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Após 11 anos, Rappa lança novo disco acústico: "Não será o último"

Capa do novo trabalho da banda O Rappa, o "Acústico Oficina Francisco Brennand" - Divulgação
Capa do novo trabalho da banda O Rappa, o "Acústico Oficina Francisco Brennand" Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

03/06/2016 18h10

Onze anos separam o "Acústico MTV" do Rappa do novo "Acústico Oficina Francisco Brennand", gravado ao vivo no Recife e lançado nesta sexta (3). Mas o gosto dos integrantes pelo formato, tantas vezes criticado como "fácil" e "desgastado", segue incólume.

Na opinião deles, esse tipo de show tem, sim, sua má fama, e ela está relacionada à maneira como costuma ser explorado: geralmente uma produção "expressa" e previsível, que dá pouca ou nenhuma margem a experimentações.

"Isso é o que queríamos evitar no disco. Você pode explorar o formato acústico de diversas formas. Um show numa igreja, por exemplo, e um em um espaço fechado serão muito diferentes. Inclusive o sons dos instrumentos. A engenharia técnica te dá essa possibilidade", disse o guitarrista Xandão ao UOL na tarde desta sexta, durante o evento de lançamento do álbum em São Paulo.

"Tocar ao vivo é algo que sempre foi muito confortável para a gente. E não enxergo este como nosso último acústico. Temos vontade de continuar explorando captações e sonoridades novas, em lugares diferentes."

"Não enxergo este como nosso último acústico. Temos vontade de explorar captações e sonoridades novas, em lugares diferentes."
Xandão, guitarrista do Rappa

Gravado em dois dias, em novembro do ano passado, o disco mescla sucessos, faixas inéditas e "lados B". Na edição em DVD, trechos de show são intercalados com imagens de bastidores e da suntuosa arquitetura do local, que tem ares de templo e também funciona como museu.

No palco, O Rappa utiliza instrumentos diferentes, como a escaleta, o caribenho steel drums (tambores de aço) e um exótico harmonium indiano espécie de sanfona em formato de teclado. Costurando o setlist, Brennand aparece falando sobre arte contemporânea, música e suas possíveis sobreposições.

Para gravar na oficina, o grupo teve de negociar com a filha e a mulher de Brennand, que o convenceram a ceder o espaço e participar do projeto.

"Ele nos aceitou da forma mais bonita dentro da 'casa' dele, fiquei até emocionado. Tem uma cena em que eu choro. Falei para ele que ele é um cara importante, e que o Brasil inteiro deveria saber quem ele é."

A direção do show é caprichada. Aproveita as linhas do cenário e empresta aura mais "artística" ao pop rock do grupo. Bem diferente das filmagens protocolares em estúdio do primeiro "Acústico MTV", lançado em 2005.

O cantor Falcão grava DVD acústico do Rappa no Recife - Reprodução - Reprodução
Falcão grava DVD acústico do O Rappa
Imagem: Reprodução

Segundo a banda, a ideia de gravar no Recife partiu dos próprios integrantes, após o barulhento show que fizeram no Carnaval de 2014, no Marco Zero da cidade. É uma forma de agradecer ao público.

"Temos uma relação antiga com Recife, desde que tocamos no Abril Pro Rock e conhecemos a região de Peixinhos", disse o vocalista Marcelo Falcão, que deu ares regionais ao disco convidando o rapper cearense RAPadura para cantar "Nordeste me Veste".

A grande ode à cultura e ao povo do Norte e Nordeste do país é o momento mais animado do DVD. "Sempre fizemos correlação do Nordeste com os lugares do Rio, os mais humildes, e com nossa história na comunidade de Vigário Geral e com o grupo Afroreggae."

Conhecido pelas letras de cunho social, Falcão fez questão de frisar que o projeto, o mais caro da banda até aqui, não conta com dinheiro de nenhum tipo de lei de incentivo, mas com o "suor" da banda e seus parceiros.

"Essa polarização política que existe hoje não é boa para ninguém. Na banda, cada um tem sua posição política, mas todos querem justiça. Que vá sempre para a cadeia o político corrupto, não o pobre que rouba manteiga na padaria para comer."