Topo

Carismático no palco, Wiz Khalifa não tem o menor talento para entrevistas

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

29/01/2016 06h00

Se nos palcos o rapper norte-americano Wiz Khalifa, 28, consegue se expressar como ninguém, fora deles é um cara de poucas palavras. Para divulgar os shows que fará em Santa Catarina (no dia 29 de janeiro), no Rio Grande do Sul (dia 30) e em São Paulo (dia 31), Khalifa topou conversar com UOL por telefone, mas suas respostas lacônicas se resumiram a "sim", "não", "talvez" e um "neeeh".

A falta de jeito com as entrevistas não parece refletir no sucesso de seus últimos trabalhos. A canção "See You Again", trilha do filme "Velozes e Furiosos 7", por exemplo, segue acumulando prêmios e recordes. Em 2015, o clipe foi o mais visto do ano no YouTube, com mais de 1,2 bilhão de reproduções. Além disso, a faixa foi indicada ao Globo de Ouro, ao Grammy e venceu como melhor canção no Critic's Choice Awards, dando fôlego a uma provável indicação ao Oscar, que não veio.

Dono de hits como "We Dem Boyz", "Black and Yellow", "No Sleep", "Work Hard, Play Hard", "When I'm Gone", "This Plane" e "Roll Up", esta será a segunda vez que o rapper se apresenta no Brasil. A primeira foi em 2013, quando fez shows em Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo.

Para os shows deste ano, o rapper também não foi exigente em seu camarim. Segundo a produção, estão previstos pães, queijo cheddar, peru e frutas frescas, além de maçãs, bananas, laranjas, morangos e abacaxi. Ele também não pediu álcool ou bebida quente, apenas água, Gatorade e limonada. 

Maconha e Oscar

A aparente falta de desenvoltura do rapper durante a entrevista poderia ter sido atribuída à sua agenda lotada ou ao cansaço após conversar com vários jornalistas diferentes no mesmo dia. Mas basta ler ou assistir outras entrevistas do cantor para jornais, revistas, rádios e TVs, tanto brasileiras como estrangeiras, para perceber que este é o "jeitinho" dele. Em tom de brincadeira, uma entrevista publicada pela edição da Nova Zelândia da "Time Out" revelou os números do artista durante o bate-papo: "Pausas estranhas durante a entrevista: seis. Tosses durante a entrevista: nove. Quantas palavras ele disse sobre 'See You Again': 218. Palavras ditas durante toda a entrevista: 327". 

Um dos poucos assuntos que Khalifa gosta de conversar é sobre maconha, já que é notório usuário da erva e defensor de sua legalização. Um de seus álbuns, por exemplo, foi batizado de "Rolling Papers" (2011), em referência à maconha. Recentemente, o rapper disse que gostaria de ser a primeira pessoa a fumar um baseado na Estação Espacial Internacional. Ao ser questionado pela reportagem sobre o tema, ele se limitou a dizer: "ia ser legal".

Em vários estados americanos, o consumo da erva já está legalizado, algo que interessa ao artista, já que ele é dono de uma marca de maconha medicinal, batizada de Khalifa Kush. Porém, a sua resposta para uma pergunta sobre se ele estava acompanhando a campanha presidencial deste ano nos Estados Unidos e uma provável legalização da erva em todo o país, foi: "neeeh".

A não indicação de Khalifa ao Oscar ajudou a engrossar o número de artistas negros que ficaram de fora da premiação e que motivou uma campanha para o boicote à festa, capitaneado por Spike Lee. Khalifa, no entanto, não quis entrar na polêmica. Antes da entrevista começar, a assessora do cantor avisou à reportagem que o rapper não responderia sobre Oscar, racismo ou assuntos pessoais, como o seu relacionamento com a ex-namorada de Kanye West, a modelo e cantora Amber Rose.

Se o artista não quis responder perguntas sobre Oscar, assuntos pessoais, política e legalização da maconha, talvez ele se interessasse em falar sobre os shows no Brasil. "A última vez que estive aí no Brasil, eu me diverti muito. A banda foi ótima e… [silêncio]". Nunca saberemos como foi, já que Khalifa não concluiu o raciocínio e interrompeu a resposta pela metade, mas continuou na linha sem desligar o telefone.

Por fim, uma última pergunta sobre sua música mais famosa, "See You Again", conseguiu arrancar a única frase completa da entrevista. "Foi muito importante para a minha carreira. Ela está sempre tocando por aí. Ela [a música] faz parte da vida de muitas pessoas. Quando componho eu simplesmente deixo as ideias fluírem. É na música que me expresso, fico feliz e me completo". Ao que parece, para ouvir o que Khalifa tem a dizer, só mesmo por meio de suas rimas.