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"Nossa realidade é preconceituosa, racista e transfóbica", diz Criolo

Veja Bate-papo UOL com Criolo na íntegra

UOL Entretenimento

Do UOL, em São Paulo

18/08/2016 16h27

Em tempos de polarização política e radicalismo de discursos, Criolo teve uma preocupação especial na hora regravar as músicas de seu primeiro álbum, "Ainda Há Tempo" (2006).

Na nova versão do disco, que foi lançada este ano, mais enxuta e com e arranjos mais ecléticos, ele alterou partes de letras. Em "Vasilhame", por exemplo, o verso “Os traveco tão aí, oh! Alguém vai se iludir” foi substituído por “O universo tá aí, oh! Alguém vai se iludir”.



Segundo o cantor, o termo designado a transexuais do gênero masculino acabava soava pejorativo e a atingindo um alvo que não queria inicialmente.

“Estava jogando para um alvo que eu nem sabia, tá ligado? Você vai aglutinando o que chega para você, e você leva um tempo para compreender. Acho que é importante ouvir o outro”, diz Criolo ao UOL.

O cantor, que se diz aberto a críticas, refuta que, com isso, esteja aderindo ao chamado “politicamente correto”. Nega também que o atual momento político esteja dando voz à parcela mais intolerante da sociedade.

“Esses discursos sempre surgiram. Acho que, infelizmente, devido à tecnologia, elas tem demonstrado mais como é a nossa realidade, que é extremamente preconceituosa, racista e transfóbica, xenófoba”, afirma Criolo.

“Cresci dentro de um ambiente familiar em que já é natural lutar contra essas questões ruins. Só que minha mãe nunca fomentou rancor. Para ela, o ódio e tantos outros sentimentos, que podem aflorar, porque somos humanos, nunca iriam nos ajudar na nossa jornada.”

Protesto contra Temer

Criolo, que classifica o afastamento da presidente Dilma como “golpe”, afirmou ainda não saber como a inscrição “Temer Jamais” foi parar no telão de seu show na Virada Cultural, em maio deste ano, que teve forte tom político.

“Rapaz, não sei o que aconteceu, mas aconteceu e foi colorido. Saí do palco para fazer não sei o quê e voltei e estava lá. Aqueles meninos são danados. Independentemente disso, isso já estava acontecendo. O protagonismo não é de uma pessoa, sobre qualquer tema. Ele sempre vai estar no gesto”, filosofa.

Sobre as polêmicas vaias do público brasileiro a atletas estrangeiros na Olimpíada do Rio, Criolo, fã de esportes, dá uma explicação histórica.

 “Cada um tem um jeito de expressar. A gente vem de um país que foi invadido. Temos resquícios de coronelismo e de uma ditadura horrorosa até hoje. Somos um povo próximo à Linha do Equador, que sofre. Independentemente do olhar de cada um, se é pra bom ou ruim, a gente se manifesta.”