Aposta para 2016, Marília Mendonça é nova "mina de ouro" do sertanejo
Marília Mendonça não sabe quanto é o próprio cachê --precisa recorrer ao produtor, que desconversa sobre o tema. Mas a cantora revelação da música sertaneja e aposta certa para 2016 já tem um sugestivo apelido em seu escritório, o mesmo das duplas Henrique & Juliano e Maiara & Maraisa: "Maquininha". A goiana de 20 anos é a nova mina de ouro do gênero.
Antes de subir ao palco na cidade de Itaituba, no Pará, em agosto, a compositora jamais havia feito show para um público maior do que o da própria família. "Foi difícil demais. Li muito a Bíblia, conversei muito com minha mãe, fiquei bastante nervosa. Muito mesmo. Na hora de sair, chorei demais da conta, mas só tem melhorado, graças a Deus", diz a cantora ao UOL.
Com apenas quatro meses de estrada, Marília surfa na onda sertaneja: são mais de 15 shows por mês, com plateias que já chegam a quase 10 mil pessoas. Convertida à estrela da música sertaneja, a ex-anônima lançou o primeiro álbum, "Marília Mendonça", em julho, após ter três músicas gravadas por Henrique & Juliano ("Até Você Voltar", "Cuida Bem Dela" e "Quem Ama Entende").
Antes, a aposta da produtora goiana WorkShow já havia surpreendido ao galgar as paradas com composições nas vozes de Cristiano Araújo ("É com Ela que Eu Estou"), Lucas Lucco ("Saudade Idiota"), Jorge & Mateus ("Calma") e até do "mito" Wesley Safadão ("Muito Gelo e Pouco Whisky").
"O escritório estava esperando o momento certo para me lançar. Meu empresário sempre falava: 'Marília, você ainda é muito nova. Quero que você fique nos bastidores'. Ter trabalhado esse tempo como compositora me ajudou muito. Pude ver como é a cena. Só não imaginava que tudo aconteceria tão rápido."
"Adele" do sertanejo
De jeito tímido, mas com prosa despachada, Marília diverge do padrão lapidado e "fitness" de cantoras como Paula Fernandes e Thaeme. É uma espécie de Adele sertaneja, mas que gosta de exibir shorts, decotes e vestidos curtos no palco e na internet, onde faz bomba —seus vídeos já ultrapassam com facilidade a marca de 1 milhão de visualizações; no Instagram, são mais 191 mil seguidores.
"Isso que eu mostro, meu visual ,sou eu sendo eu, não tem nada demais. A Marília que você vai ver na rua é a que você vai ver no show", diz ela, que ainda se considera mais compositora do que cantora. E uma compositora "papo reto", cujas letras em tom confessional versam mais sobre amor do que exatamente baladas e festas, o que a afasta um pouco da cartilha atual do sertanejo. "Fui atacada quando lancei 'Sentimento Louco', em que falo que gosto de um homem casado, e as mulheres diziam que era coisa de mulher que não presta. Fazer o quê? É a realidade. Vou cantar a realidade", diz.
Acho que o pessoal anda mesmo com preguiça de pensar, já que tudo é muito acessível e vira sucesso. Mas não dá para generalizar, há compositores incríveis por aí", pondera.
Acho que o pessoal anda mesmo com preguiça de pensar, já que tudo é muito acessível e vira sucesso. Mas não dá para generalizar, há compositores incríveis por aí
Marília Mendonça, sobre os letristas do sertanejo
Para a cantora, cuja voz firme e impostada já foi comparada à de Roberta Miranda e Fátima Leão, a mulher precisa se mostrar forte para alcançar o sucesso. "A imagem que elas [as cantoras] estavam passando no sertanejo era de fragilidade, e isso não é respeitado pelo mercado. Agora está mudando. Estão aparecendo mais mulheres porque elas estão se impondo como homens. Paula Mattos, Maiara & Maraisa, eu. A gente chegou de um jeito diferente", diz Marília, que rejeita o rótulo de feminista.
Sincera até o último fio de cabelo —o que parece ser a sua principal marca—, a goiana surpreende ao comentar sobre suas influências. Nada de sertanejo de raiz, Chitãozinho & Xororó ou Bruno & Marrone. "Olha, não vou mentir para você dizendo que eu escutava sertanejo desde pequena. Não ouvia. E acho que isso me ajudou um pouco na originalidade para compor", diz ela, fã de Maria Gadú, Ana Carolina e Vanessa da Mata.
Mais arroubos de franqueza: ela se diz contra ao que chama de "bajulação constante" no meio artístico, além de, tal qual o cantor Nando Reis, criticar os chavões das letras sertanejas. "Acho que o pessoal anda mesmo com preguiça de pensar, já que tudo é muito acessível e vira sucesso. Mas não dá para generalizar, há compositores incríveis por aí", pondera.
Planos para 2016
Para o próximo ano, Marília quer "continuar igual", tocando cada vez mais e para públicos maiores. Um desses shows, o mais especial até aqui, já está confirmado: um festival promovido pela produtora Workshow no estacionamento do Espaço das Américas, em São Paulo, que deve reunir nomes como Henrique & Juliano, Zé Neto & Cristiano e Maiara & Maraisa.
"A minha pretensão não é ser famosa, e, sim, passar minha verdade. Porque sempre me falaram que minha verdade era ruim e que eu teria que mascarar o que eu sou para não assustar o povo, Porque eu bebo, eu como, eu falo demais. Sempre me disseram que assim não daria certo. Mas é isso que eu quero", conclui Marília.
VEJA ALGUMAS APRESENTAÇÕES DE MARÍLIA MENDONÇA
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