Repaginado, Belo flerta com a MPB e diz que falta originalidade ao pagode
Leonardo Rodrigues
Do UOL, em São Paulo
26/11/2014 11h23
Depois de uma "crise de estafa" que o afastou do palco, Belo está colocando sua carreira novamente nos eixos. Mais uma vez. Após aparecer de dreadlocks e lançar um disco mais dançante, e que pouco vendeu, o cantor tomou um banho de loja e juntou o que chama de “nata da MPB”. A parceira com músicos de Milton Nascimento e Djavan resultou em “Mistério”, novo álbum que traz uma sonoridade sofisticada, com direito a arranjos de piano, cordas e participações de Jorge Vercilo, Ivete Sangalo e dos sertanejos Thaeme e Thiago. Um álbum eclético e “de cantor”.
“É uma celebração da minha carreira solo. Quando saí do Soweto, foi para respirar outros ares, abrir o leque e cantar coisas que não faziam parte da concepção do samba. É o que continuo fazendo”, diz ao UOL um orgulhoso Belo. “Tudo foi planejado para sair desta forma. Consigo transitar muito bem com nuances do soul music, que sempre gostei, e com uma pitada do eletrônico, sem sair da minha concepção musical, o samba romântico.”
Mesmo sem admitir abertamente, Belo faz da diversidade de ritmos uma possível ponte para cruzar a crise do pagode. Gênero que, após o auge na década de 1990, movida a passinhos e a frequentes participações em programa de TV, vive um período de vacas magras, sob a sombra de uma crise comercial e de novos talentos. Basta tentar lembrar: quantos foram os sucessos marcantes da última década? Para o ex-vocalista do Soweto, que já vendeu mais de 7 milhões de discos, a originalidade parece ser artigo de luxo no século 21.
“Existem músicos talentosos. Mas acho que, dessa geração nova, não veio muita coisa nova. O Thiaguinho é o único que veio com proposta de identidade. Impôs a música dele, com uma forma de cantar diferente, uma forma de dançar só dele. Foi isso que aconteceu nos anos 1990, com o Exaltasamba, Katinguelê, Negritude, Só Pra Contrariar, Raça Negra, Soweto. Cada um veio com uma forma totalmente diferente da outra.”
Belo, que já lançou artistas de funk e hoje expande horizontes por meio de parcerias, se diz fã de música popular brasileira. Ele pretende, no futuro, registrar um álbum totalmente fora do universo pagodeiro. “É isso que quero mostrar. Que as pessoas possam me ver em qualquer vertente, qualquer lado musical. Não como um artista de pagode, um pagodeiro”, vislumbra.
Para o futuro próximo, os planos estão praticamente todos feitos. Após fechar a nova turnê com a gravação e divulgação de um DVD ao vivo, em 2015, Belo quer retomar dois de seus grandes projetos: uma autobiografia e um longa-metragem sobre sua carreira, marcada pelos muitos sucessos e pelos seis anos em que ficou preso, condenado por envolvimento com o tráfico de drogas. Nas telas, deve ser interpretado pelo amigo e ator Thiago Martins.
Em abril deste ano, o jornal “Extra” chegou a publicar que a biografia havia sido engavetada por falta de editoras interessadas na história, por se tratar de um relato supostamente “chapa branca”, ignorando polêmicas.
“Isso é bobeira. O que não faltaram foram editoras. Tive propostas de mais de oito, do Brasil inteiro. É a história da minha vida, cara. Se eu quisesse lançar independente, eu lançaria. Mas eu não quero. É algo que estou projetando para não encavalar uma coisa em cima da outra”, afirma o cantor.
Recém-recuperado de uma “crise de estafa”, que o obrigou a cancelar shows em Aracaju e Salvador em setembro, Belo afirma estar bem. Dois anos depois de enfrentar outra crise, de síndrome do pânico. “Fiquei 24 dias em casa, descansando. E agora estou voltando com tudo. Graças a Deus, com a saúde boa. Tenho viajado pelo Brasil inteiro, com a agenda completa até junho do ano que vem.”