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Heavy metal teve polêmicas, bandas de volta à ativa e bons discos em 2014

Julio Feriato

Especial para o UOL*

18/12/2014 18h43

Com certeza os brasileiros se lembrarão do ano de 2014 mais pela Copa do Mundo e pelas eleições presidenciais do que pelas notícias relacionadas ao universo da música pesada. Nesse quesito, porém, teve de tudo: bandas que lançaram discos após muitos anos fora de atividade, grupos trocando de integrantes, novos trabalhos de medalhões do gênero, músicos discutindo abertamente sua sexualidade, um ídolo roqueiro diagnosticado com demência e até Gene Simmons, do Kiss, perdendo a oportunidade de ficar calado ao dizer que o rock estava morto.

No cenário internacional, algumas bandas clássicas como Judas Priest e AC/DC soltaram novos trabalhos de estúdio. A primeira com “Redeemer of Souls”, que dividiu opiniões entre os fãs, com muitos afirmando ser o melhor trabalho da banda desde o clássico “Painkiller” (1990), enquanto outros acharam o disco artificial e genérico.

Já quanto ao AC/DC, o lançamento de “Rock or Bust” foi ofuscado pela saída repentina do guitarrista e fundador Malcolm Young, diagnosticado com demência, e pela prisão do baterista Phil Rudd, acusado de ameaça de assassinato e posse de drogas.

Polêmicas
Nos EUA, em entrevista ao jornal “L.A. Times”, Paul Masvidal e Sean Reinert, ex-integrantes do Death e atualmente membros do Cynic), que são gays, discutiram sua sexualidade publicamente e falaram sobre as dificuldades de ser homossexual no mundo do metal. O fato não era inédito, mas a ligação de ambos com lado mais extremo do gênero fez com que a notícia recebesse mais atenção do que deveria.

E as polêmicas envolvendo ídolos metal não pararam por aí. Dave Mustaine, vocalista, guitarrista e líder do Megadeth, teve que se virar nos trinta para driblar as saídas do baterista Shawn Drover e do guitarrista Chris Broderick. E, para piorar, sua sogra, Sally Estabrook, vítima de Alzheimer, foi encontrada morta na Califórnia após seis semanas de seu desaparecimento.

A banda Mastodon também não escapou. O videoclipe da música “The Motherload” (assista aqui) foi acusado de ser sexista por parte da imprensa dos EUA por mostrar dançarinas exaltando seus atributos físicos. Posteriormente, as próprias dançarinas vieram a público em defesa da banda.

Boas notícias

Algumas notícias, no entanto, agradaram os metaleiros. Entre elas a de que o Exodus recrutou o emblemático Steve Souza, que estava fora do grupo havia quase dez anos, para substituir Rob Dukes nos vocais. Com ele, a banda lançou o ótimo “Blood In, Blood Out”.

Já o Arch Enemy pegou os fãs de surpresa com o desligamento de Angela Gossow, sua vocalista desde 1999, que optou por virar empresária da banda e ajudou a escolher sua substituta, a canadense Alisa White-Gluz, ex-The Agonist. Anunciada a nova integrante, rapidamente o grupo lançou o single “War Eternal”, faixa-título do novo álbum, já considerado um dos melhores de sua carreira.

Outros lançamentos também foram destaque neste ano. O disco “5: The Gray Chapter”, do  Slipknot; o retorno do Sanctuary com “The Year the Sun Died”, 24 anos após o lançamento do LP anterior, “Into the Mirror Black”; o Machine Head com o ótimo “Bloodstone & Diamonds”, e os suecos do At The Gates soltando “At War with Reality”, primeiro álbum desde o clássico “Slaughter of the Soul”, de 1995.

