Legião Urbana x Urbana Legion: "Nós somos a Legião. Não há duas, diz Bonfá"
Duas bandas diferentes estão lotando casas de shows pelo Brasil e deixando em polvorosa plateias ao som de músicas como "Será”, “Geração Coca Cola” e “Que País É Este”.
Aos desavisados cabe o prévio aviso. Uma delas é a Legião Urbana “matriz”, que excursiona desde o último dia 23 de outubro e se apresenta em São Paulo neste sábado (7), com Dados Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e o ator e músico André Frateschi nos vocais que foram de Renato Russo.
A outra, uma declarada “banda tributo”, traz à frente o vocalista Egypcio, do Tihuana, que convidou colegas de seu grupo e do Bula (formado por remanescentes do Charlie Brown Jr. e A Banca), agora sob a alcunha de “Urbana Legion”.
Por questões legais, as bandas tiveram de passar pelo aval de Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo, cuja empresa, a Legião Urbana Produções, é titular da obra do pai. No caso de Dado e Bonfá, a permissão para o uso do nome só veio após uma decisão judicial, em processo que ainda corre na Justiça.
"Sempre apoiamos projetos que tenham como objetivo sincero e verdadeiro a preservação da memória e da obra de meu pai", diz ao UOL Manfredini, em entrevista por e-mail, sem deixar de alfinetar, nas entrelinhas, os antigos companheiros de Renato. "O Urbana Legion trabalha exatamente com essa visão. Não quer negar a óbvia liderança que meu pai sempre teve na Legião Urbana e também não pretende substitui-lo."
As letras do Renato são grandes oráculos. Tudo tem uma referência que bate direto em você. OK. Mas não tem como confundir, né, cara? Vamos deixar isso bem claro. Nós somos a Legião Urbana. Não tem duas Legiões.
Marcelo Bonfá, sobre as turnês simultâneas da Legião Urbana e da Urbana Legion
Alheias a questões legais --dentro do possível-- e críticas e de que não passariam de covers de luxo, os dois grupos guardam inúmeras diferenças. A começar pelo setlist. A Legião Urbana reproduz, com instrumental fiel, músicas de todos os seus discos de estúdio, executando na íntegra o álbum de estreia, que em 2015 está completando 30 anos.
Já a Urbana Legion passeia deliberadamente apenas pelos quatro primeiros trabalhos: “Legião Urbana”, “Dois”, “Que País É Este 1978/1987” e “As Quatro Estações” --a fase mais roqueira da Legião.
Mas, para Marcelo Bonfá, não há motivo para confundir as duas bandas. “As letras do Renato são grandes oráculos. Tudo tem uma referência que bate direto em você. OK. Mas não tem como confundir, né, cara? Vamos deixar isso bem claro. Nós somos a Legião Urbana. Não tem duas Legiões", diz o baterista.
Ainda assim, existem pontos em comum entre os dois projetos, entre eles a abertura a participações especiais. O titã Paulo Miklos já subiu ao palco com os legionários originais, que recentemente convidaram fãs a cantar nos shows, por meio de uma promoção. Por sua vez, a Urbana Legion já se apresentou com Dinho Ouro Preto, Supla, Clemente e Bruno Gouvea (Biquini Cavadão), entre outros.
Mais uma coincidência: nenhuma das bandas vai lançar novos discos. No caso da Legião, está previsto apenas o relançamento do primeiro álbum do grupo, que vem esbarrando na briga judicial com o herdeiro de Renato Russo. A ideia geral, ao menos por ora, é apenas festejar o legado da mais popular banda de rock brasileira.
Legião Urbana
“Há um certo tempo, nossos amigos perguntam: 'Por que vocês não voltam?'. Não vou chamar isso de revival, porque tem muita coisa acontecendo. Há uma certa semelhança com 30 anos atrás, uma coisa muito grande, meio sobrenatural nos shows”, diz um nostálgico Bonfá, que, no entanto, nega que a Legião "esteja voltando".
O baterista também rebate as críticas de Giuliano, de que ele e Dado estariam se aproveitando da memória de Renato Russo. “Claro que não existe Legião sem Renato, assim como não existe sem Dado e Bonfá, não e por aí. O que ele fala é tudo tão óbvio. Não é por aí", afirma.
"A escolha pelo André tem a ver com uma sincronicidade. Ele tem uma ligação muito legal com a gente. Em 1984, em Brasília, a gente era muito ligado com o pessoal do [escritor e dramaturgo] Marcelo Rubens Paiva, com a peça ‘Feliz Ano Velho’. A mãe dele estava na peça, quando o Andrezinho tinha dez anos. Ele ficava com a gente. Tem altas histórias para contar.”
“Eu e o Dado fomos parar no Uruguai há uns anos [em 2008], com uma galera que fez uma homenagem pra gente. Acho que tudo começou ali. A gente pensou em pessoas que já tiveram um contato anterior com a gente. E o André foi uma escolha natural. É um baita ator. Canta legal pra caramba e tem banda, trabalho solo”, justifica o músico,
Urbana Legion
Na estrada desde dezembro do ano passado, o Urbana Legion é uma cria do vocalista Egypcio, do Tihuana, que em 2005 já pensava em gravar um álbum de covers da Legião. Retomado em 2014, durante hiato da banda, o projeto foi levado tanto a Giuliano quanto a Dado Villa-Lobos. Ambos deram o sinal verde.
A banda base é formada por ele, o guitarrista Marcão (ex-Charlie Brown e atual Bula), a baixista Lena Papini (Bula) e o baterista PG (Tihuana). Segundo Egypcio, Dado e Bonfá foram convidados, mas nunca toparam participar.
“Todos nós somos muito fãs da Legião. Queríamos fazer uma turnê para nos divertir e levar música boa para o país. Num momento tão ruim, um repertório tão bom", conta o vocalista, que condiciona a continuidade do grupo apenas a demanda por shows.
“Quando prospectei esse projeto, há cinco anos, já tinha intenção de que tivéssemos autonomia", diz Egypcio. "Queremos mostrar para a molecada que isso aqui é muito legal. Só que agora está renovado. Botamos nosso DNA e trouxemos para a modernidade."
Confusão nos shows? “Às vezes tem. O Rogério [Flausino] do Jota Quest veio me falar uma vez, depois que a gente fez show em BH, que a tia dele estava louca para ir ao nosso show, e estava jurando de pé juntos que a gente era a Legião Urbana (risos)."
“Mas eu falo logo na primeira música: ‘Galera, nós não somos a Legião. Somos só fãs.”
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