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"Vestir roupas femininas fez eu me sentir punk rocker", diz cantor do NOFX

Da esq. para a dir.: El Hefe (guitarra), Fat Mike (baixo e voz), Erik Sandin (bateria) e Eric Melvin (guitarra) - Divulgação
Da esq. para a dir.: El Hefe (guitarra), Fat Mike (baixo e voz), Erik Sandin (bateria) e Eric Melvin (guitarra) Imagem: Divulgação

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

11/12/2015 07h00

Mesmo depois de 32 anos de estrada, o vocalista do NOFX, Mike Burkett, o Fat Mike, 48, não se rendeu ao pop. Suas composições, desde sempre, continuam sarcásticas e abordam temas caros ao mundo punk como política, sociedade, racismo e religião, que conquistaram fãs fiéis no Brasil.

No país pela quinta vez, o NOFX se apresenta nesta sexta-feira (11) no Circo Voador, no Rio de Janeiro. No sábado é a vez da Via Marquês, em São Paulo. No domingo, a banda segue para o Vanilla Music Hall, em Curitiba. Encerrando a turnê brasileira, na terça (15), eles se apresentam no Opinião, em Porto Alegre.

Avesso a entrevistas, Fat Mike conversou com o UOL por telefone, de sua casa em Los Angeles, nos Estados Unidos. Notório defensor da descriminalização de todas as drogas --e usuário assumido--, Mike falou que começou a consumi-las depois que completou 30 anos, e apontou o álcool com a mais mortífera de todas as drogas.

"Quando uso drogas, eu me sinto mal. Então eu faço exercícios físicos, que todo mundo acha uma bosta, porque eles me ajudam a me sentir melhor", disse ele, enquanto subia e descia as escadas da sua casa. O objetivo, segundo ele, era se exercitar, já que costuma correr na rua, mas estava chovendo naquele momento.

O vocalista também é famoso por gostar de bondage e sadomasoquismo. Em sua casa, ele mantém um quartinho só para isso. Recentemente, Mike passou também a se apresentar usando roupas de mulheres, mas o motivo passa longe da homossexualidade. "Eu acho divertido. Eu não quero ser uma mulher e não sou uma mulher. Mas nada do que eu faço surpreende mais, então eu senti que estava perdendo minha postura punk rocker. Vestir roupas femininas fez eu me sentir punk rocker novamente".

UOL - Você fala muito de política em suas letras. O que espera das próximas eleições presidenciais dos Estados Unidos?

Fat Mike - A próxima eleição será um circo. Eu acho que os Estados Unidos são uma piada agora. Existem novos lobbies por aqui. Ou seja, qualquer pessoa pode dar dinheiro para qualquer político e, por causa disso, é uma piada. Já seria uma piada de qualquer jeito, mas agora é sem sentido. Então eu não estou acompanhando, porque não importa.

Então pode piorar?

Sim. Vai ficar bem ruim.

Você é defensor da descriminalização do uso de drogas. Muitos estados americanos já legalizaram o consumo de maconha. O que achou?

Eu acho ótimo, mas eu acho doido. Porque eu acho que todas as drogas deveriam ser legalizadas. Por que só a maconha? Quero dizer, maconha, cogumelos, heroína, cocaína, LSD, são todas drogas. Elas deveriam ser descriminalizadas também. As pessoas não deveriam ser presas por usar drogas. Sabemos que o álcool é a pior droga de todas. Álcool mata mais do que todas as outras. Faz sentido legalizar tudo e ajudar as pessoas que foram presas por isso ou precisam de tratamento.

Você já disse em outras entrevistas que começou a usar drogas só depois dos 30 anos. Pensa em parar quando ficar mais velho? Tem medo de sofrer uma overdose?

É engraçado, eu não estou usando drogas no momento. E eu não acho que vou morrer de overdose. Tenho cuidado. Não acho que as drogas são ruins. Assim como o álcool, é ruim se usar demais.

Existe alguma droga que você não experimentaria de jeito nenhum?

Eu nunca usaria heroína. Muitos amigos morreram usando ela. Nem usaria metanfetamina ou crack. O que eu ouço das pessoas é que essas drogas são muito viciantes, e eu não preciso disso. Eu não conseguiria controlar os estragos. Neste momento, não estou achando cocaína uma coisa boa também. Quer saber o que acontece comigo quando abuso de álcool e drogas? Eu me sinto mal. Então eu faço exercícios físicos, que todo mundo acha uma bosta, porque eles me ajudam a me sentir melhor.

Mudando de assunto, o último álbum de inéditas do NOFX saiu em 2012. Quando sai o novo?

Estou escrevendo neste exato momento. Eu estou escrevendo há um mês e tenho 18 faixas. Vamos começar a gravar em breve, no verão [do hemisfério norte].

E no show do Brasil, você vai tocar músicas inéditas?

Sim. Talvez uma ou duas. 

Em shows recentes, você tem se apresentado vestido com roupas femininas. Por quê?

Eu acho divertido. Eu não quero ser uma mulher e não sou uma mulher. Mas nada do que eu faço surpreende mais, então eu senti que estava perdendo minha postura punk rocker. Me vestir com roupas femininas faz eu me sentir punk rocker novamente.

E é confortável? Vai tocar assim no Brasil?

Com certeza é confortável. Mas ainda não sei que roupa vou usar por aí.

Qual é a sua opinião sobre o empoderamento feminino?

Para mim, todos deveriam ser iguais. Não há o que discutir sobre isso. É claro que as mulheres devem ser tratadas de maneira igual, porque é muito óbvio.

Pretende fazer um novo "Passport Backstage", documentário que mostrou os bastidores da turnê do NOFX, inclusive no Brasil?

Você viu os dois anteriores? São épicos. O primeiro tem cenas no Brasil e o nosso gerente bêbado. O segundo é legal também, mas acho que não faremos, não.

Em todos os seus shows, os fãs fazem "stage diving", sobem ao palco e pulam na plateia. O que os fãs não podem fazer quando subirem no palco?

Não me atrapalharem a tocar. E, quer saber, eu não faço as regras. São os clubes que fazem. Eu não quero que quebrem meu microfone. Em um show em Austin, no Texas, que fizemos recentemente, tinha umas 40 pessoas no palco esperando para fazer stage diving. Eu curti, mas se eu não tivesse que tocar baixo e cantar ao mesmo tempo, talvez eu conseguisse me proteger dos ataques dos fãs, mas eu não posso. Então, façam stage diving, mas me deixem tocar.

Para encerrar, uma pergunta filosófica: como o punk mudou com o passar dos anos?

O punk rock real não mudou. Quando comecei a tocar, só tinham 20 pessoas me ouvindo. E a música era uma bosta. E isso continua a mesma coisa. O punk rock não mudou. O que ocorreu foi que o punk rock ficou comercial. Agora mais pessoas nos escutam. E a cena continua igual. O Brasil é o meu lugar favorito para tocar e estou ansioso para voltar.