Longo e épico, "The Book of Souls" repete fórmula desgastada do Iron Maiden
Primeiro trabalho duplo de estúdio do Iron Maiden, "The Book of Souls" é um álbum longo, épico e que prima pela autorreferência. O UOL ouviu a íntegra do disco, que chega oficialmente ao mercado na próxima sexta-feira (4) e será disponibilizado no UOL Música Deezer.
Embora desgastada, a receita utilizada deve acertar em cheio os fãs da "Donzela", principalmente os mais afeitos à verve progressiva da banda, que desde o disco “The X Factor” (1995) serve de guia em praticamente todos os álbuns.
Caso esse não seja o seu caso, é melhor nem chegar perto. O Iron Maiden clássico da primeira metade dos anos 1980, de faixas mais curtas, letras coléricas e até certa pendência ao punk rock, não existe mais nem nunca voltará.
Isso não quer dizer que "The Book of Souls" seja descartável. Pelo contrário: tudo depende da sua fidelidade ao idioma do grupo —e de uma eventual disposição a enxergar o "copo meio cheio".
Se falta ousadia nos arranjos, o vocal de Bruce Dickinson, gravado pouco antes de ser diagnosticado com câncer na língua, é digno de seus melhores trabalhos.
Se as introduções soam exageradas e os solos, repetitivos, há mudanças de andamento, refrãos para levantar arenas e até arranjo de piano e orquestra —uma novidade.
Veja abaixo o faixa a faixa do álbum.
Disco 1:
1. "If Eternity Should Fail" (Dickinson) 8:28
A intro de um minuto e meio é uma prévia sobre do que se trata o álbum. Traz o baixo "cavalgado" de Steve Harris e a mesma linguagem épica de "Caught Somewhere in Time", "Moonchild" e "Satellite 15 - The Final Frontier". Apesar de ser a cara do Iron Maiden, foi composta originalmente por Dickinson para sua carreira solo.
2. "Speed Of Light" (Smith/Dickinson) 5:01
Primeira música de trabalho do disco. Refrão grudento e riffs de jeitão setentista, à la Montrose, antiga influência da banda. A dinâmica, no entanto, é a do mais puro Iron Maiden. Poderia ser um dos singles de "Prayer for the Dying" (1990) ou "Fear of the Dark" (1992).
3. "The Great Unknown" (Smith/Harris) 6:37
Mais uma introdução extensa. Do início lento parte para um groovie heavy, ornado por vocais grandiosos de Dickinson. É genérica, mas pode funcionar se você é daqueles que ama "The Clansman", "Blood Brothers" ou "The Sign of The Cross".
4. "The Red And The Black" (Harris) 13:33
Segunda faixa mais longa do álbum: são 13 minutos. Para embarcar é preciso apreciar "Rime of the Ancient Mariner" e, o principal, não se importar com os insistentes "ô-ô-ôs" do refrão. Há mudanças de andamento, teclados e solos, muitos solos. Alguns dos vários excessos do álbum.
5. "When The River Runs Deep" (Smith/Harris) 5:52
Música com jeito de single. Bateria seca e acelerada de Nicko McBrain, marcadas por quebradas de ritmo no refrão e certo potencial radiofônico. O recado é mais direto. Faz lembrar bons momentos do final dos anos 1980. É certamente uma das melhores do disco.
6. "The Book Of Souls" (Gers/Harris) 10:27
Não que isto seja exatamente um problema para fãs do Iron Maiden, mas soa repetitiva. É épica ao estilo oitentista, mas sem a inspiração dos velhos tempos. A intro é reproduzida no final. Você já ouviu isso antes.
Disco 2
1. "Death Or Glory" (Smith/Dickinson) 5:13
Depois da pompa ao final do primeiro disco, algo mais pesado e enxuto para iniciar o segundo álbum. Coincidência ou não, é assinada por Bruce Dickinson e Adrian Smith, os mesmos de "Speed Of Light" —e da clássica "Flight of Icarus". Em alguns momentos, nota-se ecos de "Running Free".
2. "Shadows Of The Valley" (Gers/Harris) 7:32
Referência deliberada: a introdução é uma cópia de "Wasted Years". O restante vem numa pegada ao estilo "Powerslave" (1984), com bastante energia. Deve funcionar bem ao vivo.
3. "Tears Of A Clown" (Smith/Harris) 4:59
O início com tempo quebrado dá a impressão de que Iron Maiden entrou na onda prog metal do Dream Theater. Ou que Stevie Harris andou trocando figurinhas com Tom Morello (Rage Against The Machine). Mas, calma, é só pegadinha: a aguardada homenagem ao ator Robin Williams é bem mais protocolar.
4. "The Man Of Sorrows" (Murray/Harris) 6:28
É a balada do álbum. E dura pouco. Logo a música se transforma em um metal mais tradicional e melódico. Não espere originalidade. A temática e o próprio título, sem o artigo inicial, já foram usados em uma música de Bruce Dickinson do álbum "Accident of Birth" (1997).
5. "Empire Of The Clouds" (Dickinson) 18:01
A mais longa faixa não só do disco, mas de toda a carreira do Iron Maiden. Traz climas, orquestra, piano —talvez a grande novidade de "The Book Of Souls"— e tem como pano de fundo a tragédia do dirigível britânico R101, que caiu na França em 1930, matando 48 pessoas.
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