Um mundo melhor? Público do Rock in Rio avalia mudanças nos últimos 30 anos
"Por um mundo melhor." Há anos este é o lema do Rock in Rio. Quando o festival surgiu, em 1985, o Brasil havia acabado de sair do regime militar e havia, naquele mar de lama e atrações que os brasileiros nunca haviam assistido, muito mais do que um evento musical. A imagem icônica de Cazuza com a bandeira do Brasil nas costas, pedindo para que o dia de amanhã nascesse feliz, resumia o desejo de todo um país.
De lá para cá, 30 anos se passaram, mas o que de fato mudou? Enquanto o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, chegava maroto no meio dos famosos na área VIP (para assistir aos shows de Elton John e de Rod Stewart), o público deste domingo (20) viu o Paralamas do Sucesso tocar "Inútil", do Ultraje a Rigor, e "Que País É Este?", da Legião Urbana, levantando a bandeira do Brasil --mas evitando levantar coro anti-Dilma ou qualquer coisa do tipo. João Barone resumiu o status quo ao microfone, com certo tom de esperança: "Há 30 anos estávamos aqui pedindo um Brasil melhor. O Brasil ainda pode dar certo".
Para o gaúcho Claudio Garcia, 49, o Brasil não só pode dar certo, como melhorou nos últimos 30 anos que separam a primeira da atual edição do festival. "As classes mais baixas melhoraram muito de vida. Eu tinha 19 anos naquela época, e lutávamos para ter salário mínimo de US$ 100. A inclusão social agora é maior." Garcia acredita que o principal salto se deu na redemocratização. "Nesse sentido, nós melhoramos, mas existe ainda no Brasil a velha maneira de se fazer política, que é ruim. Falta muito para realizar o sonho de um Brasil melhor."
Já Maria da Conceição, 56, diz acreditar que será difícil o mundo melhorar. "Isso aconteceria se cada um fizesse a sua parte", disse. "Nossos políticos hoje estão muito ruins. Eles não fizeram nada pelo Brasil. O país poderia crescer se eles não ficassem com tudo para eles". Também há quem ache que a situação só tende a piorar. "O mundo está pior. A violência está muito grande, e é no mundo todo. Há crise econômica dentro e fora do país, e isso afeta muito as pessoas. Não dá mesmo para dizer que o mundo está melhor", disse o professor de educação física carioca Nelson Santoro, 51.
Otimismo
Tomaz Jesus, de Campo Grande (MS), por sua vez, é um otimista. "Tanto socialmente quanto musicalmente, o Brasil melhorou", defendeu. "Temos muitos jovens hoje aqui no show. Isso é reflexo de que eles gostam de música boa, de Elton John e Rod Stewart", destacou. "Acho que hoje temos uma participação maior das pessoas. O nível cultural melhorou muito. Está longe do ideal, mas o acesso à informação, a liberdade de expressão e a tecnologia melhoraram a nossa sociedade", pontuou. Apesar do otimismo, porém, Jesus acredita que, do ponto de vista político, o país só piorou. "Temos muita corrupção. Não há lealdade partidária. Os políticos não têm um ideal. Eles se xingam na TV e se abraçam nos bastidores."
O casal Antonio Patricio, 31, e Juliana Alves, 29, que saiu de Vitória (ES) para ir ao Rock in Rio, acredita que, definitivamente, o festival chega aos 30 anos em um Brasil melhor. "Temos uma democracia bem consolidada", observou Juliana. Já quanto à música... "Essa não evoluiu muito. É só ver a quantidade de artistas velhos aqui no festival. O Paralamas, por exemplo. O que faz sucesso no Brasil e que é tão bom hoje? Funk e sertanejo, que não tem espaço aqui", disse Antonio, acrescentando: "Ainda bem".
Maria Silveira, 24, que sequer existia em 1985, pondera: "A política ainda tem problemas, mas, naquela época, tínhamos acabado de sair de uma ditadura. Não tem nada melhor do que isso".
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