Com mais de 700 páginas, livro sobre heavy metal deixa grunge de fora
Com a pretensão de contar a história oral do heavy metal desde os anos 1960 até os dias atuais, os jornalistas americanos Jon Widerhorn e Katherine Turman lançaram no Brasil, no início deste mês, o livro “Barulho Infernal - A História Definitiva do Heavy Metal” (Conrad - R$ 89,90). Trata-se de um calhamaço com 722 páginas repleto de relatos de mais de 400 ídolos do estilo musical, todos contando suas versões sobre como ele surgiu.
A pesquisa foi tão abrangente que o autor até chegou a cogitar a inclusão de capítulos sobre o grunge e o death metal sueco, que ficaram de fora por falta de espaço. "Cortamos um capítulo inteiro sobre o grunge. Também cortamos várias partes que contavam a história de como as bandas se formaram porque, basicamente, a maioria delas surgiu em contextos similares", contou ao UOL, por e-mail, Jon Widerhorn.
Publicada originalmente nos Estados Unidos em 2013, a obra aborda a origem do estilo, passando por subgêneros como british heavy metal, thrash, death, black, nu metal e metalcore. De acordo com o autor, a maneira como o livro foi editado segue o modelo de "Mate-me por Favor - Uma História sem Censura do Punk", de Legs McNeil e Gillian McCain, no qual os autores escrevem pequenos parágrafos introduzindo um assunto, e o restante é contado por meio de depoimentos dos músicos.
Dessa forma, tomamos conhecimento por meio dos próprios envolvidos naquela cena musical sobre como aconteceram os mais polêmicos casos da mitologia do heavy metal. Entre esses episódios, destacam-se a morte de Bon Scott, vocalista do AC/DC; a galinha destroçada viva pela plateia de Alice Cooper, e como surgiu o símbolo do chifrinho, feito com as mãos.
"Vários livros contam a história do metal. Nós preferimos deixar os próprios caras contarem a sua história, desde os shows lendários, até as histórias mais selvagens", diz. "Foi a maneira que encontramos para deixar o livro menos acadêmico em vez de dizer: 'Sim, somos experts, e foi assim que a coisa aconteceu'."
Embora a obra seja bastante abrangente, Jon contou que teve que deixar o Manowar de fora porque a banda queria que tudo que fosse escrito sobre ela fosse submetido a uma análise para que os músicos pudessem aprovar ou não. "Nem o Black Sabbath, nem o Metallica ou o Iron Maiden fizeram uma exigência dessa, então nós não incluímos nada deles no livro, o que não foi lá uma grande perda", destaca.
Um dos assuntos que mais surpreenderam o autor na pesquisa para o livro foi a descoberta de que os integrantes do Pentagram eram amigos dos integrantes do Metallica. "O baterista do Pentagram, Joe Hasselvander, e o baixista do Metallica Cliff Burton, que morreu em um acidente em 1986, ganharam umas cartas de tarô amaldiçoadas. Joe acha, sinceramente, que Cliff morreu porque teve contato com as cartas", diz. "O cara do Pentagram supostamente tentou durante anos afastar os demônios que possuíram sua casa por causa das cartas, mas depois decidiu se mudar", completa.
Burton morreu após o ônibus da banda capotar em uma estrada na Suécia, em 1986. Toda noite, os músicos da banda escolhiam na sorte quem iria dormir na cama mais confortável do ônibus por meio de um jogo de cartas, e Cliff ganhou o lugar. Quando o ônibus capotou, o baixista foi arremessado para fora do veículo.
"Em cada capítulo, nós olhamos o arco histórico do metal e examinamos os personagens que contribuíram durante essas eras. Achamos que, se fizéssemos dessa maneira, seria mais autêntico e nos permitiria abarcar uma variedade maior de vozes, o que é impossível de se conseguir em um livro de histórias comum."
Confira alguns trechos do livro
Para mim, heavy metal é como pornografia. Não conseguiria dizer o que é. Mas, quando vejo, eu sei"
Quando eu era criança, andando de mão dada com a minha avó pela rua, eu a vi fazendo a mão chifrada pra alguém. Soube que esse sinal se chamava 'malocchi'. Uma pessoa estava nos olhando torto, então, com os chifres, minha avó estava nos protegendo desse olhar do mal (...) Embora Gene Simmons diga qeu foi ele quem inventou. Se bem que foi ele quem inventou a respiração e os calçados..."
Ouso afirmar que provavelmente fomos os primeiros a ser chamados de banda de heavy metal. O negócio se espalhou. Acho justo dizer que de fato tudo começou com o Priest e com o Sabbath.
