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Da esquerda, Dead Fish lança disco com nova formação e ataca protestos

Dead Fish em nova formação, mas com os mesmos ideias: Rodrigo, Alyand, Ricardo e Marcão - Euardo Orelha/Divulgação
Dead Fish em nova formação, mas com os mesmos ideias: Rodrigo, Alyand, Ricardo e Marcão Imagem: Euardo Orelha/Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

03/04/2015 06h00

A polêmica aconteceu poucos dias depois das manifestações que pediam o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Instigado por uma provocação de um internauta no Facebook, a respeito do posicionamento político da banda de hard core, o Dead Fish respondeu -- com maiúsculas: “SOMOS DA ESQUERDA, SE VOCÊ É DA DIREITA E COLA NO SHOW, VOCÊ ESTÁ NO LUGAR ERRADO! FIM!”.

A afirmação caiu como uma provocação em alguns dos seguidores, embora a banda nunca tenha disfarçado o conteúdo político e contestador nas letras e nas apresentações –influência direta de bandas punk como Dead Kennedys  e Bad Religion. “Eu sou de direita, quer dizer que não sou bem-vindo?”, rebateu um fã. “Eu não curto a politica de esquerda, mas curto muito o som”, escreveu outro. “Cheguei a receber uma ligação de um amigo da Argentina: ‘é sério mesmo que as pessoas achavam que um dia vocês tiveram uma postura mais à direita?’”, conta o vocalista Rodrigo Lima, em entrevista ao UOL.

O comentário no Facebook não foi uma iniciativa dos integrantes – Rodrigo nem sequer sabe mexer nas redes sociais --, mas sim de um integrante da equipe de redes sociais da banda. Acabou perdendo o emprego, embora não tivesse dito nenhuma mentira. “É um momento ruim para se posicionar. Até porque o governo que nós temos supostamente é da esquerda, o que eu não concordo. É uma cagada chamar quem colaborou com a banda de otário. É ridículo. Mas definitivamente, se você pegar todos nossos discos,  nossa agenda não premia esse conservadorismo. Minha vida inteira eu fui contra isso”, rebate.

Dead Fish

  • Meu primeiro show, quando era garoto, foi do Ultraje a Rigor, eu tinha 12 anos. Eu tenho certo respeito artístico, mas o respeito pessoal acabou completamente. Não sei, parece que eles estão ganhando salário da 'Veja' e da Globo. A gente muda, né?

    Rodrigo Lima, sobre o posicionamento político de Lobão e Roger, do Ultraje a Rigor
Os tempos mudam
Prestes a completar 25 anos de carreira, a banda volta com novíssimo disco, “Vitória”, e uma mudança na sonoridade. A bateria está diferente e há um timbre na guitarra menos melódico do que o habitual. Da formação original, restou apenas Rodrigo. Marcão substituiu Nô na bateria, e o guitarrista do Sugar Kane, Rick – o mais novo da trupe, com 29 anos -- substiuiu Phillipe  quando a banda já se preparava para entrar no estúdio.

Rodrigo explica que as mudanças foram pacificas. “Nós começamos adolescentes. Você pensa uma coisa, mas aí vira um jovem adulto e pensa outra, aí vira um adulto velho, pensa outra. Quando a gente viu que não estava funcionado bem, sentamos e resolvemos”, explica. Como o vocalista mesmo relativiza: “Os tempos mudam”. Menos seus ideais.

"Gigante e Adormecido"

  • Divulgação/Facebook/Porão do Rock

    Foi de oposição a imposição / Toma um direto de direita! / Deixe os gritos nas ruas e não no porão! / Incorporou o ativista do Estado / E agora chama o Golpe de revolução / Copiou, colou essa imagem do passado / deletando todo o sangue pelo chão

    Trecho da nova música, "Gigante e Adormecido"
Perdeu o respeito
Entre as novas músicas, há uma resposta direta às manifestações de ódio aos nordestinos, com um título irônico em francês: “Nous Sommes Les Paraibe” [Nós somos os Paraíba] e uma crítica aos protestos contra a corrupção, que desde 2013 têm deixado espaço para um grupo em especial pedir intervenção militar.

“Eu vejo isso como uma baita confusão e alguém está usando isso para se beneficiar. Usando essa coisa da ética e do fim da corrupção para direcionar o discurso. Vejo como um terceiro turno da eleição, apesar de eu não votar há muitos anos”, observa. “Não consigo ver algo homofóbico, racista, que chama mulheres de vaca e que pedem para que os nordestinos voltem para seu país como algo que esteja aliado a algo progressista.”

A canção talvez seja a única a ter uma visão negativa desses protestos. Em outro extremo, Lobão e Roger do Ultraje a Rigor – tem composto canções de apoio ou desfilado comentários a favor do impeachment. A polarização, esse jargão político, quem diria, também está na música.

“Meu primeiro show, quando era garoto, foi do Ultraje a Rigor, eu tinha 12 anos. Eu tenho certo respeito artístico, mas o respeito pessoal acabou completamente. Não sei, parece que eles estão ganhando salário da 'Veja' e Globo. A gente muda, né?”