Só com baixo e bateria, Royal Blood dá impulso ao rock pesado de apelo pop
A banda inglesa Royal Blood tinha poucos meses de vida e nem um single gravado quando ganhou um impulso considerável: Matt Helders, baterista do Arctic Monkeys, vestiu uma camiseta do grupo novato durante um show no festival de Glastonbury, em 2013. Uma turnê no final do ano abrindo para os “padrinhos” fez crescer o interesse do público e rendeu um contrato com a gravadora Warner para o primeiro disco. A partir daí, tudo aconteceu muito rápido.
Lançado em agosto passado, “Royal Blood” entrou direto no primeiro lugar da parada britânica, tornando-se o disco de rock de mais rápida vendagem na Grã-Bretanha nos últimos três anos. Nos Estados Unidos, o álbum entrou em 30º no Top 200 da revista “Billboard”. Em outubro, foi selecionado entre os discos do ano no Mercury Prize, prêmio tradicional da música inglesa. E tudo isso se deu com uma banda formada por apenas duas pessoas – um baixista-cantor, Mike Kerr, e um baterista, Ben Thatcher.
Não se trata de um projeto de “drum and bass”, apesar de literalmente ser isso mesmo. “Desde o começo soava bem forte e alto que não havia espaço para outros integrantes”, explicou Thatcher por telefone ao UOL, sobre a opção de tocar rock no formato duo. “Existe muito mais espaço para eu ser um pouco mais criativo. Não preciso ficar travado a um instrumento específico. Como existe só o baixo e a bateria, mesmo que eu e Mike façamos coisas diferentes, ainda assim vai funcionar. Há muito mais espaço para criar.”
Vale ressaltar que o instrumento de Kerr, 23 anos, não soa como um contrabaixo tradicional. Ele utiliza uma combinação de pedais de efeitos e três amplificadores interligados simultaneamente para produzir uma sonoridade que na maior parte do tempo lembra uma guitarra grave e carregada. Em outros momentos, o baixo de Kerr gera algo que soa como dois instrumentos tocados juntos e em uníssono. O truque técnico faz as notas ficarem mais “cheias” e disfarça a presença de outros timbres. O que se escuta no disco e nos shows é uma combinação equilibrada desses elementos – a voz melodiosa e sussurrada e os riffs distorcidos e dobrados de Kerr, e a bateria orgânica e virtuosa de Thatcher.
Influências
Na sonoridade, o Royal Blood bebe de diversas influências, algumas óbvias (o metal cru de apelo sexy do Queens of the Stone Age, o peso melódico do Muse), outras nem tanto (o minimalismo do som do Black Keys, os riffs com um pé no blues do Led Zeppelin). Mas o fato de a banda ter dois integrantes não passa batido pelos críticos. Para Thatcher, comparações com outros duos como White Stripes e Black Keys não são um problema, “afinal, você sempre vai ser comparado a alguma coisa”, afirma. “Obviamente somos comparados a outras bandas de dois membros, mas também a trios, bandas com quatro, cinco pessoas... Isso não importa muito. A gente não se ofende.”
Para o baterista de 26 anos, o fato de só duas pessoas contribuírem para a música do Royal Blood não deveria ser relevante, principalmente para os fãs. “Eu não sei se as pessoas entendem o que está acontecendo ali no palco”, diz. “Sei que estão gostando e se divertindo. Se eles compram o disco, estão curtindo a música e gostam de ir aos shows, então não importa muito como a gente está fazendo tudo aquilo.”
No álbum, que acabou de ser lançado no Brasil (a banda vislumbra shows por aqui em 2015 – “Talvez em algum momento do ano que vem”, diz Thatcher), o processo de composição também explorou esse agudo senso de unidade da dupla. “Nós nos juntamos, fizemos jams, tocando riffs e pedaços de música que poderiam funcionar. Daí fazemos como um quebra-cabeças e usamos as nossas partes favoritas”, explica. As onze faixas são parecidas entre si, mas carregam personalidade nas letras e soam frescas e modernas, renovando o conceito do rock de guitarras de apelo pop.
O rock and roll não está morto
Thatcher discorda que o Royal Blood esteja na contramão de outras bandas semelhantes (“Não acho que estejamos fazendo nada de diferente de outros caras”), mas me interrompe quando afirmo que o rock tem dificuldades em manter sua relevância com o público jovem. “Não sei se necessariamente concordo com isso”, diz. “O rock sempre esteve aí, mas recentemente os holofotes estão em outros gêneros. Mas sempre teremos rock para ouvir, não importa o que aconteça. Há grandes bandas acontecendo, mesmo que não estejam tocando no rádio. O rock and roll definitivamente não está morto.”
Mas ele reitera que não torce apenas pelo estilo de sua banda, mas também pelo que chama de “boa música”. “Não importa se é rock, pop ou se é um bom cantor-compositor. Se boas canções estão conseguindo um espaço na indústria musical, eu acho que pouco importa de qual gênero são”, diz Thatcher, que define o Royal Blood como “música para todos” para justificar a base de fãs variada, que inclui “adolescentes, meninos, meninas, velhos, jovens... todo mundo”.
A história da ascensão e do relativo sucesso do Royal Blood parecem mais surpreendentes quando se sabe que a banda surgiu há menos de dois anos. Para Kerr e Thatcher, porém, é como se fosse o resultado de uma década de trabalho. “Até que foi relativamente rápido, mas temos tocado juntos nos últimos dez anos, em outras bandas”, diz o baterista. “Foi todo um processo de aprendizado. Quando o Royal Blood surgiu, as coisas cresceram bem rápido, mas estávamos preparados para isso. E era o que a gente queria.”
Sobre como lidar com a fama repentina, Thatcher dá um exemplo típico de quem sempre levou a música como projeto paralelo enquanto trabalhava para ganhar a vida. “É como em qualquer mudança, tipo entrar em um emprego novo, sabe? Você tem que aprender coisas novas, como mexer na máquina de xerox”, compara. “Após duas semanas você já sabe tudo sobre a máquina, consertá-la, recarregar papel e tudo o mais. Você vai aprendendo à medida que acontece.”
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