Perseverança”. De acordo com o músico, a saída da antiga banda foi “um momento muito delicado” e aconteceu por conta de “um estresse muito grande”.

“Chega um momento em que você tem que ter muito cuidado com a insatisfação, até para não chegar ao ponto de se agredir. Isso nunca aconteceu com a gente, mas tem um momento que você fica muito chato e começa a se cobrar muito“, disse ele, em entrevista ao UOL.

Participante fixo do elenco do programa “Esquenta”, da Rede Globo, ao lado de Arlindo Cruz e com apresentação de Regina Casé, Xande conta que a nova etapa de sua carreira é uma continuidade do que já fazia no grupo, e que fez poucas mudanças. Para ele, o CD “Perseverança” é um “retrato de sua vida”. O disco reúne 14 composições, sendo nove próprias.

Xande também estreia no cinemas no filme “Made in China” e foi o vencedor dos troféus carnavalescos de 2014 “Estandarte de Ouro“ e “Tamborim de Ouro” pela composição e interpretação do samba-enredo do Salgueiro. Além disso, ganhou nota dez sua primeira composição para a escola carioca. Neste ano, ele é novamente responsável pelo samba da agremiação para o Carnaval 2015.

UOL - Como foi o desligamento do Revelação? Por que saiu?
Xande de Pilares - Foi natural, foi sincero, foi verdadeiro como sempre fui na minha vida com eles. Na realidade, eu entrei em um processo de estresse muito grande, porque em certos momentos eu estava só cumprindo o que tinha que ser cumprido. Não estava com aquela coisa da satisfação de estar em um lugar e o público receber a minha energia. Chega um momento em que você tem que ter muito cuidado com a insatisfação, até para não chegar ao ponto de se agredir. Isso nunca aconteceu com a gente, mas tem um momento em que você fica muito chato e começa a se cobrar muito.  Foi um momento muito delicado, foi uma decisão difícil, mas eu tenho uma coisa que me facilitou muito: nunca saí de casa com a motivação de só ganhar dinheiro. Sempre saí de casa com o prazer de fazer um show.

Quer dizer que carregou um peso durante um tempo? Queria fazer coisas novas?
Também. Propus a inovar, sempre propus coisas novas em minha vida. Só que, às vezes, isso em grupo não rola, porque a galera acha que se mudar pode cair. Algo que é natural no mundo artístico, porque todo mundo quer cuidar um pouco da sua parte.  

Por que o nome do CD é “Perseverança”? O que ele significa na sua carreira solo?
Esse CD é perseverante. É o retrato da minha vida. É o que eu sempre fui na minha vida, nunca desisti de nada que quis, de nada desde o tempo de colégio até os tempos de hoje. Quando eu quis aprender a tocar um cavaco, a diminuir a minha timidez, fui perseverante. E, também, já passei por muitos desafios. Já nos colocaram em festivais que só tinham roqueiros e a gente era o único do samba. Acho que a perseverança vem daí. A gente sempre saiu com êxito.

O que tem de inovação neste CD?
A única coisa que tem de novo mesmo são os elementos de percussão. É a cuica, o repique. Eu não toco no disco, só gravei a minha voz. Mudou um pouco a sonoridade porque não tenho mais o reco-reco.

Neste CD, tem nove composições suas, entre elas: "Elas Estão no Controle", “A Senha”, "Orgulho Negro". Como é compor uma canção? Como é esse processo de criação?
Muitas das vezes eu vou para a rua. O que a gente quer é estar na rua para compor,e por isso não abro mão das parcerias. No CD, estou com Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz. A parceria é bom porque cada um vem com uma história diferente. Por exemplo, quando eu fiz “Tá Escrito”, já era uma música iniciada. Quando vi o lance de “quem cultiva a semente do amor segue em frente e não se apavora”, a música entrou na casa das pessoas como um meteoro. “Perseverança” e “Clareou” seguem a mesma proposta.

E sobre o Carnaval? Como está o samba para a Salgueiro? É seu segundo ano como compositor lá...
Acabamos de gravar o samba-enredo nesse domingo. O samba é “Do Fundo do Quintal, Samba e Sabores na Sapucaí”, que exalta a comida mineira. Mais uma vez, eu estou à frente do samba, depois de ter recebido nota 10. É mais um desafio. Representar uma escola na avenida com teu samba dá um nervoso danado. Um compositor quer fazer um bom trabalho sempre.

É mais difícil escrever um samba para uma escola do que para um CD seu?
Sem dúvida alguma. É uma obra tua que só tem uma oportunidade, que é o Carnaval. Na quarta-feira de cinzas, ela ficou para trás. A música para um CD tem menos responsabilidade, porque se ela tocar bem, ótimo, senão, tudo bem.