Com novo acústico, Capital corre atrás de disco engavetado: "Fim da picada"

Renata Nogueira
Do UOL, em São Paulo

Quinze anos se passaram desde que o Capital Inicial lançou o "Acústico MTV". O disco mais vendido da discografia da banda, com 2 milhões de cópias comercializadas em um período em que a pirataria já ganhava força, é até hoje emblemático. Agora, Dinho Ouro Preto e seus companheiros testam mais uma vez o formato: "Acústico NYC", gravado em julho deste ano em Nova York, e que chega em CD e DVD.

O novo trabalho certamente não tem a audácia de substituir o "Acústico MTV", mas foi essa gravação que fez com que o Capital Inicial descobrisse que seu projeto de mais sucesso está atualmente fora de catálogo. "Descobrimos isso depois da gravação. A gente não tinha se dado conta", revela um Dinho Ouro Preto atônito, em conversa com o UOL por telefone. "Fui olhar no iTunes, não achei. Fui olhar em outros streamings, não achei. Eu não estava encontrando o disco em lugar algum. Aí liguei para a gravadora e eles também não sabiam de nada".

Os álbuns acústicos lançados pela extinta gravadora Abril Music, que fechou em 2003, caíram em uma zona cinzenta, intensificada quando a editora Abril devolveu, em 2013, a licença da MTV para a Viacom. "Caso isso não se resolva, o Capital deve entrar na Justiça. É o fim da picada que um empecilho legal possa fazer com que uma obra desapareça", diz o cantor.

Mais uma ressurreição

O novo acústico vem para dar mais uma chance às músicas lançadas em um período de atividade quase ininterrupta do Capital Inicial, entre 2003 e 2014. Em pouco mais de dez anos, foram cinco álbuns de estúdio, um EP, um disco ao vivo e um especial do Aborto Elétrico, além de coletâneas. "Do acidente para cá foram três discos", lembra o vocalista, fazendo referência à ocasião em que caiu do palco durante um show, em 2009, e ficou 20 dias na UTI, transformando a data em um divisor de águas na vida dele. 

"Ressurreição", a faixa que abre o "Acústico NYC", e que aparece no disco "Das Kapital" (2010), é também uma das músicas preferidas do cantor. "É quase biográfica". Dinho explica que a música estava pronta antes do acidente, mas a letra tinha apenas um esboço e acabou adaptada para a situação. Questionado se o nome também já existia, ele tem dúvidas. "Não lembro. Essa é uma das sequelas".

Reprodução/Instagram/@dinhoouropreto
Thiago Castanho com Dinho Ouro Preto: parceria começou na praia e levou ao novo acústico

Parcerias inusitadas

Gravado nos Estados Unidos, o "Acústico NYC" traz novas parcerias, como a de Seu Jorge na inédita "Vai e Vem" e nas já conhecidas "Belos e Malditos" e "À Sua Maneira". O pernambucano Lenine também aparece no DVD cantando com Dinho em "Não Olhe Pra Trás" e "Tempo Perdido". Já o ex-Charlie Brown Jr. Thiago Castanho assume o posto que foi de Kiko Zambianchi no acústico anterior. Além de tocar violão, Thiago é coautor de diversas músicas. 

"O Thiago tocando violão é uma aberração da natureza", elogia. Dinho se lembra de quando começou a compor com Thiago há dois anos, na Barra do Sahy, litoral norte de São Paulo. "Na praia não tinha guitarra, então foi tudo no violão mesmo". Segundo ele, a habilidade do músico com o violão foi um dos fatores que ajudaram na ideia de gravar um novo acústico.

Legião Urbana presente

Dinho vê o Capital Inicial dos anos 1980 como o "saco de pancadas" da crítica e credita a uma frase de Renato Russo que "assombra" a boa recepção que tem hoje. "Cara, cuidado, discos são para sempre", dizia o líder da Legião Urbana.

Amigo de Renato, Dinho conta que hoje fica dividido sobre o imbróglio em cima de duas bandas apresentando o repertório da Legião Urbana. De um lado os integrantes remanescentes da Legião, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, com André Frateschi nos vocais. De outro, a Urbana Legion, com Egypcio, Marcão, Lena e PG. "É como o Bonfá falou [em entrevista ao UOL], a Legião Urbana são eles", opina. O vocalista do Capital, porém, não condena a Ubana Legion. "Sou amigo dos caras e até toquei com eles".

Dinho defende que a Legião Urbana tem de ser celebrada e lamenta as rixas. "Não é bom para o legado do Renato". Sobre a polêmica envolvendo o herdeiro de Renato, Giuliano Manfredini, junto a Dado e Bonfá, Dinho diz que prefere fazer o papel de bombeiro. "Ambos têm razão. Mas eles precisam se entender em benefício da cultura popular brasileira. O Renato estaria muito entristecido (com a situação)".

Divulgação
Capa do novo disco do Capital Inicial "Acústico NYC"

Turnê em 2016

O álbum "Acústico NYC" já está à venda e também disponível nos serviços de streaming. Ouça no UOL Música Deezer.

A turnê começa em São Paulo no dia 30 de janeiro, no Citibank Hall. O show também marca a primeira apresentação das versões acústicas e das inéditas do Capital Inicial no Brasil, já que o disco foi gravado em um show para 1.500 fãs nos Estados Unidos.