A fantástica fábrica do Safadão: Quem faz e como surgem os hits do fenômeno
O chamado para o trabalho geralmente chega em mensagem de áudio via Whatsapp: “Cadê vocês? Não vão fazer mais música, não?”, perguntava Wesley Safadão, em fevereiro. Dias depois, um grupo de compositores e músicos nordestinos se isolou por duas semanas na praia paradisíaca de Camurupim, em Natal. Contas pagas pelo “chefe” e uma única tarefa: alimentar o fenômeno Safadão com mais uma leva de sucessos.
Entre cearenses e potiguares, Neto Barros, Conde Macedo, Jota Reis, Cabeção do Forró, Raniere Mazille e Zé Hilton se revezam e sustentam o fantástico reinado de Safadão —um dos artistas mais bem pagos da atualidade, com cachês que chegam a R$ 500 mil, média de 25 shows por mês, Ferrari na garagem e jatinho no hangar.
A cada novo trabalho do cantor, os nomes de cada um aparecem com mais frequência em letras miúdas. No último DVD, “Ao Vivo em Brasília” (2015), com meio milhão de downloads em três dias, 14 das 25 músicas são da trupe, incluindo os singles “Parece que o Vento”, com participação de Ivete Sangalo, a romântica "Coração Machucado" e o mega sucesso “Camarote”.
“Rapaz, é uma química que temos desde a Garota Safada [banda que lançou Wesley em 2003]. Ele interpreta nossa música muito bem e é um cara muito humilde", explica Conde, autor de "Você Não me Esqueceu (Nem Muito Menos Eu)" e "Sou Ciumento Mesmo". Entre a mística e a Cîroq
Conde conversou com o UOL após o período de composição na praia. Voltaram com 17 novos temas. Safadão escolheu 15, que devem aparecer em um novo projeto ainda este ano.
Na quinta-feira passada (31), os compositores estavam em Fortaleza (CE) para se reunir com a mãe de Wesley, Dona Bill. Vice-prefeita de Araçoiaba (CE), ela tem o costume de ouvir as canções escolhidas pelo filho. O grupo capricha com uma seresta. "É uma coisa mística", conta Raniere, o maestro do grupo.
As cifras são mais terrenas. Cada canção sai por R$ 15 mil, em média. “Camarote” inclusive. Autor do maior hit de Safadão, Neto Barros lembra que sentiu o cheiro de sucesso quando compôs os versos com Jota Reis. Ao chegar ao ápice com “Palmas para Você / Você merece o título de pior mulher do mundo”, ele deu um grito de eureca: "Puta que pariu, a gente fez o maior sucesso de Wesley!"
A canção segue o cara que leva “toco” da amada e se vinga dando virote [varando a noite na farra], bebendo gela [gelada, cerveja] e tomando Cîroq [marca de vodka que é hit nos rolês ostentação]. “Mas não é propaganda, não, foi só para rimar com camarote”, explica Neto. Aos 42 anos – idade média dos compositores no grupo – ele diz que não bebe e não sai de casa. “Mas, você sabe, um compositor, principalmente de forró, tem que estar sempre pesquisando”.
"Camarote" foi vendida como outra qualquer: R$ 20 mil. Com o estouro, Wesley chamou a turma para a "participação dos lucros".
"Hoje o nordestino é que nem o papa, é pop. A gente desmistificou a coisa do nordestino de chapéu de couro. Isso não existe mais. Com a globalização, a gente está parecido com o Brasil todo. Vaqueiro trocou o cavalo pela moto, o chapéu de coro por um boné estiloso"
Raniere Mazille, músico
Nordestino é pop
Não é apenas Neto que precisa mergulhar no desconhecido ao compor um sucesso. Fã de Djavan e Caetano Veloso, Conde explica que escreve forró, sem sequer ouvir o gênero. "Eu sempre ouvi música boa, mas você sabe que no Brasil música boa não serve, né?”, reclama.
Gosta especialmente das românticas e confessa que busca inspirações nos clássicos da MPB. “Mas agora todo mundo quer algo para cima, alegre. Tem que ter mais de um ‘Camarote’”, observa.
Prova disso foi “Gelo na Balada”, hit festeiro lançado pelos Cavaleiros do Forró e que hoje é um recorde no caixa do grupo: R$ 250 mil. “Uma dupla de São Paulo ficou louca e quis comprar os direitos de qualquer jeito”, revela Conde.
A invasão nordestina no Sudeste trouxe novos fregueses, como Humberto e Ronaldo (“Solteiro Sim”) e Israel Novaes ("Você Merece Cachê"). Jorge e Mateus já sinalizaram que os querem na fazenda deles. Preta Gil, às voltas com um novo disco mais popular, ligou para marcar uma conversa.
"Hoje o nordestino é que nem o papa, é pop", sentencia Raniere. “A gente desmistificou a coisa do nordestino de chapéu de couro. Isso não existe mais. Com a globalização, a gente está parecido com o Brasil todo. Vaqueiro trocou o cavalo pela moto, o chapéu de coro por um boné estiloso”.
Eles comemoram a chegada de novos clientes, mas revelam a vontade de se lançar como banda própria. Em julho, eles devem começar a gravar o primeiro CD. O nome da banda? Usina de Hits. “O sucesso a gente já tem. Só precisa ir atrás de baterista e baixista”.
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