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Aos 50 anos de carreira, Scorpions faz uma blitz de rock and roll em SP

Jotabê Medeiros

Especial para o UOL

02/09/2016 04h04

A veterana banda alemã Scorpions emplacou um novo 7 X 1 na noite brasileira. Seu show de celebração dos 50 anos de carreira (oficialmente, agora são 51 anos) foi uma blitzkrieg de rock and roll na noite passada em um lotado Citibank Hall, em São Paulo, em uma jornada de pura diversão e fé no rock.

Vestindo um colete maior que seu tamanho de alfaiate, no qual estava escrito nas costas Rock & Roll Forever, o vocalista Klaus Meine, 68 anos, é definitivamente uma ave rara do rock, uma voz incomparável, malgrada sua figura mirradinha. É senhor absoluto das baladas, fazendo de canções como Wind of Change (recepcionada com um grande assobio coletivo), Still Loving You (tão conhecida quanto Satisfaction, dos Stones) ou Send me an Angel (a primeira que toda a plateia cantou junto) alguns dos melhores algodões doces do rock.

O grupo sabe de sua superioridade nesse quesito. Tanto que, quando toca Always Somewhere no palco avançado no meio do público, em forma falsamente acústica, o baterista Mikkey Dee (do Motörhead, em cena cobrindo a ausência de James Kotakk, fora por um problema de saúde) se acerca do palquinho e fica se enxugando com as toalhas enquanto os colegas fazem uma linha de frente de letal eficiência, semelhante à de Schweinsteiger, Kroos e Muller no fut.

O guitarrista Rudolf Schenker parece um cartum do Angeli, e é um showman admirável. No início de Blackout, ele entra correndo com uma guitarra que tem uma espécie de escapamento de automóvel soltando fumaça, e o público vai à loucura. O som balançou ao som da sequência de hard rock que o grupo iniciou com Blackout e prosseguiu com Rock’n’roll Band e Dynamite, sem fôlego, para culminar com um solo de bateria de Mikkey Dee, que foi colocado num púlpito, uns três metros acima do resto da banda.

Meine arremessava seus pandeiros para o roadie lá no fundo do palco, bem uns 50 metros de distância, e só errou um arremesso durante duas horas de show. Logo depois de Big City Nights, outra cantada em coro, o grupo se retirou para retornar com o bis. Ao voltarem, Klaus Meine disse:  “A noite passada foi o aniversário do Rudolf. Vamos cantar parabéns para o Rudolf”. O Citibank Hall caprichou, e Schenker revelou que essa é a segunda vez que passa seu aniversário no Brasil.

Matthias Jabs, o outro guitarra, oferece à plateia solos dos mais refinados (ele parece, fisicamente, aquele antigo sambista Luiz Américo, e não se incomoda de fingir figuração para Schenker, que é realmente o dono da cena, com suas micagens de êxtase e catatonia alternadas). Lembram roqueiros de filmes paródicos de rock stars, com bandanas na cabeça e medalhões, mas eles já estavam em ação antes da chegada das paródias.

"There's no one like you, São Paulo!", disse Klaus, antes de cantar No One Like You. Tocaram apenas duas músicas de seu álbum mais recente, Return to Forever, e elas não ficaram descontextualizadas em sua retrospectiva da carreira - no fundo, há uma unidade fundamental de rock e simplicidade em suas canções, e poucas fases foram de baixa em suas cinco décadas de existência.
Na noite dessa quinta, no Citibank Hall, eles trouxeram na bagagem não uma obrigação taxidérmica de mostrar o que fizeram, mas a genuína alegria de quem já ganhou o jogo, mas ainda quer fazer mais uns golzinhos.