Como estaria Cazuza hoje, aos 57 anos?
Imaginar como Cazuza seria hoje é um exercício impossível, justamente porque o cantor e compositor marcou sua excepcional, mas curta vida artística por ser imprevisível. Independente e rebelde, sempre fez parte do “partido do eu sozinho”. Foi um dos tipos mais fascinantes e, ao mesmo tempo, contraditórios que conheci.
Nascido e criado em um ambiente de classe média alta no Rio, Cazuza tinha uma visão crítica sobre a elite econômica, mas nunca conseguiu se dissociar totalmente da imagem de “rebelde sem causa”.
É exemplar, neste sentido, a sua atitude ao lançar “Ideologia”, em abril de 1988.” Este seu terceiro LP solo trazia o samba-rock “Brasil”, música que se tornaria, com a ajuda da novela “Vale Tudo”, uma espécie de hino da época – “contra tudo que está ai”, a corrupção, os negócios escusos, a enganação política, a passividade da população etc.
Foi a última vez que o entrevistei. A canção ainda não havia estourado, mas Cazuza parecia prever o sucesso que faria. E já mandava avisar que não gostaria de ser visto como porta-voz da insatisfação geral com o país que a letra retratava. “Não quero mais segurar cartaz. Não quero nem que cachorro me siga na rua”, me disse, na entrevista que foi publicada na “Folha”.
Cazuza era uma figura pública bem particular. Não tinha pudor de fazer escândalos por onde passava (era mesmo exagerado), mas ao mesmo tempo se incomodava com o que diziam a seu respeito.
Já estava bem doente em abril de 1988 (morreria dois anos depois), mas ainda não havia reconhecido publicamente que era portador do vírus HIV: “Não dá para o repórter chegar e me perguntar: ‘Como vai tua Aids? Como vai teu câncer?’ Não posso dar satisfação sobre o que está acontecendo com o meu corpo. Isso é assunto meu e do meu médico”.
Como estaria Cazuza hoje, aos 57 anos? Realmente, não me arrisco a dizer. Sua mãe, Lucia Araujo, garante que ele ainda seria “moderno e contestador”. Será? As pessoas mudam muito. Veja, por exemplo, Lobão, que Cazuza admirava muito pela rebeldia e independência...
Cazuza faz falta, muita falta, mas tendo a concordar com Leoni. Como diz o também amigo e parceiro, com a energia que tinha “ele durou o que era pra durar mesmo”. E deixou um legado extraordinário.
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