Novo show, novo disco, velha banda: Radiohead chega a 2016 ainda melhor
Não teve "Creep" dessa vez. O suspense sobre se o Radiohead tocaria o grande hit dos anos 1990 no show desta sexta-feira (29) no Lollapalooza, em Chicago, rondava o público do festival e nas redes sociais. Menos pela música em si, mais pela história a se contar: eles voltaram a incluir a faixa no repertório depois de sete anos sem apresentá-la ao vivo. Só neste ano já foram cinco vezes.
Mas não teve "Creep" dessa vez, e não fez falta. O Radiohead entregou uma outra raridade no lugar: "No Surprises", sumida desde o mesmo período. Mas, levando em consideração que a banda ficou longe dos palcos por quatro anos, até que não foi tanto tempo assim. Lembre-se: as duas músicas estiveram presentes nos shows do Radiohead no Brasil, em 2009.
Neste Lollapalooza --que o UOL, em parceria com a Red Bull TV, transmite alguns dos principais shows (acompanhe aqui)--, o Radiohead abriu o show com a agoniante "Burn the Witch", uma das melhores faixas do novíssimo disco "A Moon Shaped Pool", lançado há dois meses. E, com o palco banhado em luzes vermelhas e pretas, a música ao vivo veio ainda mais poderosa, trocando a pegada pop por um rock urgente, em dobradinha com "Daydreaming", faixa de clima etéreo do mesmo álbum, que ganhou clipe dirigido pelo cineasta Paul Thomas Anderson.
Mas foi o repertório mais antigo que conectou-se mais ao público. Estavam ali "My Iron Lung" (do álbum "The Bends", de 1995), "Climbing Up the Walls" e "Karma Police" (ambas de "Ok Computer", de 1997) e a melhor sequência do show: "Weird Fishes/Arpeggi" (de "In Rainbows", 2007), "Everything in Its Right Place", "Idioteque" (as duas de "Kid A", 2000) e "There There" (de "Hail to the Thief", 2003). Nem tudo, porém, é ouro: em certo momento das 2h10 de duração do show, escolhas anti-climáticas foram entrelaçadas por músicas novas e algumas dispensáveis de "The King of Limbs" (2011) e de "Hail to the Thief". Passou rápido, felizmente.
Apesar do rumo eletrônico que tomou nos últimos anos, e ainda inserindo experimentações herméticas ao vivo, o Radiohead continua sendo uma grande banda de rock —e não apenas por ter dois bateristas no palco (além de Philip Selway, o grupo tem levado Clive Deamer, do Portishead, nas turnês) e as três guitarras de Jonny Greenwood, Ed O'Brien e Thom Yorke, acompanhados pelo baixo de Colin Greenwood. Eles, juntos, continuam construindo pontes cruciais entre o passado e o futuro, e mantendo-se à frente de seu tempo no presente.
É uma característica que não agrada a todos, certamente. E isso talvez explique a nítida divisão de público do Lollapalooza, por exemplo. Não como justificativa, mas como observação: enquanto o Major Lazer, o grupo de eletrônica formado em 2008 pelo produtor Diplo, tocava no outro extremo do Grant Prak para uma plateia jovem e saltitante, o Radiohead atraiu um público mais "maduro" e menos afobado. Vale lembrar que a banda de Yorke surgiu há mais de 20 anos, o que já a credencia praticamente como um grupo de rock clássico. E a qual tem o tempo a seu favor: os anos só fizeram bem ao Radiohead.
Veja as músicas que o Radiohead tocou no Lollapalooza:
"Burn the Witch"
"Daydreaming"
"Ful Stop"
"2 + 2 = 5"
"Myxomatosis"
"My Iron Lung"
"Climbing Up the Walls"
"No Surprises"
"Pyramid Song"
"Bloom"
"Identikit"
"The Numbers"
"The Gloaming"
"Weird Fishes/Arpeggi"
"Everything in Its Right Place"
"Idioteque"
"There There"
bis
"Let Down"
"Present Tense"
"Paranoid Android"
"Nude"
"Bodysnatchers"
bis
"Street Spirit (Fade Out)"
"Karma Police"
*A jornalista viajou a convite da Red Bull
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