Aprendi muito sobre performance quando trabalhei como roadie para [Jimi] Hendrix. Foi quando aprendi a trabalhar sob efeito de cinco doses de ácido. Era parte do meu trabalho - arranjar drogas para o Jimi"
As pessoas paravam o carro do meu lado e perguntavam se eu queria fumar um baseado. Eu respondia: 'Com certeza!'. (...) Fui usado, abusado, que seja. Vou poupar os detalhes, mas posso dizer que eles me machucaram muito. Parte da minha mente meio que travou e naquele dia minha realidade virou um pesadelo. Eles não me bateram, mas fizeram tudo o quiseram e foi devastador. Eu tinha só 14 anos"
Em um show em Toronto, uma pessoa atirou uma galinha viva no palco. Até hoje não entendo o motivo de alguém levar uma galinha para um festival de rock. 'Deixa eu ver, peguei meu ingresso, minha carteira, meu baseado, minha galinha. OK. Estou pronto. Vamos nessa'. E lá estava o bicho no palco. Daí joguei a galinha de volta para o público e ela acabou sendo despedaçada. O espantoso é que as primeiras fileiras eram reservadas para cadeirantes. Então foram eles que destroçaram a galinha. No dia seguinte vi o jornal: 'Alice Cooper mata uma galinha e bebe seu sangue'"
O metal é filho bastardo do rock. Se Eddie Cochran estivesse tocando hoje, ele provavelmente estaria em alguma garagem com uma banda de metal (...) Shows de rock bons de verdade são assim. Alienígenas de outros planetas chegam, causam um impacto forte como um soco na cara e rapidamente desaparecem!"
Morder a cabeça do morcego não foi de jeito nenhum planejado. Os fãs traziam carne e jogavam no palco. Ao longo da turnê, passaram a arremessar animais mortos e gatos em vez de carne. Além disso, jogavam morcegos de plásticos. Sem saber, eu peguei um e coloquei na boca, e só depois descobri que se tratava de um morcego de verdade. Mordi aquela porra e fez um barulho estranho. Precisei ir para o hospital para tomar injeções antirrábicas. Parecia que alguém tinha enfiado sessenta bolas de golfe na minha bunda"
Tentei puxá-lo para fora do carro, mas ele era muito pesado e eu estava bêbado. Então eu abaixei totalmente o banco do passageiro para que ele pudesse ficar deitado, pus um cobertor em cima dele (...) Por volta das 18h30 daquele dia, desci para o carro com a intenção de ir visitar minha namorada, que estava no hospital, e fiquei chocado ao encontrar Bon ainda deitado no banco do passageiro"
A primeira coisa insana que eu lembro que Ozzy fez foi cagar em cima de um Jaguar. Tínhas feito um show numa universidade de Birmingham e o promoter pagou um cachê menor que o combinado. Então Ozzy saiu e foi cagar em cima do Jaguar novinho do cara. Era um sinal do que estava por vir"
Nunca me esqueço de quando Kurt Loder apareceu na MTV News e disse: 'Se a homofobia fosse um restaurante, Axl Rose seria o proprietário, Ice-T seria o garçom e Sebastian Bach seria o cara que cuida do lixo'. Aquilo foi ridículo"
Igor [Cavalera] nunca teve um kit de bateria de verdade até o lançamento do 'Morbid Visions' [de 1986]. Ele costumava praticar no sofá e depois passou a usar potes e panelas. Eu também queria muito ser baterista, cara, mas ele era muito melhor do que eu. Guitarra era a minha segunda escolha, mas nunca levei muito a sério porque era baterista de coração. Eu só usava as quatro cordas de baixo. Uma vez, uma das cordas quebrou e eu pensei: 'Foda-se, eu não uso mesmo'. Então eu me livrei das duas cordas de cima"
A palavra 'um' não existe no meu vocabulário. Eu começava com 25 drinques, sabe. Nunca saí para tomar um drinque, nunca. O que eu queria mesmo era beber até cair e você não me veria pelo resto da semana"
Antes de eu me assumir, os caras tinham as garotas deles e eu tinha minha mão direita, um pote de lubrificante e uma revista pornô [risos]. É muito triste, cara. Ninguém queria encarar a verdade. Eu tinha uma sessão de fotos agendada com Cheryl Rixon, que tinha sido a garota Penthouse do ano, no topo de um hotel, perto da piscina. Cheryl vestia um maiô minúsculo, e eu estava todo de couro, no estilo sadomasoquista. Eu adorei. Não fiquei excitado, mas achei divertidissímo. Claro que as implicações das fotos eram enormes, foi uma época difícil. Isso acontece quando se está dentro do armário. É difícil, mas minha música me ajudou a passar por isso"
Sou completamente diferente de muitos artistas do passado que foram perdoados ou se reconciliaram com o mundo real por falarem que sua apresentação no palco era apenas um show. Então as pessoas dizem: 'Oh, então tudo bem. A gente não liga. Ele não é uma pessoa má de verdade'. Não é só um show para mim (...) Qualquer um que ache que estou apenas tentando ser um cara esquisito e polêmico não entendeu o recado"
Fui ao primeiro show do Slipknot com o meu amigo Denny e umas vinte pessoas. Achei tão sinistro e inspirador que, com a mesma intensidade do amor que tinha pelo Stone Sour, pensei: 'Vou cantar nessa banda'"
Infelizmente, eu diria que tive um papel importante na evolução do Nu Metal. Uma horda de bandas criou a primeira nação Lollapalooza"
Não conseguia entender como, de repente, eu tinha ficado lindo. Uma bela conta no banco faz você ficar lindo. Nunca tinha sido tratado daquele jeito na minha vida"
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