Fita K7 perdida de Cássia Eller vira disco acústico; ouça faixa inédita
Cássia Eller era uma menina de 21 anos quando promoveu seu primeiro acústico. Longe dos holofotes da MTV, o "show" foi particular, feito de forma amadora na casa de sua então namorada de Brasília, a jornalista Elisa de Alencar. A mesa de som, um aparelho stereo três-em-um, top de linha em 1983, que permitia a qualquer um plugar um microfone e registrar em K7 sua própria fitinha demo.
A raridade, “O Espírito do Som - Vol. 1”, está sendo lançada oficialmente em CD nesta quinta (9). Com etiqueta de item de colecionador, é o primeiro dos três volumes que contarão uma história perdida na carreira de Cássia Eller: o período compreendido entre o início nos musicais de teatro, quando ainda gastava sola na capital federal, e o primeiro álbum de estúdio, epônimo, gravado no Rio em 1990.
OUÇA A VERSÃO DE GOLDEN SLUMBERS INCLUÍDA NO ÁLBUM
"Costumo brincar que é como na série 'Guerra nas Estrelas', que lançou primeiro os episódios 4,5 e 6 e só depois lançou o 1, 2, 3. Foram sete anos de intervalo, quando ela já sonhava em fazer uma carreira", diz ao UOL o produtor do álbum e violonista Rodrigo Garcia, que tocou com Cássia entre 1997 e 2001, no auge comercial da cantora.
A fita foi garimpada em 2013, depois que ele começou a pesquisar e catalogar o acervo inédito de Cássia, ao lado da viúva e do filho dela, Maria Eugênia e Francisco, o Chicão.
Após o apelo de Garcia, Elisa descobriu a fita em Olinda, nas caixas da casa de seu irmão Pedro, que a recebera como um presente de Cássia Eller nos anos 1980. Foram três décadas entregue ao acaso –e ao mofo e umidade oxidante da cidade do litoral de Pernambuco. Por pouco o material não foi totalmente inutilizado.
"Era um som que tinha espaço pra vinil, K7, equalizador, tudo bonitinho. Ela colava o microfone dela, sentava e cantava para ensaiar os arranjos. Fazia isso o tempo inteiro. Foi uma época em que ela vivia lá em casa", conta Elisa.
"Botei a fita num aparelhinho e consegui reconhecer que era mesmo a Cássia, porque me lembrava das músicas, mas não deu para ouvir quase nada", revela a jornalista, que precisou levar a fita a um estúdio de Brasília, onde foi feita a primeira restauração pré-mixagem.
O álbum traz dez versões inéditas, uma espécie de guia para o show que Cássia Eller preparava na época. Nove delas jamais foram lançadas de outra forma. Estão lá covers de Beatles ("For No One", "Happiness Is a Warm Gun", "Golden Slumbers"), um clássico de Billie Holiday ("Good Morning Heartache"), Jacques Brel ("Ne me Quitte Pas"), Roberto e Erasmo ("Sua Estupidez"), Luiz Melodia (“Segredo”), Ney Matogrosso ("Airecillos", de Marlui Miranda) e Ednardo ("Ausência").
Com o charme da precariedade em que foram gravadas, as músicas revelam uma menina Cássia de voz forte e límpida, com timbre um pouco mais agudo. Iniciante nos palcos, ela ainda não estava pronta, mas já impressionava. "É uma fita caseira. Na original, em umas partes, tem hora que ela está cantando e alguém abre a porta, e ela grita 'peraí!' (risos)", lembra Elisa.
Ainda sem previsão de lançamento, os próximos dois volumes da série "Brasília" não possuem repertório fechado. Garcia adianta, no entanto, que serão focados em shows (o primeiro) e em gravações oriundas de musicais da época.
"Existem coisas de musicais como 'Surabaya Johnny', uma versão para uma canção do Bertolt Brecht feita pelo Luís Antônio Martinez Corrêa, irmão do Zé Celso. Tem coisas como 'Chocante' do Eduardo Dusek, tem 'Summertime', coisas do show 'Dose Dupla', que ela fazia com a Janette Dornellas. Estamos grimpando".
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