O cenário nacional
Entre as bandas brasileiras, poucas se destacaram tanto quanto as garotas do Nervosa. O primeiro álbum, “Victim of Yourself”, lançado em fevereiro pela gravadora austríaca Napalm Records, foi sucesso em vendas nos E.U.A., na Europa e no Japão. Mas, por enquanto, é na América Latina que o grupo está colhendo os bons frutos do disco. Elas já fizeram turnês por quase todo o território nacional e também tocaram na Argentina e na Bolívia, além de terem sido a atração principal do festival Bogothrash, em Bogotá, na Colômbia, que teve um público de cerca de 4.000 pessoas.

Em fevereiro, o Noturnall, banda encabeçada por ex-integrantes do Shaman e do Angra, também lançou o seu primeiro disco autointitulado. A boa repercussão do álbum rendeu a gravação do DVD “First Night Live”.

Outros lançamentos do metal nacional também foram muito falados, como o Project 46 com “Que Seja Feita a Nossa Vontade”; Korzus com “Legion”, além dos tributos “Helloween Brazilian Tribute”, uma homenagem à banda alemã Helloween, e “Em Nome do Medo”, tributo à banda portuguesa Moonspell. Ambos os discos contam somente com bandas brasileiras, entre elas Soulspell, Pastore, Vandroya, Scelerata, Rygel e Bruno Sutter, entre outras.

Já o Angra efetivou o italiano Fabio Lione (Rhapsody of Fire) como novo vocalista e partiu para a Suécia para as gravações do novo álbum, “The Secret Garden”. O primeiro single, “Newborn Me”, saiu em novembro, mostrando a musicalidade do grupo renovada com guitarras mais pesadas, e parece ter agradado aos fãs. O álbum tem previsão para ser lançado ainda este ano.

A banda Salário Mínimo também foi notícia. Não por ter lançado um álbum novo, mas por causa das polêmicas declarações que o vocalista China Lee postou nas redes sociais após o resultado das últimas eleições, criticando o programa do governo Bolsa Família, cujos beneficiários ele chamou de “vagabundos”. Não pegou bem. Por conta da repercussão negativa, o cantor se retratou em sua página do Facebook pedindo desculpas e dizendo ter sido mal interpretado. (mais detalhes aqui)

Shows
Novembro também se destacou por conta do evento Brasil Metal Allstars, com um supergrupo que reuniu ícones do metal como Zakk Wylde (Black Label Society, ex-Ozzy Osbourne), Max Cavalera (Cavalera Conspiracy, Soulfly), David Ellefson (Megadeth), Geoff Tate (ex-Queensrÿche), Blasko (Ozzy Osbourne), Kobra Paige (Kobra and the Lotus), Vinny Appice (ex-Black Sabbath e Dio), James LaBrie (Dream Theater) e Ross the Boss (ex-Manowar).

Festivais dedicados ao metal extremo fizeram alegria dos apreciadores do gênero. Tivemos o Extreme Hate Festival, que juntou as bandas Chaos Synopsis (Brasil), Cryptopsy (Canadá), Suffocation (EUA), Belphegor (Áustria) e Watain (Suécia) e, na semana seguinte, rolou o Evil Hail Fest, com as brasileiras Genocidio e Nervochaos, além de Blood Red Throne (Noruega), Bessat (Polônia), Enthroned (Bélgica) e Terrorizer (EUA).

Também houve perdas significativas para o metal brasileiro. Paulo Schroeber, produtor, compositor e guitarrista do Almah perdeu a batalha contra uma doença cardíaca que enfrentava havia anos. O mesmo ocorreu com Mateus Olivello, baixista da banda mineira Pleiades  --que ganhou destaque no programa “Astros”, do SBT, em 2012--, morto em um acidente de moto em Belo Horizonte, no início de dezembro.

Não há como negar que o heavy metal é um gênero musical muito forte por aqui. E o próximo ano promete ser tão intenso quanto foi 2014. Várias bandas internacionais já estão com shows marcados, e o festival Monsters of Rock terá mais uma edição em abril, com shows de medalhões como Kiss, Ozzy Osbourne, Judas Priest, Motörhead, Manowar, Accept e Yngwie Malmsteen, entre outros. 

*Julio Feriato apresenta o programa "Heavy Nation" na Rádio UOL