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Com música em escolas ocupadas, MC Bin Laden quer fazer funk consciente

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

24/11/2015 14h54

No momento em que estudantes ocupam mais de cem escolas no estado de São Paulo, em protesto contra o fechamento de 94 unidades de ensino, o trecho de um funk estampa alguns cartazes e engrossa gritos de protesto: "Bololo há há, bololo há há há há! Se fechar a nossa escola nós vamos ocupar".

"Bololo Haha" em nada tem a ver com ativismo ou educação. Com 5 milhões de visualizações no YouTube, a música segue o estilo proibidão do MC Bin Laden e já foi tocada por DJs célebres, como Skrillex e Diplo, em festas internacionais.

Um dos maiores representantes do "funk underground", que conta com uma legião de fãs sem precisar da TV e do mercado fonográfico, Bin Laden sequer sabia que o refrão que emula o barulho da moto e a risada dos "vida loka" também serviria para reivindicar. "Eles estão mostrando que a escola é importante. Está certo mesmo. E por usar meu refrão, eu apoio mais ainda. Se me ligarem, eu faço uma música para cantar no protesto", promete.

Da mesma maneira como aconteceu com sua música, Bin Laden planeja a mesma virada na carreira. "Quero seguir um caminho novo no funk, seguir a realidade consciente". O primeiro sinal da nova fase foi dado há algumas semanas. 

Conhecido pelos funks "Meia Preta, Meia Branca", "Passinho de Faraó" e a nova "Tá Tranquilo, Tá Favorável", o MC avisou aos milhares de seguidores (400 mil no Instagram, 700 mil no Facebook) que não cantaria mais músicas sobre lança-perfume em seus shows. São várias composições dedicadas à substância psicotrópica: "Lança de Coco", "Lança de Menta" e "Lança do Morro".

Ao UOL, ele revela sentir certo incômodo ao ver o protagonismo da droga no movimento. "Às vezes, eu chego ao baile e as pessoas estão em outro mundo, em outro planetário. Elas estão muito loucas de lança e não sabem o que está acontecendo", observa. "Antigamente, você ia para o baile fazer passinho, mas hoje, se você esbarrar em um cara, já pode ser uma treta. As pessoas estão deixando de curtir".
 

Alunos usam funk para protestar em escola estadual em Santo André, no ABC Paulista

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Nasce Bin Laden

Jefferson Cristian dos Santos de Lima nasceu e se criou na Vila Progresso, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo. Ele queria ter ido para o funk mais cedo, mas o pai o obrigou a achar um emprego formal.

Apenas em 2012, quando chegou na KL Produtora --uma "fábrica" de funkeiros no Jardim Botucatu, zona sul da capital, e casa de MC 2K, MC Brinquedo e MC Pikachu--, Bin Laden finalmente nasceu. Ele quis fugir da ostentação, que na época era a sensação do funk. "Eu moro na favela, como vou ostentar na balada?", observa. As correntes que usa no pescoço só emulam o brilho do ouro. "Só coloquei para as fotos", avisa.

O nome e o cabelo de duas cores --metade amarelo, metade preto, como se sua cabeça fosse o símbolo de yin-yang-- são apenas alegorias. "Eu faço um funk mais cinematográfico, uma história contada mesmo. Queria trazer algo teatral".

Ao contrário do que ele aparenta nas redes sociais e nos clipes, ele diz que não fuma, não bafora e também não trai a namorada, muito menos a religião. Ele é evangélico, como os pais. "Nos clipes me dão garrafa de uísque, mas como eu não bebo, fico jogando na galera. As pessoas entendem que o Bin Laden é um personagem. Fora do palco, eu sou o Jefferson".

A mudança que Jefferson vislumbra esbarra justamente na fama da sua criatura. "Canto o que acontece no entorno. Eu não gostaria que minha filha fumasse maconha, mas não posso fugir da minha característica artística [de cantar músicas que falam sobre a droga, entre outros temas]. Eu vou mudando aos poucos".

Aos 22 anos, ele canta um novo funk, "Heróis da População", escrito recentemente, como exemplo da nova fase: "Um país que é governado pelo mensalão / Eles se acham heróis da população / Protesto que domina as ruas de todo o Brasil / Em busca de um país melhor que a gente ainda não viu / A mãe que chora sem a renda para comprar um pão / Um filho dizendo: 'mamãe, vou virar ladrão' / Gente que mora na favela sem ter um bom emprego / Mas diz na bíblia que os últimos serão os primeiros".

Ele garante que o que não falta são temas para explorar na música. "Eu gosto muito de assistir ao jornal. É dois palitos". Foi assim que ele se informou dos atentados em Paris e o fechamento das escolas, por exemplo.

Diferente dos estudantes nas ocupações, Jefferson não está na escola. Parou na oitava série. "Quero fazer supletivo. Na verdade, quero mesmo fazer faculdade de teologia. Ou letras. É esse curso que ajuda a falar melhor, né?"