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Festival da ostentação, Tomorrowland se garante com "magia" e DJs de rádio

Tiago Dias e Gisele Alquas

Do UOL, em Itu

04/05/2015 10h02

A música eletrônica hoje é um dos carros-chefes de qualquer festival de música que se preze. Com perfil mais indie, o Lollaplooza Brasil deste ano viu os DJs Calvin Harris e Skrillex arrebatarem os maiores públicos. O Rock in Rio, mais eclético, promete, para sua nova edição em setembro, 40 DJs na programação e um robô gigante no palco. Nada mais natural que o maior festival de música eletrônica do mundo encontrasse no Brasil o lugar perfeito para botar seus ovos de ouro.

O Tomorrowland desembarcou neste fim de semana na Fazenda Maeda, em Itu, a 101 km da capital paulista, com toda a pompa e fama vindas da Bélgica, seu país de origem. Em um momento em que os grandes festivais passam a ser vistos como parque de diversão, um festival que promete música eletrônica e uma "experiência" acaba sendo uma garantia: você vai dançar mesmo que você não entenda nada sobre o estilo.

O evento entregou para 180 mil pessoas uma versão ligeiramente menor do original, mas com toda a bagagem que fidelizou verdadeiros "seguidores" pelo mundo --palcos megalomaníacos com elementos circenses, efeitos de luzes e intervenções teatrais, de "gnomos" saltitantes e labaredas de fogo a mensagens em tom épico, como "Live Today, Love Tomorrow, Unite Forever" [em português: vivam hoje, amem amanhã, unam-se para sempre]. Tudo para intensificar a experiência de cada drop [momento da música em um crescente de batidas, seguido de uma mudança brusca de ritmo]. Com essa receita, o Tomorrowland provou que veio para ficar, mesmo sendo o festival mais caro do país.

Segundo o público ouvido pelo UOL, o gasto médio por dia foi de R$ 2.000 reais, incluindo deslocamentos, ingresso (que chegava a custar R$ 799 por dia no espaço VIP), alimentação (R$ 16,50, uma porção de batata frita) e estacionamento (R$ 200 por dia, com voucher comprado antecipadamente). Para os fãs de destilados, uma dose de vodca Absolut custava R$ 27,50. Nada de roda-gigante (como no Lollapalooza) ou tirolesa (no Rock in Rio) --a ostentação provou ser mais divertida. No lugar de atrações paralelas, áreas exclusiva como um espaço gourmet (R$ 120 por pessoa, por uma refeição, acompanhada de espumante) e uma piscina (com entrada limitada para clientes de uma bandeira de cartão de crédito).

"Magia"

O grande leque de atrações e estilos (entre eles, o experimento orgânico dos brasileiros do Aldo e o minimal house de Jamie Jones) acabou não importando tanto assim. A maioria dos entrevistados pelo UOL elegeram os DJ's mais famosos de música dance e pop --isto é, as músicas mais radiofônicas--, como os seus favoritos.

Steve Aoki, David Guetta e Armin Van Buuren só não conseguiram ficar à frente de uma atração, citada por nove entre dez entrevistados: a "vibe", a magia do evento. Fernando José, 23, de Bauru (SP), disse que conhecia apenas dois dos 150 DJs da programação. Isso não o impediu de se impressionar com o festival. "A magia do lugar é incrível, a melhor coisa que eu fiz na minha vida foi estar aqui", justificou.

Enquanto raves, como xxxperience e Tribe, reúnem cerca de 30 mil pessoas em apenas uma noite, o festival propõe uma interação maior. São 60 mil pagantes por dia. Por ser uma marca já conhecida, atrai até mesmo estrangeiros de todo canto --de Chile a Israel. O clima de Copa do Mundo é, de fato, contagiante. Bandeiras estão por todos os lugares, principalmente no palco principal, com seu enorme espaço em formato de arena.

Os amigos Igor Jordão, Samuel Messias, Caik Felix e Renato Oliveira, que economizaram durante nove meses para ir ao Tomorrowland: "Nós somos sortudos" Imagem: Tiago Dias/UOL

A paixão pelo festival move montanhas até para os menos abonados. Com um grupo de amigos, Samuel Menezes, 22, erguia um cartaz escrito "We Are Lucky Ones" [Nós somos sortudos]. A mensagem revelava um sacrifício da turma. Com faixa salarial entre R$ 1.500 e R$ 2.000, eles contam que precisaram manter uma poupança durante nove meses para poder curtir o tão sonhado fim de semana. O esforço foi comemorado. Fã de Hardwell, Samuel diz: "É obrigação estar aqui".

No camping oficial do evento, o Dreamvile, R$ 1.600 era o preço da barraca com dois colchões de ar, quatro sacos de dormir e quatro almofadas. E só. O banho de quatro minutos custava R$ 15, e uma recarregada básica no celular, R$ 16,65. Cristiano Magalhães, de Belo Horizonte, escolheu o acampamento para passar o fim de semana. R$ 3 mil a menos no bolso, mas nenhum arrependimento. "Estou chocado com tudo que vi aqui. Já fui na Tribe e xxxperience e as duas não chegam aos pés do Tomorrowland. Aqui a estrutura é ótima, os palcos são bem feitos. Nunca vi nada igual. Esse lugar é o paraíso". Apaixonado por música eletrônica, ele garante: "Fiquei sabendo que o festival vai ter mais cinco edições e virei em todas".

Público do Tomorrowland gasta muito e não conhece atrações, mas tudo bem

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