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Show celebra centenário de Edith Piaf com mais música e menos tragédia

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

13/03/2015 06h00

As dores e as delícias de uma das maiores intérpretes que já existiram chegarão aos palcos brasileiros nesta sexta-feira (13), em Belo Horizonte. Ou quase. No ano de seu centenário, a cantora Edith Piaf é revisitada em toda a sua intensidade no espetáculo francês "Piaf! O Show". Além de Belo Horizonte, haverá apresentações no Rio de Janeiro (14 e 15), Porto Alegre (17), Curitiba (19) e São Paulo (20 e 21) .

No musical, o começo da carreira, quando La Môme Piaf ("pequeno pardal", em português, como costumava ser chamada) trabalhava nas ruas do bairro Montmartre nos anos 1930, de bar em bar por míseros trocados, está devidamente representado, mas suas tragédias –o abandono que sofreu na infância, as perdas do filho e do marido e a dependência química--, não terão tanto peso no musical.

"Duas partes da vida de Piaf estão nesse musical. No primeiro ato, ela é uma jovem cantando nas ruas e, no outro, representamos um de seus concertos mais famosos de 1961, no Olympia. A tragédia é o menos importante. ‘Mon Dieu’ e outras canções poderosas de seu repertório já traduzem essa fase”, explica a própria Piaf do espetáculo, a cantora Anne Carrare. “É muito difícil, porque ela era uma pessoa muito frágil. Queríamos manter o lado positivo da vida da Piaf. O vício em morfina surgiu porque ela era muito doente e fraca.” Mesmo assim, a tarefa não foi fácil para a atriz de 29 anos. "É preciso ter uma personalidade forte para interpretá-la", reconhece.

Embora seja inspirado no filme "Piaf – Um Hino ao Amor", de Olivier Dahan, que levou Marion Cotillard a ganhar o Oscar de melhor atriz por sua interpretação visceral da cantora, o espetáculo tem como missão expurgar os demônios e focar na força artística da artista.

Mesmo por telefone, direto de Paris, Anne demonstra uma timidez que inicialmente contrasta com a persona dramática de Piaf, embora ela guarde intimidade com o repertório da cantora desde a infância. "Piaf faz parte da minha vida desde muito cedo. Eu costumava ouvir todas as canções com a minha avó. Ficava impressionava com essa voz tão particular e poderosa. Eu cantava para minha avó e descobri que eu queria me tornar uma cantora profissional. Como você sabe, Piaf se tornou profissional aos 22 anos, então eu fui atrás para aprender. Foi uma paixão para mim."

Piaf

  • Divulgação

    Piaf foi uma pessoa importante, de canto forte, emocional, e que passava todo o amor, o poder e sua personalidade nas melodias. Essas canções são reconhecíveis, porque são a vida. Com todos seus altos e baixos

    Anne Carrere, atriz
No palco, acompanhada de quatro músicos, ela arrancou elogios da crítica francesa. Especialmente da cantora Germaine Ricord. Amiga e confidente de Piaf, Ricord disse aos quatro ventos que Anne era quem mais se aproximava de Piaf nos shows. Aficionada pelas "chansons" francesas e com experiência no canto e na dança, Anne pediu um encontro com Ricord e Bernard Marchois, presidente do Comitê Piaf e diretor do Museu Piaf de Paris Timesquare, para se aproximar ainda mais da personagem que representaria. 

“Germine era parceria de turnê dela e relembrou das vezes em que Piaf tomava de assalto o palco, sem músicos, e cantava à capella”, conta. As histórias e o gestual foram aos poucos incorporados por Anne. “Piaf era sempre performática, operística. Ela abria as cortinas, e o público não acreditava.”

Canções da vida
Antes de vir ao Brasil, a atriz fez questão de pesquisar a razão de Piaf também ser conhecida em um país com clima e cultura tão diferentes. “Sei que vocês têm Bibi Ferreira aí. Pesquisei no YouTube”, confessa, citando a atriz e cantora que também interpreta canções famosas na voz de Piaf.

Ela acredita que a força das interpretações da artista francesa, que após mais de 50 anos de sua morte ainda ultrapassa fronteiras, é o que coroa o centenário da cantora. “Ela foi uma pessoa importante, de canto forte, emocional, e que passava todo o amor, o poder e a sua personalidade nas melodias”, observa. “Essas canções são reconhecíveis, porque são a vida. Com todos seus altos e baixos.”