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"Temos que fazer das tripas coração para continuar", diz Rogério Flausino

Jota Quest: PJ, Márcio Buzelin, Rogério Flausino, Marco Túlio e Paulinho Fonseca Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

15/04/2016 06h00

Algo incomoda o vocalista Rogério Flausino, do Jota Quest. E não é a resistência que o pop rock vem enfrentando atualmente nas rádios. O problema é o festival de vídeos e selfies que viraram lei nos shows no Brasil. Mas ele também faz lá sua “mea culpa”.

“É uma verdadeira pandemia, em todos os lugares. Um negócio muito louco. Quando você vê, você já está filmando”, diz ao UOL por telefone Rogério, que neste sábado (16) se apresenta na Fundição Progresso do Rio de Janeiro, e que depois desembarca em São Paulo, no Espaço das Américas, no dia 7 de maio.

O show é parte da nova turnê nacional do grupo, divulgando o álbum Pancadélico”. Gravado em Belo Horizonte e lançado em novembro do ano passado, o disco repete a parceria com a lenda Nile Rodgers, guitarrista do grupo americano Chic, que produz e toca em três faixas do novo trabalho.

"Ter um guru como o Nile assinando coisas do seu álbum, para uns branquelos que começaram fazendo black music 20 anos atrás, é o maior presente que a gente poderia ganhar”, afirma Rogério, que planeja tocar com o ídolo em outubro no Brasil. Quem sabe para a gravação de um DVD? Falta acertar as agendas.

Apesar da boa fase musical da banda, nem tudo é fácil para os mineiros. Em tempos de monopólio sertanejo nas rádios é inegável que o som do Jota Quest hoje interessa menos a quem investe em música. E, consequentemente, ao próprio público. "A gente do rock e do pop rock tem que fazer das tripas coração para seguir em frente."

Leia os principais trechos da entrevista.

UOL – Como começou a aproximação com o Nile Rogers?

Rogério Flausino - O PJ [baixista do Jota Quest] sempre vem tentando costurar coisas legais. Já tínhamos trabalhado no disco “La Plata” com Ashley Slater, que vinha fazendo coisas com o Fat Boy Slim. No caso do Nile, o destino ajudou demais. Em 2011, a gente fez um evento corporativo internacional da Sky, e o Chic veio tocar também. Nos camarins, o PJ conheceu o Jerry Barnes, o baixista deles que substituiu o Bernard Edwards. Foi aí que a gente entrou na parada.

Ficamos amigos e fomos nos Estados Unidos conhecer o estúdio que ele trabalha. Convidamos o Jerry para produzir umas duas músicas nossas. Ele topou, veio para o Brasil, e saiu daqui com 12 músicas, que acabaram virando o “Funky Funky Boom Boom” [álbum de 2013]. Ele virou o produtor do disco, e mostrou nosso som para o Nile. Ele ouviu, gostou de “Mano Bem”, “Imperfeito”, botou guitarra. Foi tudo por Skype.

Como ele é?

É um cara muito gente boa. É tipo um guruzão. Ele viveu tanta coisa. E ele quase morreu recentemente de câncer. E deu a volta por cima. Depois que você lê a biografia do cara, que saiu recentemente, você pensa: “meu Deus do céu, o que esse cara passou na vida”. Não só dificuldades na infância, mas as loucuras que viveu com os caras com o qual trabalhou, e agora acabou sendo redescoberto pelo mundo por causa do Daft Punk e o Pharrell. Ter um guru como o Nile assinando coisas do seu álbum, para quem começou fazendo black music 20 anos atrás, uns branquelos de BH, é o maior presente que a gente poderia ganhar.

Vocês vão sair em turnê novamente. Estão preparados para o mar de celulares da plateia?

Cara, acho que isso é uma verdadeira pandemia mundial, em todos os lugares. Um negócio muito louco. Quando você vê, você já está filmando. Quem sou para dizer que não gosto nem que não faço. Talvez seja uma forma de eternizar o momento.

Uma vez, a gente estava tocando numa festa corporativa. Na primeira música, você via que mais da metade do público estava filmando. Aí veio a segunda música, a terceira. Parei e falei: “Galera, abaixa a câmera. Vamos dançar, cantar, curtir. Depois vocês filmam!”. Esse dia foi realmente impressionante. Acho que esperto mesmo é o Coldplay que já coloca pulseirinha no braço de todo mundo, e você não sabe o que é pulseira e o que é celular (risos).

Acha que o público perdeu interesse pelo pop rock?

Putz. Já passamos por vários momentos. Somos filhos da geração dos 1980, que teve nos 1990 um momento muito bom. De muita criatividade. As gravadoras ainda eram muito fortes. A gente tinha uma MTV só para nós, que apontava os movimentos. As gravadoras contratavam, davam oportunidade, investiam. As rádios tocavam.

Com o enfraquecimento da indústria, por causa da pirataria e depois com a internet, acabou o investimento no tipo de música que a gente faz. Abriu-se espaço no mercado de shows e rádios para outros segmentos que soubessem se organizar. É uma coisa de “business” mesmo, que aconteceu e prejudicou muito nosso segmento. Não estou falando só de dinheiro. Existia uma cultura em cima desse tipo de som. Os festivais aconteciam. Hoje, a gente do rock e do pop rock tem que fazer das tripas coração para seguir em frente.

Não é fácil estourar uma “Fácil” hoje em dia, né?

(risos) Compor uma canção hoje em dia, algo mais lento, e fazer isso acontecer no Brasil é muito mais difícil. Isso é uma coisa que a gente fica pensando o tempo todo, porque o Jota tem uma história de canções. A gente quebra a cabeça na hora de lançar uma música. Em que lugar ela pode ser executada? Que veículos vão apoiar? Como somos uma banda grande, temos que pensar nisso. Antigamente, a gente podia ser mais instintivo. Porque a gente sabia que teria apoio. Hoje, a gente tem que pensar muito mais sobre o que vai lançar.

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