Samba Toca da Onça anima festa de aniversário de morador de São Mateus
Imagine festejar o aniversário com uma roda de samba tocando ao vivo, no meio da sua casa? O Samba Toca da Onça, quinta roda visitada pelo BOL no ano em que é comemorado o Centenário do Samba, resolveu adaptar a reunião do grupo para, além de tocar na Praça Ribeirão do Carmo, no Jardim Vera Cruz, homenagear os moradores de São Mateus, na zona leste de São Paulo. O grupo ‘invade’ a festa do aniversariante – sempre um membro da comunidade que é assíduo nos encontros da roda – com sucessos imortalizados na voz de sambistas consagrados e muita animação.
O cobrador de ônibus Celso Teixeira Cintra, que estava comemorando seus 47 anos – os mesmos como morador de São Mateus – recebe os convidados com o portão de casa aberto, sem restrições. Amigos, familiares e novos visitantes podem chegar e participar, gratuitamente, da comunhão. “Esta já é a terceira vez que eles comemoram comigo. Aqui não tem essa, é só entrar e se divertir”, afirma Celso, que já oferece uma cerveja e um refrigerante logo na entrada.
O Samba Toca da Onça acontece de 15 em 15 dias, aos sábados, às 18h. No aniversário de Celso, um incentivador do samba de raiz tocado pelos 12 membros do grupo, o horário mudou um pouquinho. Mas festa nunca começa na hora marcada, não é mesmo?! “Teve gente que chegou mais cedo, outros passam aqui bem mais tarde. Nossa festa não tem hora para acabar”, diz o cobrador de ônibus.
“A proprietária do bar, Dona Irene, tinha a fama de ser brava, não aceitava fiado e só dava a cerveja depois que o cliente pagava. Com isso, o marido dela resolveu apelidá-la de Dona Onça, e o nome pegou. Como o ambiente do bar era pequeno, ficou ‘Toca da Onça’”, explica Naldo.
Hospitalidade e alegria
Aparecido Teixeira Cintra, Seu Paraná, como é conhecido, de 72 anos, é o anfitrião da festa, além de pai do aniversariante. Aposentado, ele se apresenta para os convidados e logo começa uma longa prosa.
“Um dia eu cheguei para minha ‘velha’, disse que estava cansado do aluguel, peguei minhas poucas coisas e acabei aqui, no Jardim Vera Cruz. Com a gente veio mais um monte de parente. Erguemos nossa casa há quase 50 anos, era só um brejo e muito mato em volta”, conta o morador.
De acordo com ele, no início não foi fácil, mas conseguiu criar os quatro filhos, os netos – que seu Paraná já até perdeu a conta – e os seis bisnetos. A roda, que hoje toma conta da música na casa antiga do aposentado, começou na porta dele. “Na época eu nem gostava de samba. Os meninos do Toca da Onça e meus filhos que me fizeram mudar de opinião”, revela à reportagem do BOL.
Do portão da casa do Seu Paraná, o Samba Toca da Onça seguiu para um bar que ficava em frente a um campinho de futebol, também na região. “A gente experimentou alguns lugares até chegar à Praça Ribeirão do Carmo, onde tocamos atualmente”, explica o zelador Marcelo Viana, de 38 anos, outro fundador da roda.
Para todos os gostos
Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. O público do Samba Toca da Onça é bem variado e familiar. “Nossa roda tem muita criança. Os filhos dos músicos, as famílias adoram comparecer e participar. Essa união é, inclusive, um dos nossos objetivos”, afirma Marcelo.
Outro objetivo do grupo mencionado pelo zelador e músico é a inserção da cultura popular na periferia, de forma gratuita. “Focamos em melhorias para a nossa comunidade, pagamos tudo no nosso bolso e recebemos a ajuda de líderes comunitários daqui. A população também pode ajudar com um quilo de alimento não perecível, mas não é obrigatório”, diz.
Os sambistas logo organizam a roda e testam o som dos instrumentos e microfones antes de começar a cantoria. Tem onça por todo o lugar: na toalha da mesa, no pôster pendurado na parede, na camisa dos músicos e, inclusive, uma estátua do animal no centro de tudo.
Segundo Naldo Candiá, o púbico pede e eles tocam. Dessa forma, os integrantes conseguem fazer uma mistura com os sambas que marcaram os anos 1970, 1980 e 1990. “Clara Nunes, Martinho da Vila, até Arte Popular entra no nosso repertório”, brinca.
Para o músico, mais do que ajudar a comunidade em que vivem, os encontros quinzenais são um momento em que os integrantes e participantes entram em verdadeira comunhão, divertem-se e deixam os problemas de lado. Para os membros menos experientes, ainda é um espaço de aprendizado e disciplina. “Eu venho aqui, cada dia, com uma missão. A de ensinar. Ensinar é o meu caminho”, declara.
Samba Toca da Onça
Endereço: Praça Ribeirão do Carmo, no Jardim Vera Cruz, em São Paulo (mas pode migrar para a casa de algum aniversariante do grupo)
Dia e horário: Aos sábados, de 15 em 15 dias, às 18h
Telefone: (11) 95443-6745
Entrada: gratuita
Rodas de samba visitadas pelo BOL em São Paulo:
- Samba da Vela - Toda segunda-feira, às 20h45, em Santo Amaro
- Samba na Feira - No terceiro domingo do mês, às 13h, no Jardim Primavera
- Samba Maria Cursi - Todos os sábados, em São Mateus, às 21h
- Samba do Congo - Toda terça-feira, às 19h45, na Casa de Cultura da Brasilândia
- Samba Toca da Onça - Aos sábados, de 15 em 15 dias, às 18h
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