Unidos por Sorocaba, Milionário & Marciano superam trauma com superprodução
Nem o mineiro Milionário nem o paulista Marciano tinham planos de voltar a cantar em duplas. As mortes e traumas com os ex-parceiros José Rico (1946-2015) e João Mineiro (1935-2012) deixaram cicatrizes profundas. Foi preciso a intervenção do cantor e empresário Sorocaba para que o encontro histórico saísse do papel.
A proposta era atrativa: a gravação de um DVD ao vivo de sucessos e uma turnê de um ano e meio pelo país, com total liberdade artística. Animados com a possibilidade, os cantores só fizeram uma exigência: profissionalismo.
Sorocaba teria de investir alto e gerenciar diretamente a empreitada. E assim o fez: deu o nome de “Lendas” ao projeto e elaborou um conceito que reproduz no palco a rica e esquecida cultura circense do interior do país.
Com ares de superprodução, o registro do disco envolveu cerca de 200 profissionais —40 deles artistas performáticos, incluindo acrobatas, equilibristas, palhaços e malabaristas. A direção artística é do ator Marcos Frota.
“Você imagina se nós, que não somos novidade, resolvêssemos entrar no mercado de novo com um empresário que não tem expressão, que não iria fazer nenhum investimento? Não ia dar em nada”, diz ao UOL Marciano, caçula da nova dupla, que não revela o orçamento do projeto.
“A ideia de juntar a gente foi do [compositor e produtor] Bruno Montovani, que falou com o Sorocaba. Eu não tinha vontade de fazer dupla nunca mais. Minha intenção era parar de cantar”, admite Milionário, que no ano passado, três meses após a morte do parceiro, precisou passar por uma delicada cirurgia cardíaca.
"Imagina se resolvêssemos entrar no mercado de novo com um empresário que não tem expressão, que não iria fazer nenhum investimento? Não ia dar em nada.”
O cantor Marciano
Agora sob acompanhamento médico regular, ele nega os boatos de queria cantar com um nome da nova geração, como chegou a ser aventado na época. “Quando eles vieram com a ideia de ser com Marciano, nossa, parece que o mundo virou para mim. Sempre fomos amigos. Não teve dificuldade nenhuma para entrosar.”
Com repertório dividido entre as antigas duplas, “Lendas” dá toques modernos a clássicos como “Ainda Ontem Chorei de Saudade”, "Viola Está Chorando" e “Vontade Dividida”. Os arranjos de cordas acompanhadas de sopros e coro são do maestro Rodrigo Costa. A ideia, segundo os cantores, era imprimir às canções uma aura de “Julio Iglesias ou Luiz Miguel”.
“Estamos fazendo uma coisa muito séria. E está tudo indo muito bem. Nossa música sertaneja nunca cai. Está sempre no auge”, comenta Milionário, que não descarta voltar aos estúdios com o novo parceiro. “Tenho músicas, o Marciano também tem. Se pintar alguma ideia boa, vamos gravar, sim.”
Início no circo
Além de apresentar o sertanejo de raiz à nova geração, outra frente do projeto é homenagear um universo que os cantores conhecem bem, o do circo. No início de carreira nos anos 1970, época em que a dupla se conheceu em “showmícios” no interior do Paraná, o sertanejo era mal visto por contratantes. Sobravam apenas os mambembes picadeiros para se apresentar.
“No começo, tudo era muito difícil para gente. Até o nosso sertanejo começar a se consolidar, no fim dos anos 1970, início dos 1980, só o circo nos dava espaço. É um tributo nosso a eles. O circo é nossa raiz", lembra Marciano, novamente a primeira voz na dupla,
Afinada no tom e discurso, os parceiros só divergem ao imaginar o que os antigos colegas pensariam da união. “Acho que o Zé Rico aprovaria, sim. Ele gostava de coisas boas. E é o que estamos fazendo”, entende Milionário. “Cara, não sei. Não sou a pessoa indicada para dizer isso. Não podemos falar por terceiros”, contemporiza Marciano, que desfez a dupla com João Mineiro em 1993, após anos de rusgas.
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