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Opinião: Lemmy Kilmister personificou o estilo rock and roll de viver

José Norberto Flesch

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/12/2015 01h09

Lemmy Kilmister, líder do Motorhead, morreu nesta segunda-feira (28). O músico havia completado 70 anos na noite de Natal. Segundo um comunicado, ele descobriu um câncer recentemente. A doença o atingia de forma agressiva.

Ian Fraiser Kilmister era o nome verdadeiro do cantor e baixista que esteve pela última vez no país em abril de 2015. O Motörhead seria uma das principais atrações do festival Monsters of Rock, em São Paulo. Lemmy passou mal horas antes de subir ao palco e foi aconselhado pelo médico a não fazer o show. E não fez. Chegou a tocar com a banda em Curitiba, dias depois. Voltou para casa, continuou em turnê, mas terminou várias apresentações antes da hora.

Foi quase como ele queria. Morreu na ativa. Mais um pouco e morreria no palco, após algum acorde. Lemmy personificou o estilo rock and roll de viver alardeado nos anos 1960 e 1970. Bebeu tudo o que queria, transou com todas as mulheres que pôde, consumiu todas as drogas que conseguiu.

Foi um ídolo idolatrado não só por seu trabalho musical, mas também por sua personalidade. Apesar de todo o dinheiro que ganhou (e gastou), gostava de levar uma vida aparentemente simples, de bar em bar, de show em show, de cidade em cidade.

Gravou discos clássicos do metal, com o Motörhead, como "Ace of Spades" e "Iron Fist", e virou influência no metal e no punk. Era um "reaça" natural, o que colaborava para a adoração em torno de sua figura. Deixava-se ser visto, fotografado e filmado usando um uniforme do exército de Hitler simplesmente por que achava a roupa "bonita". Criticado por não vestir o uniforme do exército de seu país, o inglês justificava dizendo que era uma roupa "feia".

Já se sabia que seu estado de saúde não era bom nos últimos meses, e urubus de redes sociais já cantavam sua morte, mas quem morreu antes, no mês passado, foi Phil "Animal" Taylor, ex-baterista do Motörhead. Lemmy esbravejou aos deuses que quem deveria morrer era George W. Bush, não seu baterista.

Lemmy era isso: autêntico, um herói sem frescuras. Não é o último ídolo do rock que morreu, mas o último que valia a pena idolatrar.