Pearl Jam entrega no Brasil três horas de maturidade e surpresas
Eles pouco lembram os garotos cabeludos dos clipes do início dos anos 1990. E no primeiro show da turnê "Lightning Bolt" no Brasil, o Pearl Jam mostrou que sobra fôlego para o já grisalho quinteto. Entre hits e surpresas, a banda precisou de 3h de show para encerrar a noite de garoa desta quarta-feira (11) na Arena do Grêmio, em Porto Alegre.
Exatamente quatro anos antes, em 11 de novembro de 2011, Eddie Vedder e companhia se apresentaram durante 2h45 em Porto Alegre, no Estádio do Zequinha. De lá para cá, os guitarristas Mike McCready e Stone Gossard ganharam cabelos brancos (Gossard agora também usa um sóbrio óculos de grau no palco), mas os 17 minutos extras de show entre 2011 e 2015 são um dos indícios para os fãs não superestimarem o avançar da idade: o Pearl Jam que chega ao Brasil está em forma.
A banda subiu ao palco do novo estádio do Grêmio com quase meia hora de atraso, após abertura dos gaúchos da Wannabe Jalva. De início, o grupo abriu o show como esperado, com "Pendulum", uma das canções do último disco, "Lightning Bolt" (2013), a exemplo do que havia feito em La Plata, na Argentina, no dia 7. Daí em diante, o Pearl Jam apresentou um repertório diferente, uma das marcas da banda ao vivo --um hábito que agrada aos fãs em tempos em que os músicos têm preferido engessar o setlists para facilitar a logística das mega turnês.
A banda seguiu a noite com um segmento mais intimista, com “Release” e “Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town”. Mas, na quarta música, “Mind Your Manners”, o Pearl Jam retomou as raízes de Seatlle e entregou um punk rock cheio de gás. E não parou para tomar água: a sequência de “Animal” e “Do the Evolution” colocou o estádio para pular. Tudo transmitido para todos os setores do estádio, com dois telões verticais de alta resolução e competente trabalho de fotografia, como se o público estivesse assistindo a um clipe bem produzido ao vivo.
Depois da sequência com "Corduroy” e “Lightning Bolt”, Vedder fez o primeiro esforço para se comunicar em português. "Muito obrigado por comprarem ingressos, obrigado por ficar na fila, obrigado por ser tão legais. Mas, acima de tudo, obrigado por nos ouvir e por nos fazer sentir em casa em Porto Alegre", disse o simpático e esforçado vocalista, enquanto lia um papel e tropeçava na pronúncia.
O grupo seguiu com "Faithfull" e o hit “Even Flow”, com espaço para longo e viajante solo de McCready, lembrando os tempos das cabeleiras na MTV. Antes de “I Got Id”, Vedder, novamente em português, informou ao público que um casal que se conheceu no show de 2011, há quatro anos, estava se casando agora. "Desejamos a eles sorte e que eles tenham muitos anos de boas 'trepadas'", disse, para gargalhadas e delírio da Arena. "Mandamos o nosso amor para Cristiano e sua noiva".
Surpresas
A partir daí, o Pearl Jam pegou até a produção de surpresa. O setlist divulgado minutos antes do show foi alterado e a banda encerrou o primeiro bloco pulando ao som das guitarras distorcidas de “Rearviewmirror”. No curto intervalo (seria um exagero dizer que a banda voltou para o bis), o quinteto trouxe o hit “Last Kiss”, enquanto Vedder se perdia na letra, contando com o apoio da plateia para reencontrar os versos. O segundo bloco foi recheado de sucessos do lado mais pop da banda: “Wishlist”, “Jeremy” e “Better Man”.
Vedder puxou suas anotações em português mais uma vez para pedir a ajuda da plateia. “Quatro anos atrás, estávamos em Porto Alegre no dia 11 de novembro. Se vocês se lembram, hoje é aniversário da minha mulher. Estou triste por ela não estar aqui. Ela é uma mulher incrível e preciso da ajuda de vocês para cantar 'Parabéns', para ela não pensar que sou um babaca”, disse, sendo seguido pelo público.
Até o bis, o Pearl Jam já somava duas horas de show. Antes de retomar a parte final, Vedder aproveitou para elogiar as instalações da Arena do Grêmio (dessa vez em inglês). “O último lugar que tocamos aqui (Estádio do Zequinha, em Porto Alegre) estava caindo aos pedaços. Esse aqui é mais seguro”, elogiou, na comparação com o show de 2011, quando a banda levou 20 mil pessoas para o acanhado campo do Esporte Clube São José.
Para fechar a noite, em um bis que duraria quase 50 minutos, a banda trouxe dois covers e mais hits. Primeiro, fez uma bela homenagem ao Pink Floyd com “Comfortably Numb”, música inédita nos shows do Pearl Jam, cantada a plenos pulmões pelo estádio. Neil Young, um dos heróis do quinteto, também foi lembrado em “Fuckin' Up”. Mas foi com os clássicos “Black” e “Alive” que o Pearl Jam, já com luzes acesas no estádio, levou o público a uma catarse coletiva. O coro parece ter emocionado Vedder.
As três horas de rock terminaram com “Yellow Ledbetter”. Ainda assim, mesmo após três horas, cinco músicas ficaram de fora do repertório original divulgado pela produção: “Infallible", “Thin Air”, “Unthought Known”, “Wash” e “Baba O'Riley”, do The Who.
De Porto Alegre, o quinteto segue para São Paulo (14), Brasília (17), Belo Horizonte (20) e Rio de Janeiro (22).
O repertório do show:
"Pendulum"
"Release"
"Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town"
"Mind Your Manners"
"Animal"
"Do the Evolution"
"Interstellar Overdrive" (cover do Pink Floyd)
"Corduroy"
"Lightning Bolt"
"Faithfull"
"Even Flow"
"I Got Id"
"Lukin"
"Not for You"
"Sirens"
"Let the Records Play"
"Spin the Black Circle"
"Rearviewmirror"
Segunda parte:
"Last Kiss" (cover de Wayne Cochran)
"Hard to Imagine"
"Wishlist"
"Jeremy"
"Glorified G"
"Better Man"
"Go"
"Porch"
Bis:
"Comfortably Numb" (Pink Floyd)
"Why Go"
"Given to Fly"
"Black"
"Alive"
"Fuckin' Up" (cover de Neil Young)
"Yellow Ledbetter"
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