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Há 50 anos, Louis Armstrong lotava shows na parte comunista de Berlim

19.mar.1965 - Louis Armstrong chega a Berlim para se apresentar na parte comunista da cidade - Bundesarchiv, Bild 183-D0319-0017-007 / CC-BY-SA
19.mar.1965 - Louis Armstrong chega a Berlim para se apresentar na parte comunista da cidade Imagem: Bundesarchiv, Bild 183-D0319-0017-007 / CC-BY-SA

20/03/2015 11h55

Ao ver o Muro de Berlim pela primeira vez de dentro de seu ônibus, no lado comunista da cidade, há 50 anos, o astro do jazz Louis Armstrong lamentou: "Que sofrimento para milhões de pessoas. Vou dar o melhor de mim para fazê-las felizes!".

Armstrong via-se como embaixador da convivência pacífica, e sua mensagem foi entendida. Ele reconheceu que sua turnê não tinha apenas um caráter musical. Durante sua visita, o trompetista refletiu bastante sobre os movimentos civis no Leste Europeu e nos Estados Unidos.

Recepção calorosa

Naquele mês de março de 1965, o grupo Louis Armstrong All Stars encerrou na Alemanha Oriental uma turnê pelos países do Leste Europeu. Ao desembarcarem no aeroporto berlinense de Schönefeld, Armstrong e seus músicos foram calorosamente recebidos.

O músico chegou a interromper uma entrevista para se juntar ao grupo Berliner Jazz Optimisten e cantar sem microfone. "Um momento inesquecível", comentou na ocasião um repórter que documentava ao vivo o desembarque.

Para a Alemanha comunista, a passagem de uma estrela do porte de Louis Armstrong foi "o" acontecimento. "Quando você colocar seus lábios no trompete, vai encantar milhares" e "Satchmo veio, soprou e venceu!" estampavam as manchetes dos principais jornais de Berlim. Satchmo virou o apelido de Armstrong. A expressão vem de sack mouth, boca de saco.

Pagamento peculiar

As entradas para os 15 concertos de Louis Armstrong na Alemanha Oriental foram rapidamente vendidas. Uma das peculiaridades da turnê: o cachê foi pago em artigos da fábrica de lentes Zeiss, por causa do baixíssimo valor do marco da Alemanha Oriental.

Ao sentirem falta da vida noturna no lado comunista, os músicos do grupo um dia resolveram atravessar a famosa passagem de fronteira no Checkpoint Charlie para a Alemanha Ocidental. Ao controlarem os passaportes e verem de quem se tratava, os sisudos policiais, fortemente armados, simplesmente gritaram: "Armstrong, é o Louis Armstrong, pode passar!" E, no lado ocidental, controlado pelos americanos, foi a mesma euforia.

O baixista Arvell Shaw disse que também nas noites seguintes os músicos ultrapassaram a fronteira para ir a um bar em Berlim Ocidental. E nem precisavam mais levar documentos, tão conhecidos já eram nos dois lados.
Início e consolidação da carreira

Louis Daniel Armstrong nasceu em 4 de julho de 1900, em Nova Orleans. Aos 13 anos, começou a tocar trompete, e aos 18 já integrava a orquestra de Kid Ory. Em 1922, King Oliver o convidou para integrar sua orquestra em Chicago, onde Armstrong se consolidou como um dos maiores intérpretes de jazz de todos os tempos.

Armstrong pouco se deixou influenciar por novas tendências no jazz. Mesmo assim, foi o responsável por duas inovações: introduziu a figura do solista virtuose, que se impõe sobre a pura técnica dos demais do grupo, além de ter sido o primeiro a praticar o scat, vocalização imitando instrumentos. Louis Armstrong, ou "Satchmo", faleceu em 6 de julho de 1971 em Nova York.