Mesmo com problemas, Stones provam que ainda é cedo para fechar a cortina
Os Rolling Stones celebraram a volta ao Rio de Janeiro neste sábado (20), no Estádio do Maracanã, após dez anos do histórico show em Copacabana, em verdadeira comunhão com o público.
Cerca de 66 mil pessoas se viram refletidas no palco, enquanto os integrantes trocavam sorrisos, brincadeiras e olhares de pura cumplicidade entre si -- como se o extenso reinado de quase 55 anos não fosse marcado também por rupturas, brigas e discos fracos.
Em plena meia-idade do rock, os Stones têm se espelhado em sua melhor fase, buscando a mesma energia da época áurea nos anos 1970 e entregando aquela boa e velha dose da destilação perfeita entre rock, blues e soul.
Prova disso veio no segundo ato, com “Midnight Rambler”, “Gimme Shelter”, “Brown Sugar” e o maior hino da carreira, “(I Can Get No) Satisfaction”, de 1965.
A música, tocada à exaustão em todos os shows da banda, por ironia, encerrou a noite com vigor invejável dos septuagenários, se estendendo como uma grande improvisação.
Os fogos de artifício se tornaram puro enfeite quando Keith Richards fitou a plateia com olhar sacana, enquanto tocava suavemente seu famoso riff. Seu primeiro sucesso ainda soa violento e serve de resposta para quem imagina que o gás dos britânicos possa estar no fim.
O guitarrista foi ovacionado ainda mais no momento em que assumiu os microfones com “You Got the Silver” e “Before They Make Me Run”. Ficou por longos minutos apenas observando a plateia gritar seu nome. “Quer saber, sinto falta de vocês”, afagou, visivelmente emocionado.
Um Mick Jagger endiabrado, que batia na própria bunda, atiçou o público desde a primeira música, “Start Me Up”. “Como vão, cariocas?”, perguntou em português. “Faz dez anos do show em Copacabana, quem foi? Bom ter vocês de volta”.
Com fôlego, ele correu na passarela, fez falsetes e regeu a plateia em “Miss You” e “You Can't Always Get What You Want”, esta última com participação do coral da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica). Uma força que a idade definitivamente não consegue domar -- a não ser na hora de cantar a balada “Angie”.
Enquanto Ron Wood, chamado por Jagger de “mascote das Olimpíadas”, fazia pose e solava com o cigarro na mão, Charlie Watts era aquela discrição de sempre. Jagger tentou fazê-lo sambar, mas o músico brilhou mesmo “escondido” com seu toque sóbrio e preciso na bateria.
Atraso e falhas
A noite de celebração, no entanto, começou um pouco conturbada com chuva, atraso e problemas no andamento das primeiras músicas.
Poucos minutos depois das 21h30, horário marcado para a apresentação, havia certa tensão no palco. Uma pessoa da produção avisou o público que o show atrasaria por causa da chuva, que havia caído no início da noite. "Estamos com um probleminha”, tentou dizer sob as vaias da plateia VIP.
Quando as luzes do estádio se apagaram, novas vaias, desta vez direcionada à bandeira do Brasil que aparecia no telão. A presidente Dilma Rousseff foi xingada, mas Jagger, que entrou de camisa e terno vermelhos, teve mais sorte.
Com o clima nada tranquilo, a banda entrou desfavorável, com alguns erros nas primeiras músicas. Em "Start Me Up", Keith ficou sem tocar algumas notas e a banda seguiu fora de sintonia por um breve momento.
O impasse só foi resolvido inteiramente na quarta música, com “Out of Control”, seguida de “Like a Rolling Stone” (cover de Bob Dylan, escolhida pelo público) e duas surpresas: “Angie” no lugar de “Wild Horses” e “Doom and Gloom”, última canção lançada pela banda em 2012, como parte da compilação “GRRR!”, que apareceu pela primeira vez na turnê.
A partir de “Honky Tonk Women”, já na metade do show, os Stones entraram em total sintonia e entregaram uma apresentação sublime, provando que a realeza atravessou décadas intacta.
Pode-se questionar se a banda, que não lança um grande disco há muitos anos, virou de fato uma empresa. Não há dúvidas que o dinheiro ainda os move, mas é outro tipo de paixão que alimenta essa “turnê sem fim” dos Stones – e se depender dela, ainda está cedo para a cortina se fechar.
SETLIST "Olé Tour" Rio de Janeiro
"Start Me Up"
"It's Only Rock 'n' Roll (But I Like It)"
"Tumbling Dice"
"Out of Control"
"Like a Rolling Stone"
"Doom and Gloom"
"Angie"
"Paint It Black"
"Honky Tonk Women"
"You Got the Silver"
"Before They Make Me Run"
"Midnight Rambler"
"Miss You"
"Gimme Shelter"
"Brown Sugar"
"Sympathy for the Devil"
"Jumpin' Jack Flash"
BIS
"You Can't Always Get What You Want"
"(I Can't Get No) Satisfaction"
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