Desfalcado, Buena Vista faz última turnê no país e pede: "venham pra Cuba!"
Desde que foi formado em 1996, pelo guitarrista americano Ry Cooder, o coletivo Buena Vista Social Club já sofreu oito dolorosas baixas. Lendas da música cubana da primeira metade do século 20, Compay Segundo, Rubén Gonzaléz e Ibrahim Ferrer foram morrendo ano a ano. Dos integrantes da velha guarda, que de fato frequentaram a histórica boate de Havana nos anos 1940, que dá nome ao projeto, resta apenas a cantora Omara Portuondo.
Dezesseis anos após a primeira turnê internacional —-retratada com sensibilidade no documentário "Buena Vista Social Club", de Wim Wenders, indicado ao Oscar em 2000—, chegou, enfim, a hora de os cubanos dizerem adeus.
“Todos os dias prestamos uma homenagem. Cada música que tocamos é dedicada a cada um que morreu. O show é para eles”, diz ao UOL o músico Barbarito Torres, que se apresenta pela última vez em São Paulo com a orquestra Buena Vista Social Club neste sábado (16), no HSBC Brasil.
Embora desfalcado, o grupo mantém incólume a identidade sonora: percussiva, quente e irresistivelmente dançante. E, para Torres, famoso por tocar pelas costas seu alúde em um show mostrado no filme de Wenders, a atual turnê ocorre no momento mais propício. “Despedir-se agora foi, primeiro, uma decisão dos empresários. Mas também pesou o fato de ainda estarmos em forma. Acho que essa é melhor forma de terminar, assim como acontece na carreira dos esportistas.”
barbarito
Que venham! Cuba é um paraíso! Qualquer um consegue ser um doutor, engenheiro. Na saúde estamos muito bem. Claro, faltam muitas coisas por causa do bloqueio. Já chegaram até a nos colocar na lista de terroristas! Digo que somos um terror mesmo, mas na música, no esporte, na medicina (risos)
A memória dos antigos companheiros é defendida por Barbarito ao lado da cantora Omara Portuondo, do trompetista Guajiro Mirabal e do trombonista e maestro da orquestra Jesus "Aguaje" Ramo. São 15 integrantes fixos, a maioria presente no álbum lançado em 1997, vencedor do Grammy, e no filme.
Com fãs numerosos por aqui, os músicos fazem do Brasil parada obrigatória nos giros internacionais, mesmo nos shows de seus projetos solos, que serão mais explorados a partir de agora. “Costumo dizer que, se você consegue ter êxito no Brasil, você consegue no mundo inteiro. O Brasil é uma praça muito fechada para culturas latinas. E aqui todo o mundo entende de música ou parece ser músico.”
O sucesso do Buena Vista deu proeminência internacional a ritmos antes relegados ao status de "kitsch", como o bolero, a guajira e o danzón, tirando da penumbra um período de efervescência cultural. Um ostracismo que pode ser atribuído tanto ao embargo econômico imposto pelos Estados Unidos quanto ao próprio regime do país, que, após a revolução de 1959, proibiu as casas de shows, jogos e diversão.
Esses estabelecimentos eram vistos como instrumentos de propaganda capitalista, ao "promoverem o hedonismo". A decisão política marcou o fim da era dourada das décadas de 1930 e 1940.
“Resgatar e popularizar a nossa cultura sempre foi o nosso objetivo maior. E é por causa do Buena Vista que hoje o mundo sabe o que está acontecendo em Cuba. E não só no nosso estilo de música”, diz Torres, que vê com bons olhos a retomada das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos.
“As conversas ainda estão começando. Mas me parece muito interessante. O que Cuba quer é que o acordo seja baseado no respeito. Que os Estados Unidos respeitem nossas opiniões e formas de pensar”, entende o músico, que faz um convite aos brasileiros: assim como recomendam os opositores do atual governo petista, de viés socialista, ele diz que é para ir mesmo para Cuba.
“Que venham! Cuba é um paraíso! Qualquer um consegue ser um doutor, engenheiro. Na saúde estamos muito bem. Claro, faltam muitas coisas por causa do bloqueio. Já chegaram até a nos colocar na lista de terroristas! Digo que somos um terror mesmo, mas na música, no esporte, na medicina (risos).”
Quem já morreu no Buena Vista Social Club
Manuel "Puntillita" Licea (vocal) (2000)
Compay Segundo (vocal, tres cubano) (2003)
Rubén González (piano) (2003)
Ibrahim Ferrer (vocal) (2005)
Pío Leyva (vocals) (2006)
Anga Díaz (percussão) (2006)
Orlando "Cachaito" López (contrabaixo) (2009)
Manuel Galbán (violão) (2011)
Formação atual
Luis Barzaga (backing vocal)
Joachim Cooder (drums)
Ry Cooder (guitarra)
Juan de Marcos González (violão, vocal, percussão)
Carlos González (percussão)
Manuel "Guajiro" Mirabal (trompete)
Eliades Ochoa (vocal, guitarra)
Julienne Oviedo Sanchez (percussão)
Omara Portuondo (vocal)
Barbarito Torres (alaúde)
Amadito Valdés (percussão)
Alberto "Virgilio" Valdés (percussão)
Lázaro Villa (vocals, percussão)
Jesus "Aguaje" Ramos (trombone)
Papi Oviedo (tres cubano)
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