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Larry Carlton, guitarrista que tocou em mais de 3.000 discos, volta a SP

Larry Carlton durante gravação em Tóquio para vítimas do tsunami de 2011 - Jun Sato/WireImage
Larry Carlton durante gravação em Tóquio para vítimas do tsunami de 2011 Imagem: Jun Sato/WireImage

Jotabê Medeiros

Colaboração para o UOL

12/07/2016 15h57

Havia 33 anos que o guitarrista Larry Carlton não tocava no Brasil. No próximo domingo, no Largo da Matriz de Iguape (200 km de São Paulo), às 22h30, o lendário guitarrista volta a subir num palco do país após longa ausência. E de graça. Ele é a estrela máxima do Iguape Jazz & Blues Festival, que está em sua segunda edição e tem ainda astros como o bluesman Jimmy Burns e o saxofonista Leo Gandelman em sua programação. Na próxima terça-feira, 19, às 21h30, o guitarrista também se apresenta no Bourbon Street, em São Paulo.

Nesta quarta (13), a produtora responsável pelo Iguape Jazz & Blues Festival informou que o festival foi cancelado. Leia o comunicado

Larry Carlton é um dos mais importantes guitarristas da nossa época por diversos motivos. Desde o final dos anos 1960 na ativa, ele foi músico de estúdio nos anos 1970 e 1980, ganhando cem discos de ouro. Concorreu a 19 prêmios Grammy, ganhou quatro deles. Sua apresentação em Iguape será com um trio - Jota Morelli na bateria, Daniel Maza no baixo e Colo Silva nos teclados. Por telefone, de Buenos Aires, Larry Carlton concedeu a seguinte entrevista:


UOL - Em 1978, você escreveu uma canção chamada "Rio Samba". Qual a história dela?

Larry Carlton - Eu compus uma canção a qual me atrevi a pensar que tinha um certo sabor de música brasileira, latina. Aí, por causa de uma certa inocência, eu a batizei assim.

Não foi por causa de uma experiência no Brasil ou com a música brasileira?

Não. Eu vivia em Los Angeles na época, e só se tocava muito pouca música brasileira no rádio. Eu não tinha familiaridade, exceto quando entrava em estúdio para gravar com brasileiros, isso acontecia bastante. É possível que tenha tocado com Helio Delmiro e João Donato, que você menciona, não me lembro de muita coisa.

Você considera que uma de suas primeiras influências foi Barney Kessel, que também foi uma das influências do papa da bossa nova, João Gilberto. É possível dizer que, de certa forma, você e a bossa nova vêm da mesma fonte?

Eu era um adolescente quando ouvi Barney Kessel, um disco chamado "Kessel Plays Standards", de 1956. Eu fui influenciado por Joe Pass, Barney e Wes Montgomery, mas quando você é muito jovem, Barney é melhor porque é muito simples, o mais simples de todas essas influências. Joe Pass é muito mais complicado. Barney foi uma boa influência inicial.

Você nunca menciona Django Reinhardt, que foi muito importante para os guitarristas dos anos 1950.

Não tive influência dele e não tenho. Eu ouvia muito as jazz stations, e Django não era tocado. Só mais tarde fui saber de sua contribuição.

Você tem ideia de quantas gravações de discos participou?

Eu sei aproximadamente. Creio que participei de cerca de 3.000 gravações nos 20 anos em que fui muito ativo como músico de estúdio, especialmente nos anos 1980. Três mil gravações, cada uma delas com o dispêndio, em média, de três horas.

E qual foi a principal lição que trouxe dessas gravações? Você até diz que se considera um “servo” quando está no estúdio gravando um disco.

Quando eu comecei, eu pensava somente como um guitarrista. Tocando nos discos dos outros artistas, com outras propostas, eu comecei a pensar mais como um arranjador, me tornei mais preparado para atuar nos arranjos.

Você também criou uma associação de apoio a vítimas da violência, a Helping Innocent People. Essa associação ainda existe?

Eu criei essa organização três anos após ter levado um tiro. Como eu mesmo fui uma vítima, criei o organismo para ajudar pessoas inocentes que foram vítimas de crimes violentos. Mas acabou me envolvendo demais, começou a tomar muito do meu tempo e eu encerrei. Acho que os incidentes violentos nas cidades americanas, atualmente, uma coisa muito triste. Não sei explicar como isso acontece, mas me entristece muito.

Você chegou a gravar muito funk, tem até um disco sobre o legado Philly, de música soul e funk.

Funk é uma música que eu gosto muito de ouvir, e toquei com os Crusaders, que era uma banda muito funky. Mas eu nunca me considerei como um guitarrista de funk, eu sou mais do jazz e do blues.

Outra coisa que você menciona é como a música country ajudou a forjar seu estilo.

Sim, especialmente o violão acústico, que talvez tenha ajudado meu jeito de dobrar as notas. Mas não era slide. Toquei muito steel guitar.

Você realiza com muita frequência encontros com outras feras da guitarra, como Robben Ford e Steve Lukather. Qual seu propósito quando faz essas colaborações?

Eu sempre procuro tocar com outros guitarristas que eu respeito e que têm algo que eu não tenho. A intenção é somente fazer música, não há a menor sombra de competição entre nós. É uma experiência totalmente positiva, de encontro, totalmente em prol da música.