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Para hispânicos do Grammy, Roberto Carlos é "maior que Beatles"

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Las Vegas (EUA)

19/11/2015 10h15

Roberto Carlos é o rei da música popular brasileira, certo? Também. Na noite desta quarta-feira (18), o maior cantor brasileiro foi eleito a “pessoa do ano”, ou melhor, “la persona del año”, pela Academia Latina de Gravação, responsável pelas premiações do Grammy Latino.

E o que se pôde perceber durante o jantar de gala em que o cantor recebeu a honraria máxima da academia é que, em espanhol, o "rei" é tão grande quanto em português.

A cerimônia, que acontece um dia antes das premiações principais, teve como seu ponto máximo um show tributo de artistas consagrados da América Latina que cantaram sucessos do compositor, a maioria em espanhol.

Julieta Venegas cantou “O Progresso”; os irmãos mexicanos Jesse e Joy, “A Montanha”; o espanhol Alejandro Sans, “Lady Laura”; a americana Dionne Warwick (a tia famosa de Whitney Houston), interpretou uma versão em inglês de “Falando Sério”; mas nada foi mais emocionante que a declaração de amor aos sucessos de Roberto que o nova-iorquino Víctor Manuelle fez no meio de uma versão de “Desabafo” em ritmo de salsa.

Em português, apenas os brasileiros Paula Fernandes (cantou metade das estrofes de “Proposta” com a banda pop mexicana Camila), e Ana Carolina e Seu Jorge, que interpretaram “A Distância”.

Ah, claro, na hora do bis, o rei subiu ao palco para interpretar, também em espanhol, “Emoções” e “Eu Quero Apenas” (que todos conhecem por sua famosa estrofe “eu quero ter um milhão de amigos”).

O reconhecimento do capixaba como artista hispânico ficou claro até mesmo no tapete vermelho, onde as entrevistas do rei foram limitadas aos veículos de língua espanhola, e apenas em espanhol, como afirmou uma assessora que tentou impedi-lo, sem sucesso, de dar entrevistas a veículos brasileiros.

“Fico muito honrado. Esta com certeza é uma noite inesquecível para mim”, disse o cantor, ao ser indagado se era uma surpresa o quanto o consideravam um artista da língua espanhola.

“Algumas pessoas do ano são maiores que todas as outras pessoas do ano. E este é o caso de Roberto Carlos. Não acho que tenhamos algo parecido com ele no Peru”, disse um jornalista peruano, que perguntava ao UOL detalhes tão pequenos da vida pessoal do cantor, como por que não se falava “de sua perna mecânica” e quando tinha morrido sua última mulher.

Outro peruano, o cantor Ciro Hurtado, indicado na categoria de melhor álbum folclórico por um disco chamado “Ayahuasca Dreams” (que sim, foi inspirado por uma viagem de ayahuasca), se mostrou mais conhecedor da obra de Roberto Carlos. “Conheço suas músicas desde os anos 1960. ‘Côncavo e Convexo’ é assim o nosso amor no sexo, certo? Gosto das sensuais.”

Outra jornalista, de origem latina, mas criada e radicada em Los Angeles, disse durante o jantar que precedeu o show que neste ano não ia se importar de atrasar a entrega de sua reportagem porque Roberto Carlos era um artista que merecia sua audiência como público.

“Eu cubro este evento já faz alguns anos. Ok, Ricky Martin e Shakira são incríveis, mas não chegam aos pés do Roberto Carlos. Cresci ouvindo por causa da minha mãe. Quando quero explicar aos americanos quem é ele, apenas digo que ele vendeu mais discos que os Beatles [na América Latina]. Eles não acreditam.”

A cantora Ana Carolina também disse que “esse prêmio demorou demais para sair” e que a academia latina “está em dívida com música brasileira”. “Eles deveriam dar mais destaque aos artistas brasileiros.”

Grammy homenageia Roberto Carlos e Djavan

AFP

Um artista cubano, argentino, mexicano…

Muitos dos artistas presentes ao evento (indicados em diversas categorias de língua espanhola do Grammy Latino) relatavam que seu amor pelas canções de Roberto Carlos tinham uma origem comum aos brasileiros: cresceram ouvindo o cantor por influência dos pais.

Este foi o caso do cubano Alain Perez, indicado na categoria melhor álbum tropical contemporâneo. “Se um dia ele for a Cuba, o povo cubano todo vai abraçá-lo e cantar suas canções. Ele é uma referência. É a trilha sonora dos meus pais. Eu cresci ouvindo. Você não tem ideia de quanto o amam em Cuba.”

Entre os jovens cantores hispânicos, o brasileiro também é uma referência. A popstar argentina Lali Espósito, 24, disse que, em seu país, o cantor é considerado “um artista argentino”, e que canta “'quero ter um milhão de amigos' desde que era muito pequena”.

Demian Galvez, vocalista da banda mexicana Centavrvs, indicada na categoria de melhor álbum alternativo, sabe cantar “Amigo” e “Amante à Moda Antiga” porque tinha aulas de guitarra com suas músicas.

E nem Lady Laura escapou do domínio universal dos fãs famosos do brasileiro. Os irmãos Manuel, Raúl e Óscar Quijano, da banda de rock espanhola Café Quijano, disseram que sabem cantar as músicas de Roberto Carlos desde os seis anos de idade. Ao serem indagados sobre qual música cantariam em homenagem a ele, responderam: "'Lady Laura'. O verso 'Abraça-me forte, Lady Laura’ era algo que para nós, quando éramos pequenos, nos tocava muito. Imediatamente queríamos estar no colo de nossa mãe. Lady Laura é a mãe de todos os fãs de Roberto Carlos.”