Topo

Filho e netos de Gil lançam banda e apostam em reggae com mensagem positiva

Banda Sinara lança primeiro EP. Da esq. para a dir.: Magno Brito, Luthuli Ayodele, Francisco Gil, João Gil e José Gil - Rodrigo Molina/Divulgação
Banda Sinara lança primeiro EP. Da esq. para a dir.: Magno Brito, Luthuli Ayodele, Francisco Gil, João Gil e José Gil Imagem: Rodrigo Molina/Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

23/11/2015 07h00

José, Francisco e João Gil nasceram em um dos berços mais musicais e conhecidos do Brasil. Claro que o filho e os netos de Gilberto Gil, respectivamente, não teriam como fugir à regra. “Crescemos vendo os bastidores de shows, pegando em instrumentos, o que poderíamos fazer da vida a não ser isso?”, questiona o baterista José Gil, 23, filho caçula do cantor, fruto do casamento com Flora Gil.

E é o reggae, desbravado pelo patriarca nos anos 1970, que dá o tom do primeiro trabalho da banda Sinara. O EP “Sol” foi lançado na semana passada, com distribuição pela Sony Music, e traz no nome a nova integrante do clã. “É uma homenagem à minha filha que vai nascer”, diz o guitarrista Francisco, 19, filho de Preta Gil.

Mas não foi a sintonia em família que deu personalidade à banda, mas sim, uma amizade especial, que aproximou duas realidades socialmente distintas na capital fluminense.

Conheça a banda Sinara

UOL Entretenimento

O vocalista e letrista Luthuli Ayodele, 20, era morador da Rocinha quando conheceu Francisco, ainda criança. Os amigos se reencontraram anos depois em um tradicional colégio da zona sul –na parte asfaltada e mais abastada da região. Luthuli havia se mudado da comunidade para um apartamento em frente à lagoa Rodrigo de Freitas, após sua mãe se casar com um inglês. “Foi um baque para uma criança que via rato em frente de casa e de repente, de uma hora para outra, vivia de frente à lagoa”, relembra.

A inspiração das letras nasceu justamente dessa dicotomia, que está estampada na capa do EP, com a vista que a favela tem do mar. Suas canções são positivas, mas não abandonam o contexto social, seja em “Favela”, com o refrão fácil “Favela sou eu, Favela é você”, ou o questionamento em “Marchando” : “A cada horizonte eu tenho fé e esperança para mudar / eu quero ver quando o tempo fechar, a corrente bater e o medo apertar / eu quero ver”.

“Essa mudança me trouxe algumas sequelas, sequelas positivas”, ele observa. “O reggae puxa nossas emoções, nossos questionamentos. Bob Marley questiona os problemas sociais nas letras dele, e ele sempre foi uma influência muito forte. Quando eu acho que estou na zona de conforto, vou para meu lado mais humilde”.

Sobrenome que abre portas

Luthuli já tinha uma penca de canções guardadas e mostrou para Francisco. Chegaram a tocar com alguns amigos, muitas vezes usando um amplificador de karaokê, quando deram o ultimato: era preciso ser uma banda de verdade. Francisco logo mandou: “Ué, é só juntar meu bonde”. Vieram então o tio José, o primo João (filho de Nara Gil, filha mais velha de Gil) e o baixista Magno Brito, 24.

Passaram um ano ensaiando antes de cair na estrada. Tocaram na rua, abriram para bandas como Skank e Natiruts, e pararam na programação do Festival de Salvador.

É inegável que as credenciais que eles trazem lhe abrem portas, embora eles afirmem que a família não se envolve em nada em relação à banda.

Gilberto Gil, como bom pai e avô, emprestou seu estúdio pessoal para a banda ensaiar e foi só. O cantor assistiu ao show dos meninos pela primeira vez em janeiro deste ano, quando a banda tocou no festival RiderWeekends, na Marina da Glória. “Ele foi o primeiro a chegar. Foi a maior onda”, relembra Francisco.

José Gil ficou apreensivo ao ver o pai na plateia. “Mesmo se não fosse o Gilberto Gil, eu ficaria instigado para saber a opinião dele. É meu pai”, conta. “A gente não nega que o nome abre portas, mas as coisas só continuam com nosso talento e nossa música. Não gostamos de nos pendurar nisso”.