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"Inezita gostava de piada de sacanagem", diz o humorista Ary Toledo

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

09/03/2015 13h35

O humorista Ary Toledo, que chegou no início da tarde desta segunda-feira (9) ao velório da cantora e apresentadora Inezita Barroso, realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo, contou que a amiga gostava de ouvi-lo contar “piadas de sacanagem”.

“A perda da Inezita simboliza o enfraquecimento da cultura popular brasileira. Como se não se bastasse o Ariano Suassuna e o José Rico”, disse Toledo ao chegar ao velório. 

O humorista falou também sobre sua amizade com Inezita. “Era muito amiga minha. Sempre ia nos meus aniversários, mesmo de cadeira de rodas. Uma amizade que se solidificou durante 50 anos”, contou o humorista.

Quando questionado sobre o humor da apresentadora, Toledo afirmou: “Quando ia ao programa dela, ela falava:  ‘Não vai embora, não, que eu quero ouvir umas piadas de sacanagem. Eu ia no camarim e contava piada de sacanagem para ela. Ela gostava muito”.

“Ela sempre trouxe dentro do bojo da sua viola a mais autêntica expressão da cultura popular brasileira”, finalizou o contador de piadas.

Inezita Barroso morreu na noite deste domingo, em São Paulo, vítima de insuficiência respiratória aguda. O enterro da cantora acontecerá às 17h no cemitério Gethsemani, no Morumbi, zona sul da capital paulista.

Homenagens

Um dos famosos que foram prestar homenagem a Inezita foi o cantor e compositor Silvio Brito. "A gente sempre jantava junto. Ela gostava muito de conviver com os amigos, de bater papo. Nos encontrávamos muito em shows, tínhamos muitos amigos em comum", disse ele. "Realmente, ela foi fiel em levar adiante a historia da música caipira, a importância da música caipira."

Outros músicos que estiveram no velório foram Lourenco e Lourival, dupla caipira que tinha amizade com Inezita. "A gente trabalhava com ela em circo. Isso no final da década de 1960. Ontem mesmo fizemos uma homenagem a ela na TV Cultura, dos 90 anos [da cantora] e de 35 [do 'Viola, Minha Viola', na TV Cultura", disseram os sertanejos. "Ela era a bandeira da música brasileira. Era uma folclorista que nunca abandonou a música sertaneja. Ela gostava mesmo da música de raiz. Gravamos umas músicas modernas, e ela disse para não fazermos isso nunca mais."  

No final da manhã, o cantor sertanejo Donizetti, que começou sua carreira ainda criança no palco do "Viola", chegou ao velório. "Quando ela me abraçava, ela sempre dizia que eu estava muito bonitinho. Ela tinha muito carinho com a gente. Ela representou a cultura caipira muito dignamente. Inezita foi uma inspiração para mim como foi Jose Rico. Dois grandes ícones da musica que se foram e que temos que respeitar muito", disse o cantor. 

Quem também compareceu ao velório foi o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. "Já estamos com saudades da Inezita Barroso. Durante 35 anos, o programa dela encantou São Paulo e o Brasil", disse Alckmin, que revelou já ter ido ao programa. "Quando ela fez 88 anos, fui ao programa dela, e alguém perguntou o segredo da vida longa e feliz. Ela dizia que amava a música caipira, gostava do que fazia e fazia bem feito. Ela resgatou as raízes do nosso país."

Trajetória

Ignez Magdalena Aranha de Lima, nome de batismo de Inezita Barroso, nasceu em 4 de março de 1925, no bairro da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Filha de família tradicional paulistana, passou a infância cercada por influências musicais diversas, mas foi na fazenda da família, no interior paulista, que desenvolveu seu amor pela música caipira e pelas tradições populares.  Formou-se em biblioteconomia pela USP e foi uma grande pesquisadora do gênero musical. Por conta própria, percorreu o Brasil resgatando histórias e canções.

Além da cantora, foi instrumentista, arranjadora, folclorista e professora. Em cerca de 60 anos de carreira, gravou mais de 80 discos. Como intérprete, sua gravação mais famosa foi "Moda da Pinga", dos versos "Co'a marvada pinga é que eu me atrapaio/ Eu entro na venda e já dô meu taio/ Pego no copo e dali num saio/ Ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio/ Só pra carregá é queu dô trabaio, oi lá!".

Na televisão, iniciou a sua carreira artística junto com a TV Record, onde foi a primeira cantora contratada. Depois, passou pela extinta TV Tupi e outras emissoras, até chegar à TV Cultura para comandar o "Viola, Minha Viola", que apresentava desde os anos 1980.

Inezita manteve a rotina de apresentações e gravações do programa até 2014. Em dezembro, ela chegou a ser hospitalizada após cair dentro da casa de sua filha, em Campos do Jordão, no interior de São Paulo. Desde então, não participou mais do seu tradicional programa de música sertaneja.