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Na era do gospel, Aline Barros diz: Entenderam que não devem nos ignorar

A cantora de música gospel Aline Barros - Divulgação
A cantora de música gospel Aline Barros Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

12/06/2015 13h46

Ela já ganhou seis Grammys. Seus discos, sempre platinados, vendem tanto quanto os álbuns de Roberto Carlos. Shows, então, chegam facilmente a atrair 30, 40 mil pessoas. Sua autobiografia foi um dos livros mais vendidos em 2010. Poderíamos bem estar falando de Ivete Sangalo, mas a estrela pop em questão é a cantora gospel Aline Barros.

O sucesso da pastora carioca de 38 anos, que em 2015 comemora duas décadas de seu primeiro disco, é apenas a ponta do iceberg de um momento dourado para o discurso religioso. De anos para cá, artistas-pregadores vêm levando com frequência cada vez mais suas mensagens de louvor à música, literatura e até ao cinema. Alguns nomes, como Aline, faturam alto com isso. Em 20 anos de carreira fonográfica, são cerca de 7 milhões de discos vendidos. Mais, por exemplo, do que Daniela Mercury comercializou no mesmo período.

"Acho que a igreja tem crescido e as pessoas entenderam que nós não somos um povo que deve ser ignorado. A gente vê que as pessoas e as empresas têm realmente investido, direcionado o foco para o gospel. Não sei aonde vamos chegar, mas fico muito feliz com isso", diz Aline, que foi a primeira cantora cristã a se apresentar em um programa da Rede Globo, em 1995.

Com desdobramentos ainda incertos, a invasão cristã da qual Aline faz parte é vista por sociólogos e cientistas políticos como reflexo da nova guinada conversadora no país. Quase 50 anos depois das famílias marcharem contra a "crise de valores" promovida pela contracultura dos anos 1960, os religiosos nunca tiveram tanta representatividade nas esferas política, econômica e social.

Aline Barros

  • O que é ser conservador? Eu não sei se somos. Acho que, politicamente, as coisas sempre foram muito difíceis para nosso país. Se não fosse a oração da igreja, confesso que não saberia dizer onde estaríamos hoje.

    Aline Barros

"O que é ser conservador? Eu não sei se somos. Acho que, politicamente, as coisas sempre foram muito difíceis para nosso país. Se não fosse a oração da igreja, confesso que não saberia dizer onde estaríamos hoje. Existe uma graça sobre o país e isso é resultado da oração da igreja."

De jeito meigo e fala delicada, Aline vira uma leoa da fé no palco. Com a Bíblia na mão, dá sermões intensos e lê versículos antes de cantar as baladas grandiosas típicas do gospel brasileiro. Em alguns momentos, ela chega a chorar de emoção. Com estilo pop, já chegou a ser comparada à sertaneja Paula Fernandes. Referências? Só Jesus.

"Não tenho nenhum artista favorito, em específico, ninguém. Tem várias pessoas que tenho um carinho especial no meio [artístico]. Como o Roupa Nova, que participou do meu primeiro disco. Mas minhas referências são só do universo da igreja”, restringe.

Sobre uma possível abertura religiosa a temas antes considerados tabus, como vem sinalizando nos últimos anos o Papa Francisco, Aline é litúrgica. Cada um é livre para fazer o que quiser, como os evangélicos que protestaram contra a homofobia na última edição da Parada Gay, em São Paulo. Mas não foi assim que Jesus ensinou.

"Nós achamos que devemos continuar firmes no que a Bíblia ensina, naquilo que a gente entende como princípio para uma família. Como igreja e pessoas que seguem a palavra de Deus, buscamos a coerência".

A coesão, para Aline, é também seguir com sua missão de enviada divina, o que significa diversificar ao máximo seu produto ungido. Neste sábado (13), ela grava o décimo DVD da carreira, no HSBC Arena, no Rio. Os negócios não param por aí.

"Tenho projeto de um novo DVD infantil, que sai agora em julho.Temos um livro que está sendo preparado no segundo semestre, o 'Extraordinária Graça', com o meu testemunho, para sair casado com o DVD do show no Rio. Também tenho um CD em inglês para sair no segundo semestre. E ainda teremos uma turnê infantil para o futuro. Vou te falar, graças a Deus,a gente não para nunca", diz Aline, garota propaganda do "Faceglória", uma nova rede social evangélica, e da grife de moda religiosa Nítido.