Como o criador do Backstreet Boys se tornou o maior trambiqueiro do pop
Passou meio despercebido, no último final de semana, o anúncio da morte de Lou Pearlman. Um dos homens mais poderosos do pop dos anos 1990, Pearlman foi um gênio da música adolescente, criador de Backstreet Boys e N’Sync e descobridor de Britney Spears. Mas ele andava esquecido, aos 62 anos, em uma prisão federal na Flórida, onde cumpria pena de 25 anos por afanar cerca de US$ 300 milhões num complexo esquema de "pirâmide". "Big Poppa" ("Papaizão"), como gostava de ser chamado por seus artistas, também foi um trambiqueiro de marca maior, que roubou seus contratados sem piedade.
No início dos anos 1990, Pearlman tinha uma empresa de táxi aéreo e prestava serviços ao grupo pop New Kids on the Block. Impressionado com a riqueza dos rapazes, decidiu ampliar seus negócios e tornar-se empresário musical. Foi para Orlando, na Flórida, cidade que concentra muitos parques temáticos e é lotada de adolescentes em busca de fama como cantores e atores.
Ele já tinha em mente seu público-alvo: meninas adolescentes. "Meninas não têm dinheiro, mas têm acesso a uma quantidade imensa do dinheiro de tias, tios, avós e avôs, que adoram presentear as sobrinhas e netinhas", disse Pearlman ao jornalista John Seabrook, autor do excelente livro "The Song Machine", sobre a indústria da música pop. Em Orlando, Lou Pearlman fez centenas de audições e escolheu os cinco rapazes que formariam seu primeiro grupo, o Backstreet Boys.
O BSB demorou a fazer sucesso. Foram uns três anos de ensaios, shows e tentativas de assinar com uma gravadora, até que Pearlman conseguiu um contrato com a Zomba Music, empresa do sul-africano Clive Calder, um gênio do showbiz que vendeu parte da Zomba para a gigante BMG, com uma cláusula em que a BMG se comprometia a comprar a outra metade por três vezes o lucro médio da Zomba dos últimos três anos.
Calder moveu o mundo e contratou, de uma vez, Backstreet Boys, N'Sync e Britney Spears. Nos três anos seguintes, o trio venderia 50 milhões de discos só nos Estados Unidos, e o lucro anual da Zomba chegou a US$ 900 milhões. Calder, então, liquidou a empresa por inacreditáveis US$ 2,7 bilhões, tornando-se, de uma tacada, o homem mais rico da história da música.
Calder pôs o Backstreet Boys nas mãos de um produtor sueco chamado Max Martin (que trabalhou ainda com Britney Spears, Kelly Clarkson, Katy Perry e Maroon 5), que ajudou o Backstreet Boys a tornar-se a boy band campeã de vendas no mundo, com 130 milhões de discos, deixando na poeira Jackson 5, New Kids on the Block e Menudo.
Só havia um problema: nenhum dos Backstreet Boys estava vendo a cor do dinheiro. Por mais que sacos de dólares chegassem às suas mãos, Lou Pearlman dizia que ainda precisava recuperar o que investira na banda. Os rapazes contrataram advogados e processaram Pearlman.
Concorrência à vista
A situação entre criador e criatura piorou depois que os Backstreet Boys descobriram que um grupo rival, o N'Sync, também havia sido criado por Pearlman ("Por que vou esperar alguém montar um concorrente para o Backstreet Boys? Resolvi sair na frente e criei minha própria concorrência", disse o empresário). O N'Sync também foi um fenômeno de vendas e foi roubado na cara dura por Pearlman, que pagava US$ 35 por dia aos rapazes, mesmo depois de eles terem vendido 15 milhões de discos.
Pearlman tinha um ouvido de ouro para pop pegajoso. Em 1997, resolveu montar uma girl band chamada Innosense, e convidou uma menina de 15 anos que fizera parte do elenco do programa de TV "Clube do Mickey". Seu nome: Britney Spears. Ela acabou optando por tentar a carreira solo e não assinou com Pearlman. Sortuda.
Fraude financeira e assédio sexual
Paralelamente à bem-sucedida carreira de empresário musical, Lou Pearlman iniciou o maior trambique de sua carreira, atraindo investidores para empresas falsas e enganando os acionistas com documentos e recibos forjados. Investidores botaram milhões de dólares em uma empresa de aviação que Pearlman dizia ter 47 jatos, mas só tinha um. Os outros 46 eram modelos em miniatura, que ele mandou fotografar de forma a parecerem de verdade.
Segundo investigações, o esquema arrecadou cerca de US$ 300 milhões de mil investidores. Em 2007, Pearlman fugiu dos Estados Unidos e ficou vários meses sumido. Acabou preso em Bali, na Indonésia, foi extraditado para os Estados Unidos e condenado a 25 anos de cadeia.
Outro lado obscuro de sua carreira foi revelado no mesmo ano, quando a revista "Vanity Fair" publicou um artigo em que o acusava de ter assediado sexualmente alguns de seus artistas. As alegações nunca foram provadas, mas vários contratados de Pearlman vieram a público e confirmaram que artistas que aceitavam suas propostas sexuais recebiam tratamento preferencial em suas carreiras.
Rich Cronin, cantor da boy band LFO (abreviação de Lyte Funky Ones), outra criação de Pearlman, disse que o chefe havia tentado seduzi-lo muitas vezes."Ele massageava meus ombros e perguntava: ‘Quer ir à minha casa ver ‘Top Gun’?’".
Nos últimos anos, mesmo trancafiado numa prisão, Lou Pearlman não deixou de lado seu talento para reconhecer belas vozes, e organizou o coral dos detentos do Instituto Correcional Federal de Miami. Estaria pensando em criar a primeira boy band de presos? Este segredo morreu com Lou Pearlman.
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