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Herc, Grandmaster, Bambaataa: os heróis do rap resgatados em "The Get Down"

Gil Scott-Heron, poeta, cantor e compositor norte-americano, em foto do disco "The Revolution Will Not Be Televised" - Reprodução - Reprodução
Scott-Heron, autor de "The Revolution Will Not Be Televised", considerado o primeiro rap
Imagem: Reprodução

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

30/08/2016 06h00

Série musical do momento na Netflix, “The Get Down” ministra uma aula intensiva e romanceada sobre o surgimento do hip-hop nos Estados Unidos.

Criada pelo diretor Baz Luhrmann (o mesmo de "Romeu + Julieta" e "Moulin Rouge"), a trama reconstrói o decadente bairro nova-iorquino Bronx do final dos anos 1970 ao focar em um grupo de adolescentes que se envolvem com diversos movimentos em ebulição por ali.

Os protagonistas são fictícios, mas a série também traz à tona personagens históricos do rap. Dois deles aparecem logo na primeira temporada: Grandmaster Flash, um dos pioneiros dos "scratches", interpretado pelo ator Mamoudou Athie, e o DJ Kool Herc, jamaicano tido como pai da cultura do hip-hop, vivido por Eric D. Hill Jr.

Outros são citados de diversas formas ao longo dos episódios, recheados de referências à disco music, ao grafite e ao breakdance.

Para você não ficar perdido no emaranhado de referências, o UOL reuniu os principais músicos da primeira era do hip-hop resgatados em “The Get Down”. Veja --e, o principal, ouça-- abaixo.

DJ Kool Herc

DJ Kool Herc (à direita) posa ao lado de DJ Tony Tone em 1979 - Joe Conzo/Reprodução - Joe Conzo/Reprodução
DJ Kool Herc (à direita) posa ao lado de DJ Tony Tone em 1979
Imagem: Joe Conzo/Reprodução

Não haveria rap sem Clive Campbell, o DJ Kool Herc. Mais do que mestre das pick-ups, o jamaicano é o pai de toda uma cultura. Foi ele quem promoveu a festa lendária no Bronx de 1973 que é tida como o marco zero do gênero. Também desenvolveu a técnica de usar dois toca-discos para isolar e prolongar a sessão instrumental rítmica das músicas, que na série é ensinada por Grandmaster Flash. Mixando em tempo real álbuns de funk, disco e ritmos latinos, ele simplesmente criou as base do rap e do ofício de DJ. Apesar da grande influência e ao contrário de alguns de seus pupilos, ele jamais gravou um álbum nem saltou para fora do underground.

Grandmaster Flash

Grandmaster Flash, discípulo de Kool Herc e a quem é atribuída a criação do "scratch" - Reprodução - Reprodução
Grandmaster Flash, discípulo de Kool Herc e a quem é atribuída a criação do "scratch"
Imagem: Reprodução

Você provavelmente já ouviu “The Message”, hino do hip-hop oitentista, mas talvez não saiba que seu autor é uma espécie de Jimi Hendrix do rap. Grandmaster Flash ajudou a aperfeiçoar e popularizar a técnica "scratch": ato de movimentar o disco nos sentidos horário e anti-horário, “arranhando” o álbum e adicionando elemento percussivo às músicas. Ele também tinha o hábito de entregar um microfone aos mestres de cerimônia das festas, os famosos MCs, que versavam improvisadamente sobre suas bases. Era o início do freestyle e das batalhas de rimas. Com e sem o Furious Five, Grandmaster gravou álbuns que são verdadeiras bíblias para a grande maioria dos rappers.

 

Afrika Bambaataa

Afrika Bambaataa se apresenta no palco Sunset, ao lado de  Paula Lima e Boss AC (29/9/2011) - Danilo Verpa/Folhapress - Danilo Verpa/Folhapress
DJ Afrika Bambaataa, papa do electro-funk e criador da Nação Universal Zulu
Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Em uma das cenas de “The Get Down”, o personagem Shaolin Fantastic (Shameik Moore) descreve o DJ Afrika Bambaataa como o rei do leste do Bronx. Mais do que isso, ele divide com Kool Herc o nobre título de pai do hip-hop. Além do pioneirismo de usar as pick-ups como instrumento, ele também ajudou a gerir um dos subgêneros mais populares do rap, o electro-funk, que deu esteroides eletrônicos ao balanço de James Brown. Também é célebre por fundar a Nação Universal Zulu, definindo diretrizes do espírito hip-hop: paz, amor, união e diversão, em contraposição à violência de gangues de rua de Nova York. Como produtor ou DJ, lançou vários álbuns e jamais parou de produzir música.

 

Kurtis Blow

Kurtis Blow com Tony Hits - Divulgação - Divulgação
Kurtis Blow, que rompeu barreiras ao levar o rap ao mainstream
Imagem: Divulgação

O rapper Kurtis Blow pode não estar entre os personagens de “The Get Down”, mas sua aura paira por cada um dos seis episódios da série lançados até aqui. Ao lado de Grandmaster Flash e Nas (que dubla a versão rapper do protagonista Ezekiel), organizou uma imersão com o elenco do filme para que os atores pudessem compreender o verdadeiro sentido da antiga cultura hip-hop. Kurtis, que visitou o UOL no ano passado, foi um dos primeiros da cena a assinar com uma grande gravadora e lançar discos. Seu primeiro álbum, "Kurtis Blow" (1980), é tido como um dos divisores de água do gênero por agregar batidas de rock, formato que Beastie Boys, Run-DMC e Public Enemy explorariam no futuro.

 

Gil Scott-Heron

Habilidoso com as palavras, Ezekiel (Justice Smith), o protagonista de “The Get Down”, tem como espelho lírico e espiritual o poeta e soul man Gil Scott-Heron (1949-2011). Apesar de não fazer parte da cena que desembocaria no hip-hop, Scott-Heron cresceu no Bronx e é o grande precursor das rimas sobre bases sonoras. Adepto da palavra falada (em que artistas declamam letras em vez de cantá-las melodicamente), ele compôs aquele que, para muitos, é o primeiro rap da história: a política “The Revolution Will Not Be Televised”, lançada em 1971. Até hoje é um dos artistas mais sampleados no rap. Explorando estéticas e ritmos diversos, lançou discos até pouco antes de morrer, em 2